Dobrada à Moda do Porto
Um dia, num restaurante, fora do espaço e do tempo,
Serviram-me o amor como dobrada fria.
Disse delicadamente ao missionário da cozinha
Que a preferia quente,
Que a dobrada (e era à moda do Porto) nunca se come fria.
Impacientaram-se comigo.
Nunca se pode ter razão, nem num restaurante.
Não comi, não pedi outra coisa, paguei a conta,
E vim passear para toda a rua.
Serviram-me o amor como dobrada fria.
Disse delicadamente ao missionário da cozinha
Que a preferia quente,
Que a dobrada (e era à moda do Porto) nunca se come fria.
Impacientaram-se comigo.
Nunca se pode ter razão, nem num restaurante.
Não comi, não pedi outra coisa, paguei a conta,
E vim passear para toda a rua.
Quem sabe o que isto quer dizer?
Eu não sei, e foi comigo...
(Sei muito bem que na infância de toda a gente houve um jardim,
Particular ou público, ou do vizinho.
Sei muito bem que brincarmos era o dono dele.
E que a tristeza é de hoje).
Sei isso muitas vezes,
Mas, se eu pedi amor, porque é que me trouxeram
Dobrada à moda do Porto fria?
Não é prato que se possa comer frio,
Mas trouxeram-mo frio.
Não me queixei, mas estava frio,
Nunca se pode comer frio, mas veio frio.
Álvaro de Campos, in "Poemas"
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Ora aí está algo que só o Álvaro de Campos podia escrever e de que se podia lembrar.
ResponderEliminarBestial!
Bem, lá teremos que perguntar ao Álvaro de campos o que se passou....:)
ResponderEliminarMas digo-te um segredo: eu nem fria nem quente a pelar. Acertaste no único prato que não gosto. Mas se é tradição (pelo que conheço é) tem de ser servida quente.
E amor é com amor que se serve...
Beijinho
mais um rural a vir dos campos pra lisboa, antes lá na terreola dele chamava-se álvaro relvas o primo dele o chamem-me álvaro é ministre da economia
ResponderEliminar...e há cargos do carago para incultos que desafinam nas grandoleiras!! num há
é por saberem desafinar que arranjam tais cargos
e in cultos andamos tottos tuos
dobrada está out agora é mais cachaço de cavalo
ResponderEliminardobrada fria inda por cima com amor ...demodé
iste sunt times of hate e miudezas de galinha
Grande Pessoa, grande Álvaro de Campos !
ResponderEliminarMais uma vez, o poeta “finge” falar de tripas (dobrada) quentes, quando se quer referir com mágoa, ao amor (bem quente e na altura própria) mal “servido” ou mal amado, que conduz à fria solidão, à tristeza e à desilusão !
Todos nós temos fundamentadas esperanças de viver um verdadeiro amor, mas se há uma grande desilusão e se ela tem grande impacto, ou se repete, pode influenciar a nossa capacidade futura de amar, tal como deixar de gostar de dobrada por mais que uma vez nos ser servida fria !
Quem não gosta de um amor (quente e não frio) ?... é tal como não gostar de tripas quentes se se gosta delas verdadeiramente e nos são servidas frias !
Beijinho, Janita ! :))
.
Olá, Janita!
ResponderEliminarComparação muita apropriada, esta: já que cada um à sua maneira são alimento e sustento.E definitivamente melhores, quando servidos quente...
Beijinhos amigos
Vitor
Não conhecia e gostei.
ResponderEliminarO Álvaro ( o outro) tinha toda a razão. Ele pediu amor. Mal por mal que tivessem feito confusão com vingança. Essa é que se deve servir fria. Nem o amor, nem a dobrada.
ResponderEliminarBeijoca
Adoro dobrada, não só à moda do Porto, mas também na "panela no forno" que deves conhecer.
ResponderEliminarE sempre quentinha.
Quanto ao resto, penso que o tempo tudo resolverá, pois a Amizade é algo que não podemos desbaratar, já que é preciosa.