Poeta de um livro só, dado que a sua curta existência não lhe deu tempo para mais, Cesário
Verde, nasceu no mesmo dia e mês em que eu nasci. Talvez seja essa afinidade, que me leva a identificar-me
tanto com a sua poesia...:)
Este meu livro é de uma edição bastante antiga das Publicações Europa América, da colecção 'livros de bolso' desta editora. O Prefácio a cargo do crítico literário e seu grande amigo, Silva Pinto, daria tema para um outro livro. Contudo, por razões que desconheço, este poema que agora publico, não o encontro aqui, talvez por pertencer a uma edição posterior, pelo que fiz copy paste da net. Quem fala a verdade...
Eu e Ela
Cobertos
de folhagem, na verdura,
O teu braço ao redor do meu pescoço,
O teu fato sem ter um só destroço,
O meu braço apertando-te a cintura
Num mimoso jardim, ó pomba mansa,
Sobre um banco de mármore assentados.
Na sombra dos arbustos, que abraçados,
Beijarão meigamente a tua trança.
Nós havemos de estar ambos unidos,
Sem gozos sensuais, sem más ideias,
Esquecendo para sempre as nossas ceias,
E a loucura dos vinhos atrevidos.
Nós teremos então sobre os joelhos
Um livro que nos diga muitas cousas
Dos mistérios que estão para além das lousas,
Onde havemos de entrar antes de velhos.
Outras vezes buscando distração,
Leremos bons romances galhofeiros,
Gozaremos assim dias inteiros
Formando unicamente um coração.
O teu braço ao redor do meu pescoço,
O teu fato sem ter um só destroço,
O meu braço apertando-te a cintura
Num mimoso jardim, ó pomba mansa,
Sobre um banco de mármore assentados.
Na sombra dos arbustos, que abraçados,
Beijarão meigamente a tua trança.
Nós havemos de estar ambos unidos,
Sem gozos sensuais, sem más ideias,
Esquecendo para sempre as nossas ceias,
E a loucura dos vinhos atrevidos.
Nós teremos então sobre os joelhos
Um livro que nos diga muitas cousas
Dos mistérios que estão para além das lousas,
Onde havemos de entrar antes de velhos.
Outras vezes buscando distração,
Leremos bons romances galhofeiros,
Gozaremos assim dias inteiros
Formando unicamente um coração.
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também gosto de Cesário Verde,
ResponderEliminarsempre muito atual e eterno !
beijinho
bom fim de semana
Angela
Creio que quem conhecer minimamente a poesia de Cesário Verde, não pode deixar de gostar deste grande Poeta português.
EliminarUm beijinho, Ângela.
O que é extraordinário em Cesário Verde é o facto de, apenas com 31 anos e sem livros publicados, ter tido a projecção literária que teve bem como a admiração de que foi alvo por outros ilustríssimos poetas !
ResponderEliminarFoi realmente uma pessoa muito especial !!!
Na verdade não há só um livro, mas uma série deles :
"O Livro de Cesário Verde", 1887 - Compilação e Silva Pinto .
"Nós", uma leitura de Cesário Verde (sobre a tuberculose na família), 1975, publicado por Helder Macedo.
Cesário Verde, Obra Completa, Lisboa: Livros Horizonte, 1983.
João Pinto de Figueiredo, A vida de Cesário Verde, Lisboa: Presença, 1986.
Fernando Cabral Martins, Cesário Verde ou A Transformação do Mundo, Lisboa: Comunicação, 1988.
Fátima Rodrigues & Maria Paula Morão, Cesário Verde: recepção oitocentista e poética, Lisboa: Cosmos, 1998.
Cesário Verde, Poesia Completa, Lisboa: Dom Quixote, 2001.
Helena Carvalhão Buescu & Maria Paula Morão (eds.), Cesário Verde: visões de artista, Porto: Campo das Letras, 2007.
Esse poema "Eu e Ela", lindíssimo !!!
Beijinho
Olá, Rui!
EliminarAntes de mais tenho de agradecer-te o excelente comentário que, como sempre, enriquece em informação e pormenores, qualquer post que comentes.
Sabes que, para mim, o verdadeiro livro de Cesário Verde, seja qual for o ano da edição, é este.
Estive a ler, uma vez mais, a NOTA INTRODUTÓRIA da qual transcrevo este pequeno excerto:
“ Em 1887 faz-se das suas obras dispersas, uma coletânea a que é dado o título: O Livro de Cesário Verde, com uma tiragem simbólica de duzentos exemplares que não chegarão a ser postos no mercado. Apenas em 1901 se faz uma edição póstuma, organizada e prefaciada por Silva Pinto, (o meu exemplar) e esta, sim, é comercializada.»
No final da N.I., o editor escreve algo que considero muito interessante e esclarecedor acerca da personalidade do Poeta.
