quinta-feira, 21 de janeiro de 2016

"A PULGA".



Repara nesta pulga e aprende bem
Quão pouco é o que me negas com desdém.
Ela sugou-me a mim e a ti depois,
Mesclando assim o sangue de nós dois.
E é certo que ninguém a isto alude
Como pecado ou perda de virtude.
     Mas ela goza sem ter cortejado
     E incha de um sangue em dois revigorado:
     É mais do que teríamos logrado.

Poupa três vidas nesta que é capaz
De nos fazer casados, quase ou mais.
A pulga somos nós e este é o teu
Leito de núpcias. Ela nos prendeu,
Queiras ou não, e os outros contra nós,
Nos muros vivos deste Breu, a sós.
     E embora possas dar-me fim, não dês:
     É suicídio e sacrilégio, três
     Pecados em três mortes de uma vez.

Mas tinge de vermelho, indiferente,
A tua unha em sangue de inocente.
Que falta cometeu a pulga incauta
Salvo a mínima gota que te falta?
E te alegres de dizes que não sentes
Nem a ti nem a mim menos potentes.
     Então, tua cautela é desmedida.
     Tanta honra hei-de tomar, se concedida,
     Quanto a morte da pulga à tua vida.
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Por incrível que (me) pareça, este poema foi escrito por um dos maiores Poetas da Língua inglesa, desde sempre. John Donne, autor de "Meditações".



"Nenhum homem é uma ilha, isolado em si mesmo; todo homem é um pedaço do continente, uma parte da terra firme. Se um torrão de terra for levado pelo mar, a Europa fica diminuída, como se fosse um promontório, como se fosse o solar dos teus amigos ou o teu próprio; a morte de qualquer homem me diminui, porque sou parte do género humano, e por isso não me perguntes por quem os sinos dobram; eles dobram por ti."

Foi a partir deste trecho, Manifesto 17que o escritor norte-americano Ernest Hemingway, encontrou inspiração para o título do seu romance Por Quem os Sinos Dobrame dá início ao romance.
Mais um livro, de folhas amarelecidas pelo tempo, que encontrei no meu sótão!    


Adenda: Para que não digam que não mostrei o livro (o meu)  


Imagens da Net ( excepto a do livro)

23 comentários:

  1. Nunca adivinharia quem era o autor (e decorei o Nenhum homem é uma ilha - na minha tradução do inglês - depois de ter lido Por quem os sinos dobram)

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    1. Quando li o livro de Hemingway - há muitos anos atrás - também não sabia, Gábi. Soube, bastante mais tarde, onde o escritor se havia inspirado!
      :)

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  2. Não conhecia o poema.
    Obrigado.
    Saudações minhas!

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    1. Vieira Calado

      Eu é que lhe agradeço!

      Um beijo e obrigada!

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  3. Quando li o título pensei que era acerca do Messi :)))
    Beijinhos

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    1. :)) Ai o Pedro pensou que me referisse a esta:

      PULGA ATÓMICA?
      Nem sabia que o Messi era conhecido pela 'pulga'. Mas faz todo o sentido, faz!
      Não imagina as coisas que eu já aprendi sobre ele! ehehehe
      Fica aí o link do vídeo, para os apreciadores de futebol, especialmente para si, Pedro! :)

      Beijinhos!

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  4. Conhecia o poema e li Hemingwai. Essa do Messi foi bem metida!

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    1. Foi, não foi? :)
      Deixei o link com alguns dos melhores momentos do Messi, porque achei que Literatura, Futebol e Poesia até fazem uma boa trilogia! :))

      Obrigada, José!

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  5. Janita amiga, já não vejo uma pulga há muito tempo, será que desapareceram ? :)
    Desconhecia o poema que achei muito interessante, assim como achei interessante a foto que escolheste para ilustrar o Manifesto 17 :)

    Um beijinho com a pulga atrás da orelha :D

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    1. Esta pulga era do século XVII, amiga Fê. Por essa altura devia haver muitas! :)
      O poema é tido como erótico, mas o erotismo também sofreu muita evolução!! Lol
      Gostaste da foto? POis...também eu!!

      Beijinhos
      ( gostei da ironia da pulga atrás da orelha, mas não, não há nada)

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  6. Sempre considerei as pulgas mais importantes que a dimensão que têm
    Sempre considerei que um homem não é uma ilha, embora olhe em redor e o que vejo me parece um imenso arquipélago de 10 milhões de ilhéus, perdidos e sem ligação... talvez seja por eles que, hoje, os sinos dobram

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    1. Sinto-o hoje muito reflexivo, Rogério!

