terça-feira, 29 de março de 2016

MEA CULPA...



Tela de Jean Auguste Dominique Ingres



Idolatrei-te como se venera um deus, um sábio, um ser superior. Bebia as tuas palavras, que aos meus olhos eram como estrelas de um céu que só os abençoados poderiam ver e alcançar. 
A tua pena discorria leve, em prosas fluídas e translúcidas, como pinceladas coloridas de um pintor consagrado.
Subitamente, um parágrafo, apenas um, mas com a força da lava de um vulcão, derreteu o sortilégio, banalizou o que fora magia. Pude ver, então, que até os deuses não conseguem resistir à vaidade de mostrar o seu saber, passando por cima dos sentimentos e da boa-fé de quem os elevou à condição de sábios, somente, por serem simples e crentes. Ignorando-os, simplesmente.
Onde antes eu via sabedoria alicerçada na modéstia dos grandes, vi um ser vulgar, igual a tantos outros. Tombaste do pedestal e ficaste reduzido a nada. Não lamento, tive o que mereci. A desilusão...E a culpa, se a houve, não foi tua.

Mea culpa...Mea culpa!





34 comentários:

  1. Olá Janita, ás vezes acontece o não querermos ver a realidade e ela está mesmo à frente dos nossos olhos e só a vislumbramos quando ela nos lava a cara. Pena, porque depois de uma desilusão assim, paga o justo pelo pecador. Adorei o teu texto. Beijos com carinho

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    1. Olá, amiga Rosa-Branca.

      Isto é ficção com algum sentimento meu misturado!

      Ando a treinar para escrever um romance!! ;)

      Beijinhos,

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  2. Eu estou num ponto em que já quase nada me desilude, isto porque já me desiludiu antes.

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    1. Eu ainda não atingi esse patamar de indiferença, Daniel.
      E para ser sincera, gostaria de o não alcançar.
      Realmente, só se desilude quem se iludiu.
      Mas isto são fases!! Vão e vêm...tipo montanha russa!

      Abraço! :)

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    2. O que acontece não é indiferença. É um permanente estado de desilusão, em que uma nova desilusão já nem o é.

      Isto hoje soa a Alberto Caeiro... lol

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    3. E não é que soa mesmo, Daniel??

      Quem diria que de um heterónimo de Pessoa, um dia te compararia! :)
      Mas gostei!
      Isto só vem provar que um filósofo
      também sabe e pode poetar!...

      :)

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  3. A desilusão existe sempre quando existe ilusão, mas quem não se ilude minha Amiga?
    A culpa penso ser um sentimento muito pesado, que a capacidade de lidar com ele poderá ajudar a carregar! Capacidade é algo que não tenho.

    Acertei no nº de meninas no teu post anterior, mas não tinha conseguido ver o video, vi agora e achei uma maravilha.

    Um grande beijinho carregado de culpa por gostar de ti.

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    1. Apesar das desilusões, eu iludo-me e quero continuar a iludir-me, amiga Adélia!

      O que seria a vida sem a auréola da ilusão e do sonho?
      Quero continuar a acreditar...fazer de conta que há coisas que acontecem por mim e para mim.
      Isso nunca será uma desilusão porque só existe na minha imaginação!! :)

      Então, amiga, temos uma culpa partilhada. Também te estimo muito.

      Beijinhos

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  4. Para treino está um mimo!!
    Beijinhos, boa semana

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    1. Sempre gentil e carinhoso, Pedro!
      Bem-haja.

      Beijinhos.
      Neste dia tão importante para si e família, mando um abraço especial. :)

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  5. Ilusões, desilusões... Ora, tudo faz parte embora seja preferível não as termos. Porém, sem ilusões a vida não seria uma monotonia? Felizmente, nem todas acabam numa desilusão. Acho mesmo que essas são as que menos importam.
    Mas o que sei eu destas coisas? Só algumas experiências pessoais e que não deixaram saudades.
    Bem afinal o que importa isso? O que importa é que "botes no papel" o que imaginas. Força nisso.
    Beijokas escritas com sorrisos

    §-só hoje é que comentei os teus textos anteriores. Sabes, é que tenho andado atarefadíssimo a tratar dos animais pascais! ó_ò

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    1. Grata pelo incentivo, amigo Kok!
      Como disse à Flor, sem ilusão a vida não teria graça nenhuma!

      Ao longo da minha vida 'botei no papel' muito do que sentia. Sabes que ao reler o que escrevi há anos atrás, hoje, já não faz sentido?
      Mudam-se os tempos e com eles vão-se desvanecendo os sentimentos. Se há factos que gostaria de reviver, outros há que não quero nem lembrar.
      Doravante, vou apostar na ficção. :)

      Animais pascais? Quais? Coelhos??

