quinta-feira, 3 de fevereiro de 2011

LOUCURA CONSCIENTE....

Imagem recolhida na NET
Álvaro de Campos:
Um dos heterónimos de Fernando Pessoa
A característica predominante nos seus poemas, é a angústia existencial, porque está relacionada com o tédio e a náusea.
Essa angústia é provocada pela dor de ser lúcido e possuído de loucura, mas consciente dessa loucura, o que intensifica o seu sofrimento.
Outro factor que contribui para essa angústia é o facto de ele se considerar um inútil, um “vaso vazio inútil” que se partiu em mil pedaços:
“Sou um espalhamento de cacos sobre um capacho por sacudir”.

A angústia provocou-lhe um cansaço existencial devido às suas ambições não concretizadas na medida desejada: impossibilidade de anulação de todos os limites, sensações inúteis, paixões violentas por coisa nenhuma, o viver excessivo, o correr cada momento no limite, o ter querido o finito e o possível, mas ter-se desiludido:
“O que há em mim é sobretudo cansaço”.

Concluindo, Álvaro de Campos sente um cansaço de tudo, não especialmente e concretamente de coisa alguma...
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"POEMA EM LINHA RECTA"
Álvaro de Campos


Nunca conheci quem tivesse levado pancada.
Todos os meus conhecidos têm sido campeões em tudo.
E eu, tantas vezes reles, tantas vezes porco, tantas vezes vil
Eu tantas vezes irresponsavelmente parasita
Indesculpavelmente sujo,
Eu, que tantas vezes não tenho tido paciência para tomar banho
Eu, que tantas vezes tenho sido ridículo, absurdo,
Que tenho enrolado os pés publicamente nos tapetes das etiquetas
Que tenho sido grotesco, mesquinho, submisso e arrogante,
Que tenho sofrido enxovalhos e calado,
Que quando não tenho calado, tenho sido mais ridículo ainda.
Eu, que tenho sido cómico às criadas de hotel
Eu, que tenho sentido o piscar de olhos dos moços de fretes,
Eu, que tenho feito vergonhas financeiras
pedido emprestado sem pagar.
Eu, que, quando a hora do soco surgiu, me tenho agachado
Eu, que tenho sofrido a angústia das pequenas coisas ridículas.
Toda a gente que eu conheço e que fala comigo
Nunca teve um acto ridículo, nunca sofreu enxovalho.
Nunca foi senão príncipe - todos eles príncipes - na vida...
Quem me dera ouvir de alguém a voz humana
Que confessasse não um pecado, mas uma infâmia
Que contasse, não uma violência, mas uma cobardia!
Não, são todos o Ideal, se os oiço e me falam.
Quem há neste largo mundo que me confesse que uma vez foi vil?
Ó príncipes, meus irmãos.
Arre, estou farto de semideuses!
Onde é que há gente no mundo?
Então sou só eu que sou vil e erróneo nesta Terra?

Poderão as mulheres não os terem amado.
Podem ter sido traídos - mas ridículos nunca!
E eu, que tenho sido ridículo sem ter sido traído.
Eu, que tenho sido vil, literalmente vil.
Vil no sentido mesquinho e infame da vileza.

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21 comentários:

  1. Boa noite Janita,
    este é só mais um dos grandes poemas de Fernando Pessoa.

    Bela escolha!

    Beijinho amigo,
    Ana Martins

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  2. Gran poema, bendita locura que es capaz de de estas magistrales letras saberlas enlazar para deleite del que las quiera leer y gozar.

    Saludos

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  3. Posso discordar consigo
    Um bocadinho
    muito pequinininho
    do tamanho do nosso dedo mindinho?
    Como explicar então a ironia:

    "Ó príncipes, meus irmãos.
    Arre, estou farto de semideuses!Onde é que há gente no mundo? Então sou só eu que sou vil e erróneo nesta Terra?"

    Julgo que há uma linha coerente da personalidade de Alvaro de Campos que se aproxima da sua leitur e daquilo que escreveu. Contudo, acho-a redutora pois ressalta da poesia de AC (no meu entendimento) um tipo de amargura que não é comum aos "cansados da vida". O poema que escolheu para a tese parece dar-lhe razão que logo é parcialmente contrariada pelo Poema em Linha Recta. No fim de tudo...é tão bom lê-lo!

