quinta-feira, 15 de outubro de 2020

As Palavras Que Nunca Trocámos.

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Quis falar-te 

da minha descoberta

daqueles dois pequenos míscaros

 - assim são conhecidos na região beirã - 

os cogumelos que tanto gosto.

Nunca comi iguais aos que comia,

carnudos e transbordantes da água

a saber ao sal da grelha.

 

Saborosa lembrança dos meus tempos de menina,

no meu querido Alentejo.


Gostaria tanto de contar-te, 

mas não contei

não me deste oportunidade.

Não deixaste que te dissesse

do meu assombro,

do meu deslumbramento,

pela descoberta daqueles 

dois pequenos e belos fungos

onde uma joaninha vermelha pousou.


Não te falei do medo que senti

temendo pela vida do pequeno e belo insecto.


Era ainda tão menina,

alguém me disse que no interior de tanta beleza, 

se podia esconder a morte, 

a dor e a tristeza.


Mas como? - me perguntei, então - 

se era ali que viviam os

pequenos duendes, 

das minhas histórias encantadas?


Ninguém me respondeu,

não  havia lá ninguém a não ser eu.


Tu não me deste ouvidos.

Chamaste-me parva e partiste,

sem dizer para onde.

Deixaste-me só

com mais uma história 

desse meu tempo de menina

que não te contei.

 

Retalhos da minha vida

que nunca soubeste e jamais te contarei.


[ A minha versão do que foi contado AQUI. ]


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24 comentários:

  1. Fico sensibilizado com a distinção e agradeço que a inspiração tenha nascido dos fundos do meu lugar.
    Fico reconhecido.
    Boa Noite.

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    1. A inspiração nasceu das suas palavras, acredite ou não! :)

      Um abraço.

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  2. Um dia avancei
    que a blogosfera
    já não é
    aquilo que era

    Este tipo de relação
    entre o texto e o outro
    é tão bonito
    que faz renascer a esperança...

    Abraço ao dois!

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    1. Concordo absolutamente com as palavras do nosso amigo Rogério 💚

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    2. Que bonito isso, Rogério.
      Como vê, nem sempre se podem fazer 'avanços' precipitados.

      Um grande abraço meu para si também, Rogério, e o meu obrigada pela parte que me toca.
      O Sr. das Nuvens ainda deve de estar em estado de choque, mas vai retribuir-lhe o abraço, certamente.

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    3. Com qual das partes? É que há duas... 🤔

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  3. Míscaros.
    Há quantos anos não ouvia/lia a palavra!
    Beijinhos

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    1. O Pedro já conhecia o nome? É que eu apenas ouvia da boca das gentes naturais da Beira Baixa, ali pela Aldeia do Carvalho, onde vivia uma amiga que perdi de vista. :)
      Beijinhos.

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  4. Achei interessante esta relação entre estes dois blogues.
    Sou daquelas que me meto no meio dos pinhais para apanhar míscaros :)

    Beijinhos Janita

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    1. Creio que a relação é somente pela gentileza e generosidade que o autor do "brancas nuvens negras" teve quando decidiu oferecer alguns originais das suas bonitas aguarelas aos seus leitores assíduos. A mim calhou-me esta. Tive sorte, pois foi justamente a que mais me havia encantado.
      Pela minha parte decidi retribuir a gentileza, dedicando-lhe esta espécie de poema em jeito de história. Apenas isso. Não sou pintora nem poetisa... :)

      Um beijinho, Manu.

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    2. Acrescento ainda que conheço bem os miscaros e faço bons pitéus com eles .
      Beijinhos Janita
      😘😘😘

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    3. E fizeste bem em acrescentar os míscaros, Amiga! O que se leva desta vida é o que se come e que se bebe e o que brinca, ai, ai... 😂

      Beijinhos, Manu.
      😘😘

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  5. Gostei muito, Janita! Pudesse eu ainda caminhar pelos pinhais e por lá ficaria horas a fio a contemplar pinheiros e cogumelos.

    Beijinho :)

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    1. Há aquele ditado tão fatalista que até me custa repetir, Maria João. Dizia alguém que: «Quem andou não tem para andar».
      Eu penso que sempre se caminha, por pinhais ou florestas ou por mar e pelo ar. Se não pelas próprias pernas, que seja através dos meios que se têm ao seu alcance, como a poesia, por exemplo. :)

      Beijinho.

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  6. Interessante adaptação. Há anos que não como míscaros, bem gostosos que são (eram).
    1 bji

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    1. Ainda hoje os comi estufados, mas daqueles que se vendem, tão brancos e limpos que mais parecem lavados com lexívia. Míscaros de verdade, só consumo se apanhados por quem conhece.
      E eu não conheço ninguém que os conheça...:)
      Beijinho.

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  7. Muito bonito! Intercâmbio e amizade entre blogues, convivência sã.

    Caramba, como o Mundo precisa destes exemplos! Anda tudo ensandecido.

    Gosto muito de cogumelos mas, sou daquelas que os vai apanhar á prateleira do supermercado.

    Infelizmente, nunca vivenciei a apanha no campo, tipo tesouro.

    Um abraço do Algarve,

    Sandra Martins

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    1. Não, não, Sandra. Não é amizade. O autor deste blog declinou gentilmente a minha amizade. Disse-me que que não gostava da banalização do termo. Amizade é algo muito mais do que uma simples troca de comentários entre pessoas que nem se conhecem se não através das redes sociais, coisa que dispensa e curiosamente, eu também. Tanto que nem tenho página no FB.
      Não sei porquê, não considero os blogues como uma rede social, se calhar até é. É evidente que não foi com todas estas palavras, eu é que falo pelos cotovelos.

      Um abraço cá do Norte.

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  8. Muito bom. Que interessante texto!:)
    -
    Baloiço do tempo...
    -
    Beijos e um excelente dia!

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    1. :) Que bom ter gostado, Cidália.

      Beijo e uma boa noite.

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    1. Eu, assim o entendi.
      Faltou arranjar uma composição à altura do poema inspirador, talvez.

      Obrigada, Mar Arável.
      Abraço.

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  10. Que linda lembrança dos tempos de infância.
    Com tanto amor.
    Adorei 😊

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    1. Tudo o que digo e faço sai-me do coração.
      Umas vezes agrado, outas vezes, não!
      😱

      Muito obrigada, Miguel.

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