segunda-feira, 25 de julho de 2011

DO BAÚ DOS MEUS AFECTOS...

Em resposta ao desafio lançado pelo Carlos Barbosa Oliveira  do CR, fiz esta repescagem de um texto que escrevi, no início do meu blog, e dediquei ao meu neto João, em virtude da grande paixão que ele sentia e sente pelo mar. 



A Praia

O João é um menino traquina e irrequieto como, aliás, são todas as crianças. Mas este menino tinha um sonho. Um sonho que crescia no seu peito, à medida que ele crescia.
Como nascera numa pequena aldeia no interior de Trás-os-Montes, e nunca de lá tinha saído, o João não conhecia o mar. Conhecer o mar! Esse era o grande sonho do João.
- Ó mãe – perguntava ele - Quando é que vamos ao Porto ver a minha avó?
-Ai meu filho, as vezes que tu já me fizeste essa pergunta - respondia a mãe já cansada de o ouvir - No próximo fim - de - semana, se Deus quiser, vamos.
-E podemos ir à praia, mãe? - Tornou o João não cabendo em si de contente - Podemos?
-Mas é claro - retorquiu a mãe pacientemente e com ternura na voz - Pois se tu não tens falado noutra coisa há uma série de dias!
Depois de feita a viagem e se terem instalado em casa da avó do João, no Domingo de manhã bem cedinho, rumaram à Foz do Douro. Quando lá chegaram, o João mal deu tempo à madrinha de estacionar o carro junto ao paredão. Saltou para o passeio e quedou-se, extasiado, a olhar.
Que bonitas eram aquelas barracas - pensava ele - Todas seguidinhas umas às outras e tão coloridas, com aquele pano às riscas largas, vermelhas e brancas e outras mais estreitinhas atrás, brancas e verdes.
-João, não fiques aí especado a olhar – disse-lhe a avó. Vem buscar a tua mochila, que já vamos todos para a praia.
Desceram os degraus do passeio que davam acesso à Praia da Luz e ao chegar ao areal, o João não se conteve e correu em direcção ao mar. Mas não se aproximou demais, não, que aquela imensidão de água metia respeito.
Nesse dia a maré estava calma, e as ondas vinham morrer, de mansinho, aos pés do menino deixando-os branquinhos de espuma.
-Então meu querido? - Era a voz da mãe que chegou sem que ele se apercebesse - Estás contente?
-Muito mãezinha, muito!
E o João corria, para lá e para cá, batia com os pés na água e ria de felicidade. Durante o dia fez desenhos na areia, chapinhou na água, jogou à bola e o tempo foi passando. Até que chegou a hora de regressar a casa. Enquanto a mãe e a avó guardavam as toalhas e fechavam o guarda-sol, o menino sentado num banco em frente ao mar, vendo as ondas desfazerem-se em espuma de encontro às rochas, descobriu o que iria ser quando crescesse. Fixando o olhar, lá longe, na linha do horizonte, o João disse baixinho:
-Quando for grande, vou ser marinheiro!

21 comentários:

  1. Os sonhos fazem mesmo parte de todo o imaginário infantil. Eu queria ser médico. Afinal foi a minha irmã quem acabou por concretizar uma aspiração que me pertencia. O mais engraçado é que ela queria ser piloto de aviões. E para cúmulo das coincidências fui eu quem acabou por vir parar à aviação civil, embora não seja piloto. eheheheheheh.

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  2. Janita Amiga,
    Eu, na minha infância em Trás-os-Montes, como o João, também sonhava com a praia, que nunca tinha visto.
    Fomos [eu e o meu irmão] finalmente passar um mês de praia com os meus pais a Matosinhos.
    Utilizamos vários meios de transporte: carro de bois e a cavalo, camioneta da carreira, e finalmente, naestação do Tua o combóio até à estação de S. Bento, no Porto.
    Nesse mês de praia, peripécias e escaldões não faltaram...
    Era o banheiro quem nos dava banho, com valentes mergulhos, para nossa aflição. As barracas eram alugadas, bem como os fatos de banho...
    Como o João, descobri querer ser também marinheiro. Os meus pais compraram-me um fato à marujo.
    [Está tudo no meu baú de recordações, que se tiver oportunidade publicarei um dia para gáudio dos/as amigos/as].
    Um abraço para si e outro para o João.
    Jorge

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  3. Janita
    Uma bela estória que demonstra que mesmo sem conhecermos o mar, nascemos com vontade de o ver.
    Não diz a idade do João nessa altura, mas provavelmente sería menor que a minha, quando vi o mar pela primeira vez, apesar de estar a 10 Km.
    Excelente.
    Abraço

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  4. Esses são os sonhos bonitos de criança, que raramente se concretizam,,, mas ainda assim são sonhos que vale a pena serem vividos!

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  5. Um belo relato, Janita. Foi na Praia da Luz que nasceu a minha mãe...
    Obrigado pela tua participação no desafio
    Beijo

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  6. Janita

    Encantador, o teu relato.