    Beijo

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  4. Um místico disfarçado de poeta,Sempre emociono me ao ler seus poemas.
    abraços querida janita.

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  5. Hola cómo estás!!

    Llegue a este sitio maravilloso para invitarte a recoger un premio que te espera en mi salón de premios.
    (premiosdeldelrincon.blogspot.com/)
    Ya que lo mereces por tu importante labor y esfuerzos.

    Te espero y te dejo mis saludos cordiales!!

    Patricia Palleres
    (entrelosrincones.blogspot.com/)

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  6. Se na altura existisse o prozac era um escritor que se tinha perdido...

    Beijocas!

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  7. Amiga Janita!
    Há muito pouca gente com esta lucidez e coragem de admitir claramente quem e como se sente ser.

    Este é o melhor auto-retrato em forma de poesia que conheço.

    Parabéns pela escolha.
    Beijinhos

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  8. O relato de um homem comum (se é que se pode chamar comum a FP)que se desnuda perante outros homens comuns que se ocultam em véus mil...

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  9. Olá querida amiga Janita!

    O Fernando pessoa, teve a coragem de se desnudar, perante as pessoas, o que fez dele um homem ainda maior.
    Os grandes homens, não têm mede de dizer as verdades, mesmo que elas lhe façam doer bem no fundo da sua alma.
    A lucidez faz-nos ver coisas que nos fazem sofrer, mas sofrer por não a ter, é bem pior ainda.
    Parabéns pela homenagem, é sempre um prazer ler os seus textos.

    Um beijinho grande para si,
    com o meu carinho,
    José.

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  10. Afinal o poema que escolheu para a tese era seu. Sem querer fiz-lhe um grande elogio, viu? Mas há, apesar do equivoco, a conclusão que se mantém: escreveu um poema deprimente enquanto a poesia de Álvaro de Campos é bem aquela "depressão que nos anima". (Existe uma canção dos A NAIFA que é bem elucidativa desse estado de espirito... tão português)

    Beijo

    (espero severa crítica ao episódio de "...Meu Navegar". Espero. Ouviu?)

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  11. O nosso Fernando era um Médium. Pertenceu a diversas seitas nunca encontrando a paz de espirito em nenhuma..

    Fez-me pena ler a biografia dele já em tempos, mas que ser sofrido nos seus poemas!

    Um beijinho da moça laura...ehhhh quem me pôs a alcunha? o Edgar não foi? ficou a moça...
    laura

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  12. "Arre, estou farto de semi-deuses..."

    Meu Deus Janita...que homenagem mais bela!
    Sabe que eu também me farto, ás vezes...?
    TERNURASSSSSS

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  13. Mi querida Janita, cuando puedas puedes pasarte por mi blog a partir de las 12 horas de hoy viernes hora de España, para llevarte el premio de los 500 amigos seguidores.
    Con ternura
    Sor.Cecilia

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  14. Já está no I-Pad. Pode passar a multa eheheh!

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  15. Todos los grandes personajes de la historia querida Janita...Fueron tachados de locos o de vasos vacios inútiles.
    Fernando Passoa...Un gran literato y gran poeta de nuestra época...Ni es un vaso vacio ni un loco...Simplemente es un ser especial...Y su sensibilidad desborda cualquier imaginación vulgar...Besitos y feliz fin de semana.

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  16. Vou por o relógi a contar os minutos, mas as horas passam mais depressa se não esquecer que ainda faltam dias pata o FMF contar o conto ...ahhhhh nem te rias, prepara a fraldinha!

    Um bom Domingo em paz, alegria e amor.

    laura

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  17. Olá querida amiga Janita!

    Passei para lhe desejar uma boa noite, E dizer-lhe que aimda estou a rir do KATON! imagine que era um KATON! dolada, o infeito que isso fazia.

    Que tenha um bom inicio de semana,
    e tudo de bom.

    Beijinhos para si, com o meu carinho

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  18. Muito lindo e gosto das tuas bem apuradas escolhas,Janita!

    Uma semana linda!beijos,chica

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  19. Janita: Tudo se pode dizer de Fernando Pessoa, mas eu só digo grande poeta Portugues.
    beijos
    Santa Cruz

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  20. Fernando Passoa bien se merecía un sitio en tú blog, por su trayectoria poética y literaria.
    Un abrazo.

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  21. Excelente escolha para nos apresentar.

    Bjs e boa semana!!

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