domingo, 18 de setembro de 2016

DOS MEDOS.



O  PAPÃO


As crianças têm medo à noite, às horas mortas
Do papão que as espera, hediondo, atrás das portas
Para as levar no bolso ou no capuz dum frade.
Não te rias da infância, ó velha humanidade,
Que tu também tens medo ao bárbaro papão
Que ruge pela boca enorme do trovão
Que abençoa os punhais sangrentos dos tiranos.
Um papão que não faz a barba há seis mil anos
E que mora, segundo os bonzos têm escrito,
Lá em cima, detrás da porta do infinito.


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( Estudo de Camilo Castelo Branco)

Desde que o nervoso poeta iconoclasta Guerra Junqueiro atirou às ventanias tempestuosas da opinião pública vinte e oito sátiras com o rótulo de Velhice do Padre Eterno, as tais ventanias, irrompendo dos odres, começaram a rugir que o poeta é...  ateu!  Que o dissesse a cleresia, não havia que estranhar à sua boa fé nem à sua inteligência; mas que o digam, com gestos escandalizados, uns leigos - leigos em duplicado - críticos inéditos, mas mexeriqueiros esclarecidos de leituras teutónicas, isso é que me impele a defender, sem procuração, o poeta da calúnia de ateísta.

(...)

São Miguel de Ceide, 1886
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14 comentários:

  1. Claro (!) que li a obra. E concordo com o Camilo.
    Bj.

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    1. Já imaginava que tivesse lido e supus que concordaria com o escritor, José! :)

      Beijinhos

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  2. 1- não me leves a mal mas gosto mais da paisagem que "ali a cima" mostras do estuário do Tejo em(quase) toda a sua imensidão, do que a imagem que anteriormente ocupou aquele mesmo lugar.
    2- foram (e são ainda) os medos que governaram as sociedades, impelindo as pessoas a recearem o desconhecido que outros mais ladinos afirmavam conhecer, e que por "conhecerem" eram aceites como Senhores que tudo podiam (podem ainda?).
    É em nome desse "conhecer" que continuam exercendo o seu "poder" sobre os que nada têm e que nada podem.

    Mas já estou a divagar.
    É sobre o medo o meu comentário, né? Tenho medo sim; sou um cagarola e por isso já tive (também) medo do escuro, e dos trovões, e dos foguetes e morteiros nas festas e romarias, e doutras coisas mais que agora não quero referir.
    Só não tenho medo do que não acredito que exista: Deus, por exemplo!

    Beijokas e sorrisos, reais!

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    1. Claro que não levo a mal, Kok! Como poderia? :)
      Mas, na minha opinião, acho que ambas as fotos ficaram muito bem, cada uma reflectindo as belezas de cidades diferentes.

      Os comentários não ficam restritos a um só tema, Kok. Cada um fala do que lhe aprouver, dentro do que for publicada, e eu gosto de ler as tuas divagações...

      Beijokas realmente amigas!! :)

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  3. Também tive medo do escuro e das trovoadas ainda tenho, aliás a natureza quando se "zanga" assusta-me e muito...
    Acho que todos temos dentro de nós um Papão particular :)))
    Bjs

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    1. Eu do escuro não tenho medo, Papoila.

      Se ouvir um ruído estranho, a meio da noite, sou capaz de ir ao sótão, às escuras, ver o que se passa. :))
      Já da fúria dos elementos da natureza, sinto receio, sim!
      Mas tenho outro tipo de medos, lá isso tenho.

      Beijinhos.

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  4. Muito bonita a nova imagem do Layout.
    Também carrego comigo alguns papões. A natureza é muito bela, mas quando se enfurece, mete-me muito medo, quer sejam as trovoadas, os ciclones ou os terramotos. Mas o homem com toda a sua crueldade atemoriza-me igualmente.
    O livro? Não li.
    Um abraço e uma boa semana

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    1. Quem não carrega os seus próprios papões, Elvira?

      Para além de todos os outros que são de todos, claro!

      A imagem foi captada do miradouro do Cristo Rei...:)

      Um abraço, Elvira. Boa semana!

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  5. Todos temos medos, os que assumimos, os que dizemos em voz alta são exorcizados, os que guardamos dentro de nós...

    Abraço grande

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    1. De todos os medos, os mais terríveis são aqueles que guardamos, fechados a sete chaves, dentro de nós, Ricardo.
      Talvez fosse bom que os verbalizássemos, para os exorcizar!

      Beijinho e abraço grande. :)

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  6. Não comento Camilo
    pois é mais forte o que diz o poeta
    do que do poeta se diz

    "Não te rias da infância, ó velha humanidade,
    Que tu também tens medo ao bárbaro papão"

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    1. Opinião aceite, meu amigo!

      Assim sendo nem vou comentar o que o poeta Rogério opinou! :)

      Beijinhos.

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  7. Desde que não nos deixemos vencer pelos medos...
    Beijocas, boa semana

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    1. Se há um tipo de medo saudável, como aquele que dizem guardar a vinha, há outros que são verdadeiros castradores da liberdade individual, não acha Pedro?

      Beijinhos, boa semana.

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