    Nalgumas ocasiões, muitas, mesmo, dou comigo a pensar como as crianças do interior não devem fazer ideia do que é o Mar.
    Quando vejo autocarros repletos de crianças, daqui dos Jardins e Escolas dos arredores, por cá nas Praias de V. N. de Gaia, sinto prazer e gozo; sobra-me pena que estes sejam uma gota neste Oceano.
    E Portugal é um País de Mar!

    Parabéns

    Beijo

    SOL da Esteva
    http://acordarsonhando.blogspot.com/

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  7. O mar é maravilhoso, misterioso, traz sonhos a quem por ele passar e conhecer o mar traz mais brilho nos olhos, é maravilhoso, beijos e boa semana!

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  8. querida Janita,

    todos nós estivemos tanto tempo dentro de água até nascer-mos, que me parece indossiciavel essa atracção pelo água, pelo mar imenso de tantos outros encantos.

    imagino a admiração e respeito que uma massa de água tão grande, terá causado na sua primeira impressão.

    ainda assim ficou com vontade de como marinheiro se aventurar, para além do que a vista alcança.

    marinheiro ou não, está nele o espírito para a descoberta e aventura.

    beijo e kandandos meus.

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  9. Tens de o levar um dia ao Guincho, para ele ver o outro lado do mar. Se continuar com o sonho, mais vale comprares desde logo a farda!

    Beijocas!

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  10. Janita, bela história, ainda para mais, verídica :)

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  11. Si los en su inocente imaginación no tiene fronteras son infinitos los sueños de esos niños que algunos los convierten en realidades.

    Muy bonito el relato dedicado a tú nieto.

    Saludos

    P.D. Si estoy de vacaciones junto al mar

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  12. E um sonho de muita gente poder uma vez na vida ver o mar sentir a grandiosidade,da sua profundidade envolta de misterios numa imensidao que nao tem fim ,bjs amiga

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  13. Olá Janita!

    Do todo o conto, retive a imagem do rosto do João. Consegui vê-la.
    Sabes que todos os anos os meus pais alugavam uma casa na rua Nossa Senhora da Luz e a nossa praia era a mesma, exactamente em frente à saída da rua com o mesmo nome da praia.
    Tem escadas em pedra e em zig-zag.
    Na baixa mar a parai tem imensas rochas e lá se pescava muito polvo.
    Nós às 8 da manhã já estávamos os quatro na praia, untados com manteiga de cacau em barra.

    Belos tempos esses...

    Não sei como se pode viver longe do mar. Juro-te que sei e vi o olhar do teu neto, porque o mesmo olhar de espanto e euforia vi, há 3 anos quando o Pedro trouxe com ele a namorada que já tinha um filho.
    Um menino de 7 anos que nunca tinha visto o mar.

    Beijinhos

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  14. ai como é bom ser criança, não é, Janita?

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  15. ÀS VEZES - todos os meninos sonharam um dia. O Joãozinho representa aqui o culminar da descoberta.
    Só as crianças conseguem ter desejos que não colidem com ninguém.
    Gosto das estórias simples de simples gentes.
    Um beijinho para ti Janita

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  16. Querida amiga Janita!
    Estou ainda aqui a rir da Fernanda, dizer que se besuntava com manteiga de cacau em barra, assim ficava logo bronzeada.
    O João quer vir a ser marinheiro, pois que comece a lutar por isso já agora, para ser um marinheiro com umas risquinhas amarelas nos ombros e nas mangas da sua farda, pois se tiver só uma ancora desenhada, nos ombros da sua farda, tornasse demasiada pesada.
    Eu ainda hoje é das fardas que eu mais gosto, e gosto muito do mar, mas se tiver ao pé de um rio ou de uma barragem já estou bem.
    E tenho tido a sorte de estar sempre perto de água, até na Guiné onde passei dois anos o Quartel era junto a um rio.

    Comecei a chapinhar logo de pequenino nos pegos da minha Ribeira.

    Nasci junto a uma Ribeira
    morei perto do Rio Arado
    agora moro em Quarteira
    bem juntinho ao mar salgado

    Uma continência ao pequeno marinheiro João, e um grande beijinho para si.
    José.

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  17. Um soberbo e extraordinário texto narrado com pureza e encanto.
    Venho retribuir a ternura e carinho comigo.
    Escreve com magia que transcende. Parabéns.
    Abraço amigo de respeito e grandiosa estima pelo ser humano fabuloso que é.

    pena

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  18. OLA, Janita, tudo bem!!!obrigada pela visita ao meu blog, sempre que quizer aparecer serás bem vinda. vc disse bem, podemos encontrar amizades maravilhosa atraves destes novos recursos que a tecnologia nos disponibilza. deixo aqui meu carinho pra vc. otma tarde.bjim

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  19. Janita amiga:
    Lembranças que perduram.
    Também adoro o mar...talvez por isso casei com um marinheiro :)
    Excelente participação.

    beijinhos

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  20. Espero que esteja a ter umas excelentes férias, Janita
    Quando regressar, passe lá pelo CR, porque tem uma lembrancinha para si.

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