terça-feira, 6 de outubro de 2020

Que Volte A Confiança E Todos Os Risos Se Iluminem.

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Esta ausência não foi por nós pedida,

este silêncio não é da nossa lavra,

já nem Pessoa conversa com Pessoa,

com o feitiço sempre imenso da palavra


Este tempo só é o nosso tempo

porque é nossa a dor que nos sufoca

e faz de cada dia a ferida entreaberta

do assombro que esquivando-se nos toca


Esta ausência é dos netos, dos filhos, dos avós,

é a casa alquebrada pelo medo,

é a febre a arder na nossa voz

por saber que o mal a magoa em segredo


Este silêncio é um sussurro tão antigo

que mata como a peste já matava;

vem de longe sem nada ter de amigo

com a mesma angústia que nos castigava


Esta ausência é uma pátria revoltada

que se fecha em casa sempre à espera

que a febre não a vença nem lhe roube

a luz mansa que lhe traz a Primavera


Esta casa somos nós de sentinela,

à espera que a rua de novo nos console

e que festeje debruçada à janela

a alegria que só nasce com o sol


Esta ausência mais tarde há-de ter fim,

por nada lhe faltar nem inocência;

que se escute o desejo de saúde

anunciando que vai pôr fim à inclemência


Que se abram as portas e as janelas,

que o medo, derrotado, parta sem destino

por ser esse o sonho colorido

que ilumina o riso de um menino.


José Jorge Letria 

(20 de Março de 2020)

14 comentários:

  1. «Que se abram as portas e as janelas»
    Que se abram
    A minha janela sempre ficou aberta
    A minha porta sempre ficou no trinco

    Apareça
    espera-vos um sorriso de garoto
    este meu, pois não tenho outro

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  2. Porque é que não ferveram a porcaria do morcego???
    Beijinhos

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  3. Um poema feito de esperança, na esperança de melhores dias.
    Abraço poético.
    Juvenal Nunes

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  4. Bom dia
    Vou utilizar uma frase que nem todos gostam , mas aqui faz todo o sentido .
    Assim seja .

    JR

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  5. Um excelente poema do José Jorge Letria, bem demonstrativo deste tempo estranho que passamos.
    Abraço e saúde

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  6. Muito lindo o poema trazido,Janita e a imagem inicial, muito legal! beijos, chica e ótimo dia!

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  7. Excelente poema! Obrigada, gostei imenso da mensagem deste poema do José Jorge Letria, Janita!

    Beijinho

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  8. Não sei se a desconfiança é geral, ainda que cuidados e caldas de galinha.... Mas a não presença física do outro, isso sim, pesa imenso no nosso bem-estar do dia a dia.
    bjis.

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  9. Li em silêncio e, fascinado pela inspiração e criatividade poética, em silêncio me deixei ficar.
    .
    Um dia feliz
    Saudação amiga.

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  10. Um poema simplesmente brilhante!! :)
    Boa noite!

    Beijo

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  11. A desconfiança como condimento da infelicidade
    É difícil lidar com ela
    Gostei da recordação

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  12. Um poema tão actual, que retrata na perfeição o tempo que vivemos.
    Que venha bem depressa a confiança que tanto desejamos.
    Beijinhos Janita
    😘😘😘

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  13. Por motivos vários, aos quais a minha vontade «não» foi alheia, estive afastada do meu e dos vossos cantinhos, por um curto período de tempo, mas que a mim me pareceu longo.
    Aos Amigos e visitantes que tiveram a generosidade de me acompanhar na leitura e apreciação deste poema, reflexo de um sentir ainda tão fresco na memória colectiva, o meu Muito Obrigada.

    Um abraço para o:

    Rogério Pereira
    Pedro Coimbra
    Juvenal Nunes
    Joaquim Rosário
    Elvira Carvalho
    Chica
    Maria João Brito de Sousa
    José (500)
    Rosa dos Ventos
    Ricardo
    Cidália Ferreira
    Porventura
    e Manu.

    Bem-Hajam!

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