domingo, 9 de março de 2014

Desencontros

Imagem da Net.


Só quem procura sabe como há dias

de imensa paz deserta; pelas ruas
a luz perpassa dividida em duas:
a luz que pousa nas paredes frias,

outra que oscila desenhando estrias
nos corpos ascendentes como luas
suspensas, vagas, deslizantes, nuas,
alheias, recortadas e sombrias.

 
E nada coexiste. Nenhum gesto
a um gesto corresponde; olhar nenhum
perfura a placidez, como de incesto,

de procurar em vão; em vão desponta
a solidão sem fim, sem nome algum -
- que mesmo o que se encontra não se encontra.

Jorge de Sena

 

12 comentários:

  1. Olá Janita,

    Gostei muito do poema e da imagem que o acompanha, muito bem conseguido, parabéns.
    Já vim aqui várias vezes ler este poema, vou tentar escrever o que me fez sentir, não sou grande coisa com as palavras, mas cá vai:
    Solidão. De si e dos outros. Uma Solidão que absorve tudo, infinita e sem nome capaz de desintegrar quem a sente.

    Abraço grande

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    1. Olá, Argos!

      E dizes tu que não és grande coisa com as palavras? Expressar os sentimentos é uma das coisas que sabes fazer como ninguém! Meu querido, há formas de sentir a solidão que nos fragmenta a alma em mil estilhaços e nos faz sentir como se no mundo não houvesse mais ninguém.
      Mas é às vezes, só às vezes...

      Beijinhos, muitos!:)

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  2. "E nada coexiste. Nenhum gesto
    a um gesto corresponde; olhar nenhum
    perfura a placidez, como de incesto,

    de procurar em vão; em vão desponta
    a solidão sem fim, sem nome algum -
    - que mesmo o que se encontra não se encontra"

    Cena de Sena

    Obrigado por me a teres dado

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    1. Olá, Rogério!

      As cenas de Jorge de Sena, são para encenar as mais belas cenas que o sentimento de quem se sente só, sente!
      E como sente...

      Um abraço amigo!

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  3. Uma belíssima maneira de começar a semana.
    Beijinhos e votos de boa semana!

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    1. Uma maneira pouco optimista, Pedro!

      Na verdade, não consigo deixar de navegar, sem ser de acordo com o que sinto no momento em que decido postar. Mas como atrás de um dia vem outro e eles nunca são iguais...

      Boa semana, também, Pedro.

      Beijinhos.

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  4. ~ Estou num desses dias "de imensa paz deserta".

    ~ "Há dias" assim: "" mesmo o que se encontra não se encontra.""

    ~ ~ ~ Ótima proposta poética e meditativa. ~ ~ ~

    ~ ~ ~ ~ ~ Beijinhos. ~ ~ ~ ~

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    1. Minha querida, amanhã é outro dia!

      Quando menos se espera, encontra-se o que se espera sem procurar sequer. Há que dar tempo ao tempo.

      Um beijinho grande, Majo e um sorriso! :)

      ;)

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  5. Amiga Janita, estes desencontros acontecem mais vezes do que queríamos não é verdade ?
    Admito muito Jorge de Sena, um dos mais influentes intelectuais portugueses do século XX.
    Uma foto que ilustra bem o poema.

    beijinho e boa semana

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    1. É verdade, querida Fê!
      Mas também há encontros que nos adoçam o sabor amargo, de outros desencontros.

      Normalmente procuro a imagem a pensar no poema, mas desta vez, vi a imagem e depois pensei no poema!

      Um grande beijinho, amiga Fê.

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  6. Olá, Janita!

    Dele, conheço muito pouco - daquilo que ele produziu.Mas este texto parece ter sabor amargo a exílio, a estar só no meio da multidão...

    Beijinhos amigos e boa semana.
    Vitor

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    1. Olá, amigo Vitor!

      Quando nada coexiste, nenhum gesto é correspondido e quando se procura infrutiferamente, de tal forma que até o que se encontra já deixou de ser o que se esperava, então, é mesmo como dizes: Estar só no meio da multidão!
      Será porque no meio de tanta gente, não se encontra aquela que se procura? :)

      Beijinhos amigos, Vitor! Tem uma excelente semana.
      Janita

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