terça-feira, 27 de junho de 2017

QUANDO GOSTO DO QUE ALGUÉM ESCREVE...TRANSCREVO.


  DAQUI
Completamente diferente da imagem que ilustra a Crónica citada.


Escreve Afonso Cruz*, na sua Crónica Ilustrada com o título: “Cantar como se rezasse”, na revista Notícias Magazine de domingo passado:


Na revista Ilustração Portuguesa, de janeiro de 1931, podemos ler a seguinte declaração de Alfredo Marceneiro:

  «O meu maior desgosto em 1930 é um desgosto profissional…O gramofone veio industrializar o fado. Que vergonha! O  fado não se deve nem se devia vender. Eu canto o fado como se rezasse. Mas veio o senhor Menano e a Maria Alice, começaram a ganhar dinheiro, e o fado tornou-se mercadoria. Que vergonha! Eu canto porque a minha alma mo ordena. E o que mais ambicionava para 1931 é que fossem proibidas as especulações. “É que eu sou um fadista trágico!»

     Evidentemente, a tecnologia, a gravação, permitiu mais facilmente comercializar o fado, mas não retirou a nenhum fadista a possibilidade de cantar porque a alma lho ordena. E uns, sem prejuízo para alma, podem até ganhar dinheiro com isso, não com o objetivo do lucro, mas como consequência, enquanto outros, pelo contrário, podem pensar no fado como uma profissão ou mera ferramenta para ganhar dinheiro. São opções que não afetam o fado de Marceneiro. O dinheiro que uns recebem não altera a autenticidade dos outros, assim como um escritor comercial não diminui nenhuma das obras de Dostoiévski (que, por sinal, chegou a escrever apenas para ganhar dinheiro, para sobreviver).

     Cremos muitas vezes que o mundo perde significado com a tecnologia, com a globalização (com razão, em alguns casos). Mas ouço muitas vezes o discurso de que já nada tem valor: a viagem perdeu o interesse porque as pessoas levantam voo e pousam do outro lado do mundo, os ilustradores agora fazem tudo em computador, etc. O raciocínio é, além de demasiado conservador, estranho. É como desejar acender um cigarro com pedras de sílex. Nesse tempo é que era.

(…)**

     Ninguém nos impede de sermos mais ou menos medievais no nosso comportamento. A tecnologia não nos retirou essas possibilidades, apenas nos deu mais liberdade – (de escolha, acrescentaria eu)  - . Agora podemos decidir se queremos viajar de burro ou de avião.
     E graças ao gramofone que, segundo Marceneiro, industrializou o fado, é-nos possível hoje em dia ouvi-lo cantar como se rezasse.


* Escritor

** Permiti-me omitir alguns parágrafos que, não alterando nem diminuindo a ideia daquilo que foi escrito, encurta consideravelmente o texto, evitando uma leitura, quiçá, mais cansativa para quem por aqui passar e se dispuser a ler.

 Gostaria de saber a vossa opinião. Acham que o avanço da tecnologia alterou desfavoravelmente a vida das pessoas ou há hoje o livre arbítrio de cada um viver consoante lhe aprouver: Desfrutando dos benefícios e recusando o que lhe parecer negativo…Será que é assim tão fácil a opção?

E relativamente a filhos e netos?...


***~~~~***

29 comentários:

  1. A tecnologia é uma ferramenta. E as ferramentas sempre foram úteis. Se não fossem as ferramentas ainda viveriamos no meio das savanas de África e seriamos apenas e só mais uma das espécies. As ferramentas sempre nos permitiram ir mais além. Seria difícil caçarmos sem elas, seria difícil movimentar coisas grandes sem a roda, seria dificil esfolarmos um animal sem facas de silex,...

    A questão é se dominamos a tecnologia ou nos deixamos dominar por ela. Se não nos deixarmos dominar, tudo é valido :)

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    1. Concordo contigo no tocante à tecnologia ser uma 'ferramenta' inventada pelo homem ( como todas as outras, aliás ), mas todas as ferramentas têm que ser usadas com o profundo conhecimento da sua utilidade e usadas para o bem estar comum...ou próprio, mas sem prejuízo do nosso semelhante. :)

      Obrigada um beijo, Gil. :)

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  2. Como é que uma viagem perde o interesse? Segundo o texto desse escritor? As viagens são mais rápidas, mais confortáveis e o interesse sente-se na mesma. A nossa viagem começa quando fazemos as malas. O mundo deixou de ser um lugar que intimida por ser desconhecido. Tornou-se mais acessível.
    A tecnologia aumenta a eficiência das coisas! : )) Há sempre o aspeto negativo... mas isso depende das pessoas, como estas utilizam as novas tecnologias. Prefiro viver nesta era do que em qualquer outra. Há 30 anos teria que ir à biblioteca escolher e levantar os livros; fazer lá pesquisas. Agora basta um clique!! ))
    Quanto à forma como os filhos e os netos comunicam... é uma questão de hábito. Nunca eles comunicaram com tanta rapidez, tão frequentemente e de forma tão abrangente como agora. Eles continuam a encontrar-se, a conviver como nós o fazíamos. São mais abertos, mais desinibidos, menos constrangidos pelas normas barrocas que existiam “antigamente”. Que sejam honestos, verdadeiros a si próprios, responsáveis e serão cidadãos conscientes.

