terça-feira, 2 de novembro de 2021

DAR VOZ AO SILÊNCIO.

Breve Nota: Quem me conhece, sabe da minha impossibilidade mental em conseguir ler um romance de José Saramago de príncipio ao fim. Criei esta fobia há largos anos quando intentei, e tentei,  ler o nosso Nobel da Literatura - que na altura ainda o não era -, e desisti muito antes de chegar a meio do livro. Contudo, quem disto souber, também sabe da minha enorme admiração pela sua poesia. É esse o motivo que me leva a dar início a uma série de poemas de sua autoria, que irei intercalando com outros temas.

Foto Observer daqui.


Palavras de Amor


Esqueçamos as palavras, as palavras:

As ternas, caprichosas, violentas,

As suaves de mel, as obscenas,

As de febre, as famintas e sedentas.


Deixemos que o silêncio dê sentido

Ao pulsar do meu sangue no teu ventre:

Que palavra ou discurso poderia

Dizer amor na língua da semente?


 José Saramago, 'in' "Provavelmente alegria". 

Editorial Caminho, Lisboa - 1985.


  «Autobiografia de José Saramago»


"Nasci numa família de camponeses sem terra, em Azinhaga, uma pequena povoação situada na província do Ribatejo, na margem direita do rio Almonda, a uns cem quilómetros a nordeste de Lisboa. Meus pais chamavam-se José de Sousa e Maria da Piedade. José de Sousa teria sido também o meu nome se o funcionário do Registo Civil, por sua própria iniciativa, não lhe tivesse acrescentado a alcunha por que a família de meu pai era conhecida na aldeia: Saramago. (Cabe esclarecer que saramago é uma planta herbácea espontânea, cujas folhas, naqueles tempos, em épocas de carência, serviam como alimento na cozinha dos pobres). Só aos sete anos, quando tive de apresentar na escola primária um documento de identificação, é que se veio a saber que o meu nome completo era José de Sousa Saramago… Não foi este, porém, o único problema de identidade com que fui fadado no berço."

(...)

Em outras publicações, de poemas de José Saramago, darei continuidade à sua autobiografia.


Nesta imagem vemos o escritor posando ao lado do busto 
que lhe foi erigido na sua terra natal:
Azinhaga do Ribatejo.
 AQUI poderão ficar a saber como foi que tudo aconteceu!


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44 comentários:

  1. Sem escrever qualquer outro comentário, vou fazer uma pesquisa. Estou com curiosidade de saber em que fase da sua vida escreveu ele a sua autobiografia. Quando ainda era desconhecido, quando começou a ter um pouco de sucesso ou quando o sucesso era indiscutível, independentemente se se gostava dos seus livros ou não.
    :)
    Bjos

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    1. OK, querida Catarina, faz isso...pesquisa! :)
      Os comentários pouco importam, quando aquilo que publicamos contribui, de alguma forma, para 'mexer' com o interesse de quem nos visita.
      Só para te animar e situar, um pouco mais, devo dizer-te que após ter escrito a sua autobiografia, Saramago ainda escreveu o romance "Caim" e mais outros dois. :)

      Beijinhos.

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  2. Uma excelente escolha. Adoro a sua poesia de que já algumas vezes falei no Sexta, até em alguns contos.
    Da prosa só li 3 livros embora os tivesse comprado quase todos para oferecer à sobrinha como prendas de Nata, ou de aniversário, já que ela é uma apaixonada da sua escrita. Não gostei do Memorial do Convento, Gostei de A Jangada de Pedra e adorei o conto da Flor e o Levantado do Chão.
    Abraço e saúde

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    1. O tal livro que comecei a ler - e não terminei - foi-me emprestado pelo meu genro, seu admirador e leitor incondicional, há muitos anos, muitos. Altura essa em que GGM e Paul Auster faziam as minhas delícias literárias. Como é óbvio, a diferença foi como da água para o vinho.

      Talvez se o tivesse começado a ler mais tarde, com mais conhecimenros sobre o escritor, eu o soubesse compreender.
      Na altura foi tal o meu desapontamento que nunca mais senti interesse pelos seus livros.
      Talvez um dia eu volte a tentar, talvez...

      Um abraço, Elvira, obrigada.

