Coração sem Imagens
Deito fora as imagens.
Sem ti, para que me servem
as imagens?
Preciso habituar-me
a substituir-te
pelo vento,
que está em qualquer parte
e cuja direcção
é igualmente passageira
e verídica.
Preciso habituar-me ao eco dos teus passos
numa casa deserta,
ao trémulo vigor de todos os teus gestos
invisíveis,
à canção que tu cantas e que mais ninguém ouve
a não ser eu.
Serei feliz sem as imagens.
As imagens não dão
felicidade a ninguém.
Era mais difícil perder-te,
e, no entanto, perdi-te.
Era mais difícil inventar-te,
e eu te inventei.
Posso passar sem as imagens
assim como posso
passar sem ti.
E hei-de ser feliz ainda que
isso não seja ser feliz.
Sem ti, para que me servem
as imagens?
Preciso habituar-me
a substituir-te
pelo vento,
que está em qualquer parte
e cuja direcção
é igualmente passageira
e verídica.
Preciso habituar-me ao eco dos teus passos
numa casa deserta,
ao trémulo vigor de todos os teus gestos
invisíveis,
à canção que tu cantas e que mais ninguém ouve
a não ser eu.
Serei feliz sem as imagens.
As imagens não dão
felicidade a ninguém.
Era mais difícil perder-te,
e, no entanto, perdi-te.
Era mais difícil inventar-te,
e eu te inventei.
Posso passar sem as imagens
assim como posso
passar sem ti.
E hei-de ser feliz ainda que
isso não seja ser feliz.
Raúl de Carvalho, in “Obras de Raúl de Carvalho"
Gostei (não conhecia).
ResponderEliminarum beijinho
Gábi
Não sendo, este, um poema dramático e soturno, é um poema triste, porque fala de um vazio pela perda de alguém, que nem as fotos conseguem preencher!
EliminarUm beijinho, Gábi.
Não tenho palavras! Uma lágrima caiu.
ResponderEliminarBeijinho e uma flor
Querida Flor.
EliminarCompreendo-te bem, minha amiga, assim como tu entendeste bem o alcance do poema.
Um grande beijinho!
Sei o que isso é!
ResponderEliminarAbraço
Abraço, Rosa dos Ventos!
EliminarSorry!
Beijinho.
Muito bonito! Adoro poemas de amor e desamor. Adoro!
ResponderEliminarBeijinho.
Olá, Graça!
EliminarUns mais, outros menos, no fundo todos temos algo em comum com a poesia, já que ela reflecte um pouco a vida de todos.
Amores, desamores, perdas, desenganos, ilusão e sonho!
Beijinho.
Um poeta mente sempre
ResponderEliminaras imagens são a prova de um presente
é impossível dar-se a imagem de um ausente
Quanto ao coração
pondo a mão
a gente sente
Amigo Rogério.
EliminarO poeta só é fingidor quando, ao escrever, finge que é dor o sofrimento que sente.
Acha impossível dar-se a imagem de um ausente? Ora pense lá bem... e depois diga-me se o Raúl mente!
Um abraço amigo!
Eu não passo sem imagens. Elas andam sempre às voltas na minha cabeça. :)
ResponderEliminarÉ verdade, Luísa! :)
EliminarEssas tuas são imprescindíveis!
Mas há outras imagens, que não podendo preencher um vazio que ficou, ficam melhor longe da vista. Assim o coração sofre menos!
Beijo.
Raúl de Carvalho foi considerado um dos 100 melhores poetas portugueses do século XX . Este belíssimo poema de amor que nos ofereces amiga Janita prova isso mesmo.
ResponderEliminar"E hei-de ser feliz ainda que
isso não seja ser feliz."
Como eu o entendo!
beijinho e boa semana minha amiga
Fê
Tal como a Fadista do post anterior, também, este poeta que deixou uma vasta obra é pouco conhecido. Porque será que falamos sempre nos mesmos?
EliminarEu sei que entendes esse tipo de felicidade, amiga Fê! Embora noutro contexto, sentes um 'contentamento descontente', verdade?
Beijinho grande e boa semana, minha querida amiga!
Vai plantar salsa, ficas com o problema resolvido!
ResponderEliminarProvoca uma certa tristeza.
ResponderEliminarProvoca sim, Catarina! Muita tristeza, muta!
EliminarBeijinhos.
Como a Catarina, acho o poema algo triste.
ResponderEliminarBeijinhos e votos de boa semana
Há coisas que têm de parecer o são, Pedro!
EliminarPara compensar, hoje já ri, e muito, no seu cantinho! :)
Beijinho e excelente semana, meu amigo!
Lindo poema, Janita!
ResponderEliminarSinceramente, desconhecia...
Beijo*
Paula
Quiçá a sua beleza esteja na crueza da verdade que nos revela.
EliminarUm beijo e obrigada, Paula!
Boa partilha
ResponderEliminarGosto de partilhar o que gosto, Mar!
EliminarEmbora, nem sempre todos gostem.
Um abraço amigo!
Mais um poeta alentejano.
ResponderEliminarHá que o considere como um dos melhores poeas do Seculo XX, embora muito poucos o conheçam.
Aplaudo e admiro a escolha e o belo poema que nos deixa.
Um abraço
É verdade, Manuel. O Alentejo sempre foi fértil de gente com alma sensível.
EliminarRaúl de Carvalho nasceu muito perto da terra onde nasci, e , curiosamente, faleceu no HSJ, aqui, no Porto.
Quem sabe...
Obrigada, pelas suas sempre estimulantes palavras de apoio, Manuel!
Um abraço amigo!
Lindo mas imagens fazem parte de nossa vida.
ResponderEliminarBeijo Lisette,
Fazem parte da nossa vida e perpetuam lembranças, Lisette.
EliminarO poeta acreditava que, quando se pode viver sem as pessoas, também se pode viver sem a sua imagem. São ideias e cada um tem as suas.
Beijinhos!
Olá, Janita!
ResponderEliminarNão há forma de lidar bem com a perda de alguém de quem se goste muito.Por muitas voltas que se dê ao texto; a este, ou a outro.Muito bem escrito, num hábil jogo de palavras que aparentemente se contradizem - e traduzem o sentir de alguém cujo pensamento reflecte essa perda.Alguém à deriva...
É um belo texto!
Beijinhos amigos e boa semana.E obrigado pelo desejo de melhoras.
Vitor
Olá, Vitor!
EliminarComo sempre tens uma visão muito clara da ideia de quem escreve, e consegues interpretá-la o melhor possível.
Não sendo, de todo, fácil, aceitar a perda de quem se ama, provavelmente, as imagens são também dolorosas.
Obrigada, Vitor e que te restabeleças rapidamente, é o meu sincero desejo.
Beijinhos com muita amizade.
Janita