segunda-feira, 23 de novembro de 2020

AMANHÃ...É TERÇA-FEIRA!!!

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É terça-feira

e a feira da ladra

abre hoje às cinco

de madrugada


E a rapariga

desce a escada quatro a quatro

vai vender mágoas

ao desbarato

vai vender

juras falsas

amargura

ilusões

trapos e cacos e contradições




É terça-feira

e das cinzas talvez

amanhã que é quarta-feira

haja fogo outra vez

o coração é incapaz de dizer

"tanto faz"

parte p´ra guerra

com os olhos na paz


É terça-feira

e a feira da ladra

quase transborda

de abarrotada


E a rapariga

vende tudo o que trazia

troca a tristeza

pela alegria


E todos querem

regateiam

amarguras

ilusões

trapos e cacos e contradições


É terça-feira

e das cinzas talvez

amanhã que é quarta-feira

haja fogo outra vez

o coração

é incapaz

de dizer

"tanto faz"

parte p´ra guerra

com os olhos na paz


É terça-feira

e a feira da ladra

fica enfim quieta

e abandonada

e a rapariga

deixou no chão um lamento

que se ergue e gira

e roda com o vento

e rodopia

e navega

e joga à cabra-cega

é de nós todos

e a ninguém se entrega


É terça-feira

e das cinzas talvez

amanhã que é quarta-feira

haja fogo outra vez

o coração

é incapaz

de dizer

"tanto faz"

parte p´ra guerra

com os olhos na paz.


Imagem  da Net.

Volantes velhos, espelhos de todos os tamanhos, brinquedos de criança, soutiens de senhora, roupa e calçado de todo o tipo, quinquilharias e velharias, vasos, pratos, copos, talheres, candeeiros, relógios, chaves, molduras, azulejos, bugigangas, perfumes, estatuetas e máscaras africanas, cachecóis dos maiores clubes portugueses e da Selecção Nacional, quadros, enciclopédias…
Tudo se se vende e compra na maior feira de Lisboa!


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31 comentários:

  1. Agora as feiras estão proibidas acho eu. Não estão poeticamente. Gostei muito de ler.
    .
    Saudações poéticas

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    1. Deixe para lá as proibições, Ricardo.
      Por este andar qualquer dia até nos proibem de respirar! :(

      Saudações.

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  2. Vou lá, ou melhor ia, com frequência por causa do ambiente! E da vista para o rio a partir do Panteão! Comprar...nunca lá comprei nada!

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    1. Veja só, UmaMaria, como eu me fui lembrar disto... as voltas que a nossa cabeça dá! :))

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  3. A minha filha vai, no próximo fds ao Porto, juntar-se ao seu amado! 🥰 Não sei como consegue ...apesar da Covid estar mais calma em Beja...mas lá vai ela! 400 e tal km para estar com o seu amado....que deve estar estoirado porque a Covid-19, no Porto, está muito mal. Mas o amor é mais forte! Nunca mais chega 2022 para o casamento se fazer....livra!

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    1. O que não se faz por amor?!
      Tomara que seja sempre assim, já que há uma cantiguinha que diz assim:
      "eu antes para te ver
      saltava 4 quintais
      agora pra te fugir
      saltaria uns 30, ou mais!!


      Credo! Que pressa é essa? Noivar é bem melhor do que casar. :)

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    2. Ó Janita, andatem sempre a fazer km, gastar gasolina, portagens e o desgaste físico, é obra!
      Eu sei que não tenho a idade deles mas, no final de uma semana a dar o litro, ainda fazer isto....é preciso gostarem-se muito!
      Eles têm mesmo é de estar juntos no mesmo sítio mas, infelizmente, ainda não é possível! Um está no Norte, o outro está no Sul.....

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    3. Eu sei, eu sei. Preocupações de mãe!
      Isto agora está a ficar complicado...
      Desejo que um dia possam estar juntos e que a façam conhecer as delícias de ser avó... :)

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  4. À Feira da Ladra nunca fui, mas à da Vandoma, no Porto, sim, embora nunca nada tenha comprado ou vendido
    Mas compras e vendas com origem ou destino, de cá ou para cá de casa, não faltaram. Artigos inúteis para quem os vendia, ou com alguma utilidade para quem os comprava, tudo a preço da uva mijona, como se impunha.
    Um beijinho

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    1. Veja só o José o paradoxo.
      Eu, nunca fui à feira dessa tal Vandoma tão falada, cá para cima, e fui uma vez à da Ladra. Há tantos, tantos anos que me parece ter sido noutra encarnação. Era ainda uma menina recém-chegada do Alentejo e fomos lá com uns familiares. Tenho uma ideia muito vaga de ver muita tralha no chão.

      Dois Beijinhos.

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  5. Andei por lá muita vez. Durante anos fiz consultas no Hospital da Marinha e o meu médico era sempre à Terça-feira. Ia sempre umas duas horas mais cedo, só para dar umas voltas pela feira. Nunca comprei lá nada, apenas gostava do ambiente, mas o meu falecido pai quando lá ia era sempre para compra alguma coisa. Nomeadamente aqueles lenços grande verdes da tropa, que ele adorava e que só encontrava lá. Mas também ferramentas e outras coisas.
    Gostei muito de recordar a Terça-Feira do Sérgio Godinho.
    Abraço saúde e boa semana

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    1. Quando andei a procurar a imagem vi e li muito sobre essa feira e da sua tradição lisboeta. Sendo uma feira franca dá para qualquer pessoa lá ir despachar as coisas de que já não precisa. Quem compra, no meio de tanta variedade, sempre encontra o que necessita sem gastar muito dinheiro.