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  3. Uma merecida homenagem a um homem nascido modesto que nos deixou uma obra vasta, cheia de significado. Boa ideia a sua com esta publicação e as que se seguirem.
    Boa Noite, um abraço.

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    1. Sabe, Luís? A partir do dia 16 deste mês de Novembro, até ao mesmo dia do mesmo mês de 2022, dia em que José Saramago faria cem anos, terão início as celebrações do centenário do escritor. Eu, adiantei-me um pouco, comecei a homenageá-lo antes.

      O berço em que cada um nasce, só tem interesse e valor, se a pessoa tiver crescido em harmonia com uma boa formação. Depois, serão os seus próprios interesses que farão dessa pessoa um escritor, um pintor ou um ladrão. :)

      Bom dia, um abraço.

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  4. Boa decisão, Janita, esta de se juntar a mim, comemorando o "Centenário" daquele que colocou a língua portuguesa num patamar onde ainda não tinha chegado...

    Abraço

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    1. Eu avisei-o, Rogério, não avisei?
      Eu já comecei, provavelmente, o meu amigo começará no próximo domingo, é isso?
      Esse mérito ninguém lhe o tira, mas que temos muitos mais bons escritores a divulgar a nossa Língua pelo mundo, isso é inegável.

      Abraço amigo.

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  5. Estamos na mesma onda.
    Não consigo ler o homem.
    Gosto de pontuação, o que é que posso fazer?
    Beijinhos

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    1. Desculpa Pedro, mas a pontuação está lá...invisível, mas está!

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    2. Estamos na mesma onda e temos a coragem de o admitir, não é Pedro? Ir contra a corrente não é fácil...Penso o mesmo, sem pontuação e diálogos, fico perdida e não entro na narrativa.

      Beijinhos.
      -------------------------
      Desculpa, UmaMaria... Provavelmente o Pedro, tal como eu, não conseguimos ver o que está...invisível! :)

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    3. Não precisas de pedir desculpa. Cada pessoa tem o direito de gostar ou não de um autor...
      Por exemplo, eu gosto de alguns romances de Thomas Mann mas nunca consegui ler, até ao fim, " A Montanha Mágica"...que dizem ser a sua obra-prima! Mas já "Os Buddenbrook" e " Morte em Veneza" são de se lhe tirar o chapéu! 😊

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    4. 😊 "A Montanha Mágica" li há muitos anos, no tempo em que quase todos os livros que lia me eram emprestados. Sinceramente, já não lembro bem do enredo. Seria bom que houvesse uma Editora que se lembrasse de fazer uma nova edição dos romances do escritor alemão, tal como fez a QUETZAL com os romances de J.Rentes de Carvalho. O Patrão da Barca blogosférica e vizinho do meu blogobairro, "TEMPO CONTADO". Até no supermercado comprei alguns que quis reler e outros que ainda não tinha lido.
      "Morte em Veneza", já não me lembro se li o livro, mas vi o filme.
      Beijinhos 😊

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  6. Bom dia, Janita. Vim cedinho porque ontem à noite a porta estava bem fechadinha.
    Pois, também gosto muito da poesia de José Saramago. Não me quero armar, mas já li vários livros de J.S. e gostei. Conheço uma rapariga que leu o Memorial do Convento - que era obra obrigatória no 12º ano - num par de dias. Ainda estou a ver a carita dela a falar do assunto com entusiasmo.
    Mas, pronto, cada um tem as suas preferências e impossibilidades. Também tenho as minhas. Se tenho.
    Um abracinho e cá fico à espera de outro poema do nosso Nobel. Virei cedinho enquanto a porta do Cantinho está aberta.

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    1. Bom dia, Maria Dolores.
      Diz muito bem: cada um tem as sua impossibilidades ou limitações, gostos, preferências por estilos de escritas e por aí adiante.
      A minha impossibilidade, aquela que refiro no texto em digo, com a maior sinceridade, não ter conseguido ir adiante na leitura do livro cujo título não revelei, mas se prende com o 'meu' Alentejo, não significa desmerecimento do escritor, mas, talvez, minha e só minha. Porém, como pude constatar, há mais pessoas com as mesmas «impossibilidades».

      Venha a Dolores cedo ou tarde, só por motivos muito especiais e raros, encontrará a porta deste (re)Canto fechada.
      Obrigada pela sua cordial visita.

      Um abraço.

