sábado, 22 de julho de 2017

Cartas de Amor...Quem As Não Tem?... ( # 2)

Não admira que Fernando Pessoa considerasse que todas as Cartas de Amor são ridículas. Pudera! A escrever desta maneira à sua amada...Ora vejam os leitores, como o poeta se preocupava tanto consigo e com a sua saúde.
Ridícula, esta carta, não acham? 




Meu Bebezinho querido:
Sem saber quando te entregarei esta carta, estou escrevendo em casa, hoje, domingo, depois de acabar de arrumar as coisas para a mudança de amanhã de manhã. Estou outra vez mal da garganta; está um dia de chuva; estou longe de ti — e é isto tudo o que tenho para me entreter hoje, com a perspectiva da maçada da mudança amanhã, com chuva talvez e comigo doente, para uma casa onde não está absolutamente ninguém. Naturalmente (a não ser que esteja já inteiramente bom e arranje as coisas de qualquer modo, o que faço é ir pedir guarida cá na Baixa ao Marianno Sant’Anna, que, além de ma dar de bom grado, me trata da garganta com competência, como fez no dia 19 deste mês quando eu tive a outra angina.
Não imaginas as saudades de ti que sinto nestas ocasiões de doença, de abatimento e de tristeza. O outro dia, quando falei contigo a propósito de eu estar doente, pareceu-me (e creio que com razão) que o assunto te aborrecia, que pouco te importavas com isso. Eu compreendo bem que, estando tu de saúde, pouco te rales com o que os outros sofrem, mesmo quando esses «outros» são, por exemplo, eu, a quem tu dizes amar. Compreendo que uma pessoa doente é maçadora, e que é difícil ter carinhos para ela. Mas eu pedia-te apenas que «fingisses» esses carinhos, que «simulasses» algum interesse por mim. Isso, ao menos, não me magoaria tanto como a mistura do teu interesse por mim e da tua indiferença pelo meu bem-estar.
Adeus, amorzinho, faz o possível por gostares de mim a valer, por sentires os meus sofrimentos, por desejares o meu bem-estar; faz, ao menos, por o fingires bem.
Muitos, muitos beijos, do teu, sempre teu, mas muito abandonado e desolado.
Fernando Pessoa

  Carta a Ofélia Queiroz (28 Março de 1920).


Se recebeu uma linda carta de amor e a deseja partilhar connosco, se sente vontade de escrever ao seu amado/a uma bela e sentida carta de amor, venha até cá e abra o seu coração.
Espero por si...Obrigada.:)


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26 comentários:

  1. Nunca fui de muitas lamechices nem tenho muita paciência para pessoas lamechas, mas compreendo que o amor tem destas coisas… : ))
    Segundo dizem os estudiosos de Fernando Pessoa, este sofria de transtorno bipolar, tinha personsalidades múltiplas e parece que não tinha a certeza sobre a sua orientação sexual. Entrou em depressão depois de conhecer ou “acabar” com Ofélia. Uma “alma” que talvez devido a todos estes sofrimentos criou a obra que conhecemos. Sinto o seu desespero pela incompreensão da sua amada quanto às suas maleitas. Não teve uma vida fácil, não.

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    1. Uma coisa é ser-se carinhoso e terno nestas coisas do Amor, seja em palavras ditas ou escritas. Outra, é ser-se melado/a, pegajoso/a, açucarado/a até ao enjoo. Detesto isso.
      Há ainda o tipo de pessoas que gostam de receber atenção, mas nunca a dão e queixam-se por tudo e por nada. Outro enjoo!
      Nesta Carta, acho que Pessoa mostra uma faceta que eu desconhecia: queixinhas e piegas.
      Que ele sofria de transtorno bipolar, todos sabemos, ou supúnhamos, dada a quantidade de heterónimos criados. Uma personalidade instável e uma alma torturada, sem dúvida, mas, esta Carta, é absolutamente 'intragável e ridícula'. :)
      Obrigada, querida Catarina por este belo comentário.

      Beijinhos e bom Domingo.

      Até mais logo. :)

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  2. Ahhah, acho muito graça a esta carta!!!
    Eu, tal como a Ofélia também não teria muita paciência para tanto "drama" por umas anginas :)))
    Temos que concordar que há males piores.:))
    Bjs

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    1. Querida Papoila,
      diz-me lá qual é a mulher que gostaria de ser chamada: 'Bebezinho'? Não sei...provavelmente haverá muitas mulheres que gostem dessas parvoíces, mas o meu conceito de Cartas de Amor, é outro...sou mais como escreveu o Pai do nosso Amigo Rui...:)
      Jesus, pobre Ofélia!!! :))

      Beijinhos. Até mais logo.

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    2. O meu marido tinha a mania de me chamar "tesouro" e eu morria de raiva.

      Tive um pretendente português que me chamava "boneco". Nunca lhe parti a cara, porque era um grande amigo da família de Lisboa.

      Eu tenho o nome mais bonito do mundo: TERESA.

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    3. Ora Teresa, de facto o teu nome é lindo, mas "tesouro" é um tratamento super carinhoso. Gostei muito.
      Já 'boneco'...:( Bolas. Nem no feminino eu gostaria que me chamassem isso. Devias mesmo ter-lhe dado um tabefe. eheheh

      Beijinhos Teresa. Até já

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    4. a mim chamavam-se borracho e eu gostava!!! Ou borrachinho! independentemente do "interesse" que houvesse ou nao! : )))

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    5. Quanto a "bebezinho" temos que considerar a epoca em que essa carta foi escrita!

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    6. Catarina, minha querida Catarina; sempre assertiva e oportuna nas tuas opiniões. :) Isto em relação a "bebezinho" . Efectivamente, à época não existia muita variedade de diminutivos carinhosos, não!