      Tão antiguinha esta canção do Sérgio... mas aconteceu algo comigo que me levou a pensar neste post. Enfim, voltas que a nossa cabeça dá.

      Um abraço e obrigada, Elvira.

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    2. É verdade Janita! Nos anos 70 tinha amigos que iam à Feira da Ladra para vender roupa e discos que já não queriam. E vendiam tudo!

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    3. Bons tempos, em que mesmo sendo o dinheiro curto, foram tempos alegres e festivos...

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  6. Nunca fui a uma feira da ladra, mas chegou a fazer parte dos meus sonhos.
    Hoje será impossível,não há feiras nem tralhas estendidas pelo chão.
    Há ausência de tudo e tristeza de todos aqueles que faziam disso o seu modo de viver.
    Vale este poema que nos faz reviver bons tempos.

    Beijinhos Janita
    😘😘😘

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    1. Aí está um sonho que nunca sonhei, Manu. Quando miúda é que mal o Verão rompia, com os primeiros calores, ficava em pulgas pela feira anual que começava a 24 de Agosto, mas aquilo era uma feira a sério. Filas de tendas, algodão doce e até Circo tinha.

      Agora? Pois...agora andam a querer meter-nos numa camisa-de-onze-varas, é o que é. Bem espartilhados, mudos e quedos e sem rabiar muito!

      Beijinhos, querida Manu. 😘😘😘

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  7. Nunca lá fui, pudera, estou muito longe! Mas agora temos que deixar isso para lá!:)
    --
    Um rosto sombrio...
    -
    Beijo e uma excelente semana.

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    1. Os feirantes, em geral, é que se deixarem para lá, vão viver do quê?

      Boa semana, Cidália.

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  8. Feira da ladra
    Uma figura poética tão rica
    😊

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    1. Era a Feira da Ladra e o Mercado da Ribeira.
      Sempre propiciavam belos motivos de romance. :)
      Gostei de o ver aqui na minha Feira...

      Obrigada e um abraço.

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    1. Não me diga?! E eu que pensava que não gostaria nada de tralhas, cacos e quinquilharia...Enganei-me, portanto.

      Desejos de Tarde agradável.

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  10. Um abraço da amiga de longe, que não gosta de feiras, mas gostou do poema.

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    1. O Poema fala de tralhas, cacos e sonhos; tudo o que a burguesia costuma repudiar... mas fico muito contente poe te ver solidária com as gentes do povo. :)

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    2. Embora tenha apreciado a LINDA LETRA E MUSICA PORTUGUESA NO SEU MELHOR, repudio tralhas, cacos, quinquilharias e até ao Natal quero oferecer toda a tralha que tenho cá em minha casa.

      Repito: eu que nunca vejo e ouço os vídeos, desta vez ouvi, e fiquei encantada com a canção do Sérgio
      Godinho!!!

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    3. ...é sempre a primeira vez, não é?
      :-))

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  11. Há que séculos que lá não vou.
    Bem precisava de me desfazer de muita tralha, como a rapariga do poema!

    Abraço

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    1. Isto agora está a ficar tudo tão quieto e apático, que qualquer dia já não temos a certeza de estar vivos. :(
      Nem Feiras nem coisa nenhuma já se vê bulir.
      Não podes ir à feira mas podes desfazer-te da tralha, Leo.
      Garage Sale é o que está a dar.

      Abraço.

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  12. Olha a "Feira da Ladra"...
    Conheço bem esta canção do S.G. e também conheço bem a tal feira como podes confirmar aqui:
    https://koktell.blogs.sapo.pt/69771.html
    Agora nem tanto mas muitas manhãs de sábado por lá deambulei não tento como comprador mas mais como curioso; tanta gente e tanta coisa para ver...
    Beijos com oferta de sorrisos :))

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    1. Então, Kok? Por onde te metes que passa tempos sem te deixar ver, meu velho? ahahaha
      Já vi, já vi e vi que há dez anos a Feira da Ladra era local por onde dava gosto deambular. Se se gostava, comprava-se o que se precisava.
      Soubesse eu que a vida se ia transformar neste marasmo, já tinha marchado à Feira da Vandoma com os livros velhos, lidos e relidos, as 'antiguidades'; jarras, jarrões, bonecas e toda a traquitana que mora há anos lá para o meu sótão.
      Enfim, quando nos derem ordem de soltura já não podemos mexer as pernas.

      Se ofereces, eu aceito e retribuo. :))

      Beijinhos.

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  13. Tenho estado a recuar no teu blogue e vejo que perdi montes de postagens. Agora fico a pensar se alguma vez apareceram nas atualizações. E o tempo está a passar tão rapidamente que nem pensei que não tinha visto nenhumas postagens novas ultimamente. Mistério!!

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