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    2. Estás a referir-te ao " Levantado do Chão"? Adorei!

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  7. Acredito que não seja fácil ler Saramago, mas é um autor que tem livros bem interessantes o primeiro que li dele e fiquei deliciado foi o Memorial do Convento.
    Um abraço e continuação de uma boa semana.

    Andarilhar
    Dedais de Francisco e Idalisa
    O prazer dos livros

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    1. Acredito, Francisco.
      Quem soube escrever poesia tão bela, por certo saberá abordar temas interessantes. Isto é assim um pouco como os bons conversadores e os que gostam de conversar. O tema pode ser o mesmo, mas se uns nos cativam e prendem a atenção pela forma como contam a história, outros enfandam-nos de morte, por levar a conversa toda seguida deixando-nos sem fôlego só de os ouvir.
      Ainda que mal comparado, acho que cheguei ao ponto que queria.

      Até eu me admirei agora com esta minha clarividência, veja só!!

      Um abraço e obrigada.

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  8. O Memorial do Convento é um monumento de romance. E uma crítica feroz ao povinho....as descrições das touradas, dos autos de fé e das procissões são notáveis!

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    1. Pode ser que um dia, quando for velhinha, aprenda a Arte de Ler Saramago. Se tentasse agora, às tantas já conseguia apanhar-lhe o jeito, quem sabe? Nunca mais dei oportunidade ao homem! :(

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  9. Fiquei tão admirado de não "apreciar" a prosa de Saramago como a Janita vai ficar se lhe disser que nem sabia que o Nobel tinha escrito poesia!
    Cada um com os seus défices.
    Um bom dia para si Janita e grato pela divulgação.

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    1. Pois então saiba o Joaquim Ramos que o nosso Nobel da Literatura, publicou o seu primeiro livro de poesia "Os Poemas Possíveis", em 1966, ainda antes de "Levantado do Chão" que foi publicado em 1980. Segundo palavras de Saramago na sua autobiografia foi aí... "que nasce o modo de narrar que caracteriza a minha ficção novelesca.. E esta? :)

      Uma boa noite caro Joaquim. Se houver 'gratitudes' a fazer sou eu pela sua sempre agradável companhia.

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    2. ...referindo-se a Levantado do Chão, obviamente.

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  10. Quando eu era criança, sendo o mais velho de 5 irmãos, os meus pais eram muito pobres. Lembro-me da minha mãe fazer sopa de folhas de saramago, pois onde eu vivia os campos estavam recheados dessa erva. ( É apenas o meu voar da recordação)
    Gosto de Ler José Saramago. Este poema é lindíssimo .
    .
    Deixando cumprimentos
    .
    Pensamentos e Devaneios Poéticos
    .

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    1. Veja o Rycardo que eu nem conheço essa planta de nome saramago, que nasce espontânea e cuja folha é comestível. Será algo parecido aos agriões? Tenho de ir pesquisar.
      É bom deixar voar a mente ao sabor das nossas lembranças longínquas.

      Obrigada e retribuo os cordiais cumprimentos.

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  11. Estamos na mesma onda, apesar de ter comprado alguns livros dele, nunca os conseguir ler. Da poesia gosto e este poema que escolheste é lindo!
    Tenho no meu blog o busto dele, quando um dia fui passear até à terra que o viu nascer.

    Beijinhos amiga Janita

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    1. Se calhar estivemos a perder leituras de grande valor, Manu.
      Alguém que escreveu poesia tão bela só pode ter escrito belos romances. Mas porque carga d'água terá Saramago passado a escrever tudo a eito como se estivesse sempre apressado? É isso que me intriga!
      Estou capaz de ir a Lanzarote falar com a Pilar del Rio a ver se ela me recebe na sua cozinha enorme - onde eram recebidas as grandes personalidades e Chefes de Estado - para me esclarecer.

      Essa tua foto ou não a publicaste ainda, ou eu não me lembro.
      Beijinhos, querida Manu.

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  12. Vou repetir o que já aqui disse: creio que li toda a prosa do Saramago (excepto os Diários), mas pouca poesia. De alguns dos livros gostei mesmo, de outros, assim, assim. É de difícil leitura por causa da pontuação e falta de parágrafos? É uma questão de "treino", de apanhar o jeito.
    bjis.