“Quando o autor nos relata um «cheiro» como «salutar e honesto», ou se queixa da sua «quimera azul de transmigrar», não está só a criar como a reinventar, descobrindo na Língua, património colectivo, novas formas de dizer. […] Aqui fica O Livro de Cesário Verde. Que o leitor nele possa encontrar a sátira e a denúncia dos dramas quotidianos e a beleza de estar vivo e sabê-lo».
Uma delícia!
Neste livro, não são apenas os poemas que embelezam e enriquecem a obra, é toda a parte extra que o compõe, desde a introdução ao Prefácio de Silva Pinto.
"NÓS", é um longo poema que enche 23 páginas deste livrinho de bolso, em que efectivamente o poeta fala da família, nomeadamente do pai, mas em jeito de metáforas.É encimado com as iniciais A.A. da S.V.. Não sei a quem se o poeta se refere.
Gostaria muito de o transcrever, mas seria demasiado trabalhoso, porém, vou só deixar-te a segunda estrofe.
"Ora meu pai, depois das nossas vidas salvas
(até então nós só tivéramos sarampo)
Tanto nos viu crescer entre uns montões de malvas
Que ele ganhou por isso um grande amor ao campo"
Se foram sendo encontrados outros poemas e posteriormente - como sublinhaste - foram editados outros livros, misturando os já publicados com esses, sinceramente não sei, nunca pesquisei sobre o tema. Mas, repito o verdadeiro livro de Cesário Verde é este: Seja em versão moderna ou antiga como o meu. :)
Beijinho, Rui! :)
Ainda nao li nada dele. : (
ResponderEliminarProcura, lá na tua Biblioteca, que deves encontrar, Catarina.
EliminarO seu poema mais conhecido e belo é "O Sentimento de Um Ocidental", que o poeta dedica a Guerra Junqueiro.
Beijinho.
Muito bela a sua partilha querida amiga ,desejo-lhe um fim de semana muito feliz ,beijinhos
ResponderEliminarMuito grata pela sua constante simpatia e amizade, Emanuel.
EliminarUm beijinho com amizade.
Passo por aqui apenas para desejar bfs
ResponderEliminarà moda de António Silva; para quem mais nada pode pedir, o passar também consola :), amigo José! :)
EliminarAceite um beijinho grato
Admiro demais Cesário Verde. Parabéns! Bela postagem. Grande abraço. Laerte.
ResponderEliminarAgora que vou estar de férias caseiras e apenas algumas saídas, vou aproveitar para visitar os meus simpáticos visitantes, entre eles está o Laerte, sempre tão amigo e atencioso. Obrigada.
EliminarGrande abraço.
:) Tenho a mesma edição.
ResponderEliminarAinda bem, Luísa! Assim, sabes que tudo o que escrevi, aqui, está escrito lá. :))
EliminarBeijos.
Conheço só de nome, nunca li nada de Cesário Verde!
ResponderEliminarBom restinho de domingo Janita.
Um beijinho com muito carinho.
É natural, querida Adélia. Eu, também só tenho conhecimento deste livro, editado após a sua morte.
EliminarFoi um poeta genial, mas, infelizmente, pouco conhecido, por falta da justa divulgação, por parte de quem de direito.
Desejo que estejas bem, amiga.
Um grande beijinho, com igual carinho e amizade.
Enquanto calço os sapatos vim espreitar este de fugida, não vá a CP abolir o f.da m. do atraso.
ResponderEliminarCesário é um caso sério, Janita.
Venham mais.
Bj.
Ok, para um Poeta do calibre do Agostinho, toda a poesia é sempre pouca. Sendo de bons autores, melhor ainda.
EliminarUm dia destes sai outro, então! :)
E o comboio? Adiantou o atraso? eheheh
Beijinhos
Eu assumo que sou praticamente, até poderia dizer totalmente, um analfabeto em relação aos escritos de Cesário Verde.
ResponderEliminarApesar de publicar muitos poemas com as minhas fotografias, não quer dizer que eu domine essa área da literatura. Antes pelos contrário. Publico os poemas, porque pesquiso na Internet poemas que penso poderem enquadrar-se com as fotografias em causa. Muitas vezes pesquiso por uma palavra, e tento procurar os poemas que usem essa palavra.
E com esta frase, desfiz a consideração que a Janita já poderia ter por mim. :-P
Ao olhar para a fotografia, noto que o "anjinho" não está com cara de bons amigos. Diria que o "moço" está amuado. Cá para mim, ele não queria partilhar o post com o Cesário Verde.
:-D
Remus,
Eliminartente enquadrar um poema de Cesário Verde numa das suas imagens e verá quão rica e bela é toda a sua poesia!
Aí é que o Remus se engana...à medida que o vou lendo e apreciando o seu trabalho, mais cresce a minha consideração por si.
O anjinho enjoado é um anjo 'papudo'. ehehehehe
Abraço e obrigada, Remus. :)