      Agora isso de "borracho" e borrachinho não seria mais coisa de piropos? Digo eu!!!

      Beijinhos :)

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    7. Não lhe dei um tabefe, até fiquei noiva 👰 dele. Coisas da família de Lisboa. Mas no ano seguinte, parti para Londres.

      O meu marido chamava-me "Schatz" = tesouro.

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    8. Foram piropos, depois passou a um nick entre os amigos e mais tarde viria a substituir o nome proprio durante alguns anos. Depois... : )))

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  3. Linda partilha querida amiga ,certamente um momento lindo que hoje virou nostalgia nestes tempo modernos ,eu tenho algumas mas dos meus pais que dedicavam o seu amor um ao outro que guardo com muito carinho ,muitos beijinhos abençoado domingo

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    1. Na verdade, amigo Emanuel, esses momentos de quase tortura, em que se esperava ansiosamente o carteiro, para se ler uma carta onde se faziam eternas juras de Amor, ficou perdido no tempo. Hoje é tudo tão veloz que, paradoxalmente, muita coisa ficou perdida. Por um lado, gosto desta proximidade, e não me refiro apenas a amores, mas a amigos e familiares que vivem longe.
      Um beijinho, bom Domingo.

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  4. :((( ... Não poderia haver paciência para este Fernando Pessoa como ser amoroso e amante do outro sexo ! :) ... Cartas ridículas de facto ! :)
    Eu sei que admiras alguma poesia de meu Pai !
    Interpreta esta quadra, sobre envio e recebimento de "Cartas de Amor", naquele tempo, quase a única oportunidade de um "jogo" de comunicação para quem estava longe !... Isto, há cerca de 100 anos.

    "Cartas idas,... cartas vindas,...
    Cartas de "jogo", ... sem "jogo" !
    Cartas que depois de lidas,
    Fazem fogueira sem fogo !"

    Beijo ! :)

    (Nota, esta de Fernando Pessoa, era um balde de água fria ! eheheh)

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    1. Ah, Rui...o que eu gostaria de ter tido o privilégio de ter conhecido o teu Pai!... Que Poeta, quanta sensibilidade e que grande conhecedor da alma humana!! :)

      Pois a quadra é fácil de interpretar. Digo eu!! :)

      Nas cartas que vêm e vão…
      Há uma ânsia tamanha
      De ter junto ao coração
      O fogo da tua chama!…

      O resto penso e não digo! Lol

      Beijinhos! :)

      ( tenho de encontrar outra Carta de Amor, de Pessoa. Esta é a vergonha das ditas. :) )




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  5. Creio que já tudo foi dito. A carta é absolutamente ridícula. Ou será que o FP a escreveu bem sabendo que ela era mesmo ridícula?

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    1. Olá, José!!

      Também acho que sobre este tema, já tudo foi dito. Mas o poeta avisou...:)
      Fiz um interregno de algumas hporas de blog, mas creio que está chegando a hora de partir para outro Passatempo. Está preparado? Então até já.

      Um beijinho

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  6. As cartas de amor do meu marido são encantadoras, embora um tanto ridículas, porque já tínhamos casado. Logo que tenha tempo vou traduzir uma delas e mando-ta.

    Quanto ao amor do Fernando Pessoa pela Ofélia Queiroz é um alibi, porque todos nós sabemos que ele não gostava de mulheres.

    Continuação de um bom ⛅ domingo a ler cartas ridículas.

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    1. Querida Teresa.
      Seria uma honra para mim se permitisses que publicasse uma Carta de Amor tua, ou melhor, enviada para ti; nem que fosse "por mão própria" sendo do teu marido, deve ter um grande significado para ti.
      Esta rubrica é de publicação aleatória, se a encontrares e me deres esse privilégio, podes enviar-ma quando quiseres.
      Um beijinho

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    2. Eu nunca escrevi uma carta de amor, Janita.

      Neste momento ando muito ocupada, mas logo que tenha tempo, mando-te uma carta de amor ridícula.

      Agora, vou com todo o amor possível até à ADVINHA.

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  7. Fernando Pessoa teria alguma razão, as cartas de amor são ridículas quando lidas por outra pessoa que não a protagonista de tais palavras! Lidas pelos próprios as palavras têm outro valor.

    Por isso, Janita querida, cartas de amor só para o meu amor! =)))))

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    1. Fazes bem, querida Lina, mas...e que tal se escrevesses uma carta a um amor imaginário? Um suponhamos, como dizia o outro?!?! :))

      Beijinhos, muitos!

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  8. Ó querida Janita tenho que te agradecer!!! Já não preciso de estar 10 minutos a provar que não sou um robô!!!!! Ufa....

    Olha que até suava! Ficava sempre com a impressão que um robô provaria melhor que não era um robô do que eu! Aliás, às vezes eu até ficava na dúvida e me beliscava! ;)

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    1. Será possível que eu tivesse essa coisa horrível aqui no meu recatado cantinho onde ninguém é forasteiro, e não soubesse, Lina? Discriminação ao Sapo? Olha que não sabia!!
      Ainda bem que isso de provar que não és um robô já foi à vida...Bolas! Grande frete!

      Beijinhos e desculpa lá o mau jeito.

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  9. Que emoção, que ansiedade, que tremdeira ao abrir uma cartinha. Quando ainda as havia, assim era.
    O Pessoa não escrevia cartas de amor, dava uso ao aparo: um vício.
    Bj.

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    1. Uma verdadeira ânsia, diz bem amigo Agostinho. Mas era bom, não era?
      Bem vista essa teoria de FP escrever cartas de amor sem jeitinho nenhum, apenas pelo vício da escrita.:)

      Um beijinho.

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