      Beijokas botadas aqui, e agora. ò_ó

      :)

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  6. Camarada Janita, parabéns pelo texto.
    E mais não digo, estou assoberbado em ... pensamentos :)
    Beijinho

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    1. Obrigada, amigo e camarada!
      E ainda dizem que pensar é indolor, Amigo Observador!
      Quem o diz não deve pensar...Lol

      Beijitos sem cansaço.

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  7. O treino está a correr bem. Mas, olhe, não se amofine assim tanto. Desilusões, quem as não teve?
    PS - Estou à espera do comentário ao seu "no comment!", a propósito da Páscoa.

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    1. Está a correr bem, mas nunca mais chego à Meta, José!!

      Oh, meu amigo...se é sem comentários, como quer que comente?

      Abracinho, é sempre abraço de gente, mas gente a pedir mimo. Sabe como é?

      :)

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  8. Olá, Janita.
    É pena.
    Não creio que a culpa seja de quem se ilude, mas de quem leva à ilusão ;)

    bj amg

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    1. Olá, Carmem.

      Não tenhas pena, querida. Mais triste que a desilusão é viver sem ilusões.

      Beijo amigo.

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  9. Desilusões , ilusões são uma constante da vida e com ambas se aprende e se cresce.
    Excelente texto!

    Beijos Janita

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    1. Pois é, Manu! Nunca paramos de crescer interiormente.

      Os amargos da vida só nos fazem valorizar os doces instantes, ainda que breves.

      Beijinhos

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  10. Deus e o Diabo moram em pequenos pormenores..

    são eles (os quase-nada dos pormenores) tão eloquentes, que mais que um estilo revelam tantas o carácter...

    c´est la vie.

    beijo

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  11. deve ler-se: ... "revelam tantas vezes o carácter..."

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    1. Amigo Herético, se existe o Bem e o Mal, em algum momento da nossa vida, todos nos deparamos com eles.

      Este texto não é propriamente um confronto entre os dois:
      Deus e Diabo; é mais um sentir (que já amainou)!

      Beijinhos.

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  12. A ilusão é irmã gémea da ilusão, Janita. Mal de nós quando as escorraçamos, é sinal de que a luz se tende a apagar. Por vezes desiludimo-nos? Claro, isso faz parte do nosso percurso, tal como também faz a procura de nova crença, prima direita da ilusão, ainda que de forma cada vez mais depurada. ;)

    Um beijinho :)

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    1. Na primeira frase queria dizer "A ilusão é alma gémea da desilusão...". Assim é que é.

      Um beijinho :)

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    2. Ainda bem que voltaste, AC.
      Sabes que tenho andado a adiar as respostas, por perceber que te havias enganado e sentir-me acanhada em perguntar-te?

      Agora posso dizer-te que, na verdade, não poderia existir uma se não houvesse a outra. Tens toda a razão!
      Gostei de saber do parentesco da Ilusão com a Crença...:)

      Obrigada, AC. Um beijinho

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  13. Belo texto, Janita!! Endeusamos as pessoas e depois acabamos por perceber que têm pés de barros como todos nós... culpa nossa, de facto!

    Beijinhos

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    1. Comigo acontece muito isso, Graça.

      Deslumbro-me com quem me faz levitar, através da escrita, muito mais, até, do que com a palavra dita.
      Por isso, a culpa é minha e só minha! Esqueço que a perfeição não existe...

      Beijinhos

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  14. Um bonito treino, boa vontade, sabedoria, muito conteúdo. Acho que está tudo aqui, agora é só editar.
    Abraço

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    1. Manuel Luís,

      Boa vontade, há sim, muita.
      Conteúdo, algum. Agora, sabedoria, não acredito.

      Um abraço grato.

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  15. Boa tarde, existe um ditado popular que diz, " nem tudo que parece é" quando acreditamos no que parece, a seguir surge a desilusão pelo pelo que não é.
    AG

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    1. Os ditados populares são cheios de sabedoria, A.Gomes.

      Mas eu, como sou arrevesada, continuarei a acreditar no que parece. Se não for, paciência!!
      Não podemos desconfiar de tudo e de todos.

      Abraço! :)

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  16. ADOREi estes pensamentos vadios, assim como a tela de Jean Auguste Dominique Ingres.

    Nunca sofri uma desilusão, porque nunca idolatrei alguém, (talvez, o Álvaro Cunhal, mas era ainda muito nova) nem nunca bebi as palavras de ninguém.

    Abraço-te com amizade.

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    1. Sabes, amiga Teresa? Tenho espírito de aventureira destemida, mas, na prática, sou uma pessoa sensaborona.

      A vadiagem que gostaria de ter feito, e não fiz, faço-a através do pensamento!!;)
      Daí, terem surgido estes 'Pensamentos vadios'.

      Eu bebi, bebo e continuarei a beber...quando tiver sede!

      Fui mais Che Guevara, Ematejoca.

      Beijinho com estima e apreço.

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