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    1. :)) Ora lê lá melhor o texto, Catarina!
      O escritor/cronista não afirma que as viagens perdem o interesse por serem mais rápidas; pelo contrário...e a prova é que no final até frisa que, hoje, temos a vantagem de poder optar por 'ir' lentamente ( de burro) ou rapidamente (de avião).
      Poderia contestar - o resto do teu comentário - com alguns pontos de vista meus, mas isso não estaria de acordo com o que entendo ser a ética de boa anfitriã. Se peço a opinião dos leitores e, embora o texto não seja de minha autoria, devo aceitar a sua opinião. Tão simples como isso...:)

      Obrigada e um beijo, Catarina.

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    2. As minhas desculpas ao cronista. Leituras rápidas é no que dá. Não está cá quem falou. :)

      Podes discordar à vontade. És boa anfitriã, sim senhor!

      Estou sentada no meu backyard .... ☺☺☺☺ a apanhar sol (amanhã vai chover), pés em cima de uma cadeira, a segurar o tablet com a mão esquerda e a escrever com o indicador direito. A claridade é tal que não vejo o que estou a escrever. Oiço uns pássaros a cantar aqui perto, alguém que está a cortar a relva, e o ar condicionado de um dos vizinhos a trabalhar. Passei a mão agora mesmo pelo manjerico. Que cheirinho! 😀😀

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    3. :)) Sabes que isso de cheirar o manjerico colocando-lhe a mão e cheirar a dita, é mito? É verdade! Ouvi uma senhora dizer isso na noite de Santo António, lá em Lisboa.- Pode cheirar-se o manjerico, directamente, que não seca nem murcha...
      Vê lá tu o que valem as Lendas...andámos enganadas toda a vida. Mostra lá então o manjerico... Eu, este ano, não tive.:(
      Aqui já chove!

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  3. Bom eu não sei lidar muito bem com as novas tecnologias. Porém também não estou contra elas, Sou velha sim , mas não a do Restelo. Penso que têm muitos prós e alguns contras. Os prós toda a gente conhece. Com elas a nossa vida está muito mais facilitada. Os contra? Vejamos, já pensaram que quanto mais a tecnologia avança, menos o trabalho humano é necessário? Logo, menos emprego. Menos futuro nas reformas. Computadores robôs e outros não descontam para a segurança social. Imagine que cai um meteorito na terra. Não acaba o mundo mas destrói todos os sistemas elétricos e eletrônicos. A humanidade voltava para a Idade Média? Alguém sabe hoje fazer alguma coisa que não esteja em programa computorizado?
    Falando de filhos e netos. Um dia quando o filho tinha seis anos, levei-o ao sítio onde nasci. Falei-lhe de como era a vida naquela altura. Um dia passado quase um mês, ele diz-me.
    "Mãe conta-me outra vez aquela história de quando eras menina."
    Ora bem para ele o que lhe contei, era uma história como a do Peter Pan ou do Capitão Gancho.
    Ele que tinha rádio, TV, frigorífico, e todas as comodidades, como ia acreditar que era verdade, que noutros tempos, a mãe não tivesse nem sequer água em casa?
    Quanto à neta parece que já nasceu com um chip na cabeça. Aos três anos já pegava no telemóvel do pai e ligava para os tios ou avós.
    Um abraço

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    1. Grata pelo seu elucidativo comentário sobre as disparidades entre o «hoje» e o «ontem», Amiga Elvira.
      Parecendo tão simples os temas que foca, no fundo tocou num de extrema importância.
      Se acaso, um dia, houvesse uma tragédia global, que eliminasse muita, ou toda, a tecnologia conquistada pelo homem, estariam preparadas as gerações mais jovens para sobreviver sem a comodidade dos automatismos? Ou melhor, estaríamos todos nós, preparados para um regresso ao passado?
      O tempo das utopias, deixou de existir. Pelo que de trágico e incrível, vai acontecendo pelo mundo - e até bem perto de nós - tudo é possível.

      Obrigada e um abraço, Elvira.

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  4. Querida amiga quando é bem usada acho que a tecnologia nos ajuda e muito ,mas como tudo existe o outro lado negro que faz o contrário destrói ,porque na verdade o culpado é o ser humano que muitas vezes não consegue usar as ferramentas para fazer o bem e auto se destrói ,pois certamente evoluir é saber ,é usar e ter consciência e a sabedoria dos seus próprios limites ,beijinhos

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    1. Mas, infelizmente, amigo Emanuel, cada vez mais o homem usa o cérebro para criar ferramentas nocivas e destruidoras.