      Há homens que se isolam tanto dos demais que são como ilhas desertas. Isso dos 10 milhões de ilhéus à deriva, já vem de há muito. Pode crer que não irá haver união, nem que todos os sinos do mundo toquem a rebate.
      Não fique triste...espere para ver.

      Um abraço.

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  7. O poema está mui engraçado. Quem fez a tradução? Também tinha muito jeito.

    Nenhum homem é uma ilha. Parece-me que este teu post vem no seguimento do anterior dos beijos no Japão. Depois referiste que em Portugal estranhos também já andam a abraçarem-se na rua. Já me lembro desse video. As pessoas adoram-se pela frente, são abraços e beijos, mas por trás, sempre que podem, é a facada nas costas. Eu por mim prefiro dar as facadas pela frente.

    Num filme do Woody Allen, Celebridades, dizem uma coisa muito gira. "Não perguntes por quem os sinos dobram, mas sim por quem os autoclismos puxam".

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    1. Olha Daniel, este é o trecho original do Manifesto 17
      se quiseres faz tu a tradução.

      No man is an island, entire of itself; every man is a piece of the continent, a part of the main; if a clod be washed away by the sea, Europe is the less, as well as if a promontory were, as well as if a manor of thy friend's or of thine own were; any man's death diminishes me, because I am involved in mankind, and therefore never send to know for whom the bell tolls; it tolls for thee.

      Para ser franca não houve intenção de dar continuidade ao post dos beijos do Japão, mas se achas que sim, pode ser.

      Os abraços e beijos e as facadas nas costas, são fixações tuas fruto dos filmes de serial killers das tuas produções malucas. Assim, como maluco é o Woody Allen, que anda a piorar com a idade.

      Bye-Bye. See you later!


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    2. Daniel, espero que não tenhas ficado sentido comigo.
      Ontem já era muito tarde e não estava para 'amar'...:)
      Sabes que raramente levo a sério as coisas que dizes, mas por vezes salta-me a tampa! Sorry!

      Um abraço! ;))

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    3. Por acaso estava a referir-me à tradução d' A Pulga.

      Não, não é dos filmes. É da descrença nos humanos. Parece muito bonito dizer que estamos em sintonia com todos os seres humanos no mundo, mas isso não é verdade.

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    4. Acho que é mais do que evidente que os seres humanos, hoje em dia, andam todos dessintonizados.
      Nunca se viu tanto individualismo como agora. tenho perfeita consciência disso, mas não generalizo, Daniel.
      Não acredito que tu fosses capaz de me ferir pelas costas e tenho a certeza que tu me conheces o bastante para saber que eu também não o faria.
      Não quero, nem posso, descrer totalmente em todos os seres humanos.
      O que seria de mim...Gosto de pessoas e preciso acreditar nelas.
      Claro que não sou ingénua a ponto de acreditar cegamente. Tenho intuição e inteligência para, minimamente, conseguir distinguir o trigo do joio.
      Se me tenho enganado? Sim, muitas vezes!
      :)

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  8. Desde que me lembro que conheço a frase de que nenhum homem, é uma ilha, mas desconhecia o autor como desconhecia o poema.
    Um abraço.

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    1. Olá, Elvira.

      O escritor/poeta também o escreveu aí por volta do século XII...É um texto muito conhecido. Pouco conhecido será o facto de Hemingway se ter inspirado nele.

      Um abraço, obrigada.

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    2. Rectifico: Século XVII e não XII (obviamente)

      Peço desculpa, Elvira. Só hoje reparei no erro.

      Janita

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  9. Outro livro que mora aqui no galinheiro e (talvez) também de "Livros do Brasil". Li-o vão para mais de... de muitos anos.
    Foi o "meu primeiro contacto" com a Guerra Civil Espanhola.
    O Poeta desconhecia-o; mas o pensamento: nenhum homem é uma ilha que é muitas vezes dito, e nem sempre a propósito, conhecia.
    Beijokas

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    1. Olá, Kok!
      Até me senti um bocado envergonhada, quando te 'vi'.
      Tenho andado um pouco ausente do teu 'galinheiro', mas não é por mal nem por me ter esquecido de ti. Prometo que neste fim de semana ponho a leitura em dia.
      Hemingway foi um apaixonado pela Espanha e foi com este romance que ele ganhou o Prémio Nobel.
      No teu livro não tem essa citação de Donne logo na terceira folha, em forma de ilha? Num triângulo?
      No meu tem. E este também é uma edição «livros do Brasil» da colecção Dois Mundos. É antiquiquiquiíssimo...:)

      Beijokas, Kok, e um grande abraço.

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    2. Não me lembro. Como disse, já o li muito, muito tempo...
      Beijoka com sorrisos

      §-envergonhada? ora ora, deixa-te disso. :-)

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