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    1. E então? Quando voltar a vir cá para ler mais um poema de Saramago, volta a dizer o mesmo. Qual o problema? O lado bom de se dizer a verdade é não precisarmos de puxar p+ela tola para não nos denunciarmos. É essa a razão porque eu nunca minto.

      Quanto ao treino da leitura saramaguiana...será que ainda vou a tempo?

      Beijinhos.

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  13. Sou fã dele em todos os géneros.
    Na prosa temos que apanhar o ritmo!

    Abraço

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    1. És uma Mulher que se adapta às mudanças.
      Como disse Darwin - e se não disse deveria ter dito - as espécies que sobrevivem não são as mais fortes, nem as mais inteligentes, e sim aquelas que se adaptam melhor às mudanças.
      Já eu, sempre renitente, ficaria para trás.


      Abraço.

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  14. Nunca tinha lido nada de José Saramago, confesso. Apenas o que vai aparecendo "a qui e ali"
    Gostei do poema que nos oferece. Estou sem tempo para pesquisa, mas acredito que haverá aqui muito boa Gente que o vai fazer! 👏👏🌹
    *
    Beijo, e uma boa tarde.

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    1. Isto, desta vez, não é para pesquisa, Cidália! Isso foi a Catarina com a minha permissão. Vá lendo o que publico e já ficará a saber algumas coisas, quando se dispuser a ler escolha um livro de José Saramago, Ok?

      Beijo. :)

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  15. Um dia ouvi dizer já não me lembro a quem que a azinhaga era a única terra deste país que já tinha dito tudo sobre ela própria
    😊
    Acho que é sintomático

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    1. É natural!! Sendo a terra natal de alguém conhecido mundialmente, que nunca se inibiu de fazer referência à sua Aldeia, a Azinhaga é mais conhecida do que a Sé de Braga!
      Mais sintomático não poderia ser, caro Miguel. 😊

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    2. 😊 Estamos em sintonia, portanto!

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  16. Não és a única eu também comecei a ler dois livros dele e digo-te que não os acabei porque o sentimento que me causava era que descrevia algo até à exaustão. Comparei com algumas obras de Júlio Diniz...que ia numa estrada, via uma flor e esta ocupava 5/6 páginas descritivas.:))
    No entanto gosto muito de alguma poesia, reflexões e ou frases de ambos. Este poema e desde já peço-te desculpa, não me diz nada!
    Beijocas e um bom dia

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    1. Comigo foi diferente, Fatyly, pois não foi o excesso descritivo que me enfadou, carcterística essa que nem sei se a tem, pois nesse particular não cheguei a formar opinião.
      Júlio Dinis descrevia com minúcia as belezas que o encantavam, para poder encantar também o leitor, mas era rigoroso no português.
      Fazia parágrafos separando assuntos, pausava frases com vírgulas e terminava-as com ponto final.
      Desculpa, mas não lhes encontro nenhuma semelhança. Respeito, no entanto, que tu as vejas.

      Quanto ao pequeno poema que vos trouxe de José Saramago, eu gosto imenso...imenso, imenso! Silenciar as palavras, pois nenhuma expressaria melhor a palavra Amor, do que a semente deixada no ventre feminino. Gostei tanto e entendi-o tão bem - penso - que dei ao meu post o título: "Dar Voz ao Silêncio".
      Para bom entendedor...

      Beijinhos, Faty, fica bem. :)

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    2. Cada vez mais dou razão ao meu professor de Literatura que era excelente que nos dizia: Uma obra literária tem o sentimento do(a) autor mas lido por dez poderá suscitar 10 sentimentos diferentes. É o caso amiga:))
      Beijocas

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    3. Ah, mas eu também concordo com o teu ex-professor de Literatura. Não tenhas dúvida que ele estava certo.

      Beijos

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  17. Janita vai ser muito bom reler Saramago em suas postagens com os poemas. Um dia disse a minha professora secundarista, que não aguentava ler Machado de Assis, ela admirou e me fez gostar selecionando obras dele, Passei a colecionador-leitor,rsrs. Entendo amiga sua posição.
    Vamos de Saramago.
    Abraços com carinho.

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    1. Pois é isso, amigo Toninho...vamos de Saramago até lhe apanhar o 'jeito'! :)
      Cá o aguardo nas próximas publicações e continuação da sua autobiografia.

      Abraço amigo.

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