      Obrigada e um beijinho.

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  5. A energia nuclear é boa se utilizada para fins pacíficos
    e controlados
    A questão é quem os utiliza e para quê
    Um dia seremos de novo crianças com outros suportes cientifícos
    para bem da Humanidade
    sem muros nem medos
    Bj

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    1. O mundo precisa mesmo de uma viragem, Eufrázio.
      Mas tenho medo, muito medo...

      Um beijinho e obrigada, Poeta.

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  6. Janita penso que depende da maneira como se usa a tecnologia, devemos ensinar outras coisas que não a tecnologia para os filhos e netos terem possibilidade de escolha, porque se não conhecerem outra coisa, por exemplo a ligação à natureza, a contemplação da beleza que existe em nosso redor, a vida das pessoas, etc. então não poderão escolher e só terão as ferramentas, mas sem saber que utilização lhes poderão dar, ou seja utilização diversificada !
    beijinho Janita
    Angela

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    1. Claro, querida Ângela.
      Tudo na vida tem a outra face negra, ou menos clara. Tudo depende do uso que damos às coisas. É como a rosa; tanto pode servir para nos deslumbramos com a sua cor e perfume, como para nos picarmos nos seus espinhos.

      Beijinhos e obrigada, Ângela.

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  7. Revejo-me nos comentários anteriores. A curiosidade do Homem não parará, e ainda bem. Sou capaz de compreender o Marceneiro (à época), mas, como alguém diz acima, se não fosse o gramofone não ouviríamos, hoje, a sua voz. Caminhamos para uma sociedade menos humanizada e menos solidária? Talvez, mas o ser humano acaba por dar a volta, creio eu.

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    1. E a curiosidade da Mulher? Parou?
      : ))))
      Catarina

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    2. Estamos então todos de acordo, José.
      A curiosidade e o desejo de explorar o desconhecido, é que nos fez já ir à Lua. Mas, cá na Terra, cada vez a tecnologia serve para nos irmos destruindo. Muitas vezes até pela inoperância desses fabulosos meios tecnológicos...

      José, apresento-lhe a minha amiga Catarina. Aquela senhora de quem lhe falei, sim, a que vive em Toronto!! :)
      É uma brincalhona. Sabe que quando se escreve 'Homem' ( com H maiúsculo ) estamos a englobar toda a Humanidade, mas resolveu meter-se consigo. :)))

      Um beijinho e obrigada, José.

      Um beijinho, Catá!!:)

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  8. Este comentário foi removido pelo autor.

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    1. Não faz mal...já tentei apagar, mas se o fizer apagarei as respostas. :)

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  9. Mana...
    Eu cá não sou curiosa.
    Porta-moedas lá cu mundo ande de canelas pó ar! Eu quero é ter o dedo pronto a escrever
    Mana...
    Nunca mais me visitaste! Tou zangada!
    Prontes
    Kis :=}

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    1. Olha Mana...isso do porta-moedas, do cu e das canelas pró ar...não percebi patavina. Andas outra vez com a língua enrolada? Valha-te Deus, Mana!
      Take it easy, moça.
      Logo à noitinha irei ter contigo para falarmos dos nossos trapinhos.
      Tamém tens andado sempre na gandaia.
      Nunca estás em casa quando te bato à porta.
      Não amues que ficas feia.

      Beijinhos, muitos abracinhos.


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  10. Por acaso escrevo hoje acerca de problemas relacionados com o avanço da tecnologia.
    Um mal necessário, nem mais nem menos que isso.
    Beijinhos

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    1. Mais logo passarei por lá para ler, Pedro.

      Beijinhos.

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  11. Sempre há e haverá reações deste género face a novos dispositivos tecnológicos. Sempre que surge algo novo, alvitra-se a morte do antigo, esse sim, é que era bom. Depois vai-se ver que, em certos casos, antigo e novo até podem coexisitir, cumprir ambos a sua função e ser usados em função do gosto de cada um. Penso nos discos e nos livros, por exemplo. :)

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    1. Isso também eu penso, sem tirar nem pôr, Luísa.
      Podemos ouvir CDs , mas nada nos impede de colocarmos os velhos gira-discos a tocar os nossos LP e singles dos velhos tempos. Já quanto aos livros, não aderi ainda aos e-books o que não quer dizer que um dia isso não aconteça.

      Obrigada Luísa, um beijo. :)

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  12. Gostei do texto e vou pela segunda...

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    1. Separar o trigo do joio, com a vantagem do trigo nos chegar já em forma de farinha, não é Gábi? Inteligente opção. :)

      Um beijinho

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