terça-feira, 26 de outubro de 2021

INIMIGOS COMUNS.

 Numa daquelas gavetas onde guardamos tudo quanto é papelada tipo apontamentos, pequenos livros, agendas antigas e eu sei lá que mais, fui encontrar uma pequena agenda que me foi oferecida há tanto tempo que já não lembro por quem.  Com pequenos poemas de autores nacionais e estrangeiros, este, incluído no mês de Junho, chamou-me a atenção:

"Os livros têm os mesmos inimigos
que o homem: o fogo, a humidade,
os animais, o tempo;
e o seu próprio conteúdo."

(Grande verdade!)


Não conhecia o autor, gostei do interessante poema e fui tentar saber mais acerca deste Poeta, de seu nome Paul Valèry.
Provavelmente, bastante conhecido de muita gente, mas eu nunca tinha dele ouvido falar.

Fiquei a saber que Paul Valéry, nasceu em Sète, França, em 1871. 
Publicou o seu primeiro livro em 1907, aos 36 anos. 
Apesar disso é autor de uma obra vasta e original que abrange temas bem diversos como arquitectura, música, literatura e dança. 
Trabalhou em empresas públicas e académicas e foi professor do Collège de France. Morreu em 1945, em Paris.
Li vários dos seus poemas, todos dignos de registo, 
mas, para hoje, seleccionei este, que espero vos agrade,
tanto quanto me agradou.

**************

Sob O Sol

Sob o sol no meu leito após a água -
Sob o sol e sob o reflexo enorme do sol sobre o mar,
Sob a janela,
Sob os reflexos e os reflexos dos reflexos
Do sol e dos sóis sobre o mar
Nos vidros,
Após o banho, o café, as ideias,
Nu sob o sol no meu leito todo iluminado
Nu - só - louco 
Eu!
 
(Tradução: Augusto de Campos)




50 comentários:

  1. Interessante a sua publicação de hoje, gostei especialmente da ideia das surpresas que uma gaveta da chamada "tralha" nos pode revelar. Pode ser um filão para muitas ideias.
    Boa Noite, um abraço.

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    1. Esta gaveta não é bem a da "tralha", essa é uma que tenho na cozinha. A esta chamo-lhe, "gaveta das surpresas". :)
      E então? Não me diz se gostou dos poemas?

      Um abraço e tenha uma boa noite.

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    2. Agora, sei! Antes de mo dizer, não! :)
      Um abraço.

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  2. Será que eu retirando muitas tralhas da minha gaveta, o que estou há horas para fazer, não encontrarei alguma coisa que valha a pena? Está difícil, parece-me que não quero pôr nada fora...que um dia usarei. Que nada, assim é que acumulamos coisas.
    Mas, tiraste da tua gaveta um poema ótimo para dividir com teus amigos. E gostei muito de conhecer, procurarei conhecer mais do poeta. Sempre haverão surpresas!
    Uma feliz semana, querida amiga.
    Beijinhos.

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    1. Esta é mais um 'gavetão' que enfiei por debaixo da mesa/secretária onde tenho o PC, livralhada etc, etc,.Quando começo a ficar sem espaço de manobra, vai tudo pra lá.
      Quando me lembro de dar uma olhada, é cada surpresa...!! :)

      Beijinhos, querida Taís.
      Tudo de muito bom por aí, com a Primavera chegando em força.

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  3. A Mariana mandou-me uma mensagem a dizer que tinha comprado Uma Canção de Aquiles, de Madeline Miller.
    Fiquei tão chateado :))
    Beijinhos

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    1. Querida Mariana...filhota mai-nova. :)
      Aproximar os Deuses dos humanos ou vice-versa, quem nunca?...

      Beijinhos, amigo Pedro.

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  4. Uma gaveta que contem pequenos tesouros.
    Gostei de ler.
    Bjos

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    1. É isso, Catarina, tesouros que ganham uma maior dimensão, por completamente esquecidos.
      Obrigada, um beijo.

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  5. Desconhecia por completo e abençoada gaveta que provocou esta surpresa tão agradável para mim. O primeiro poema é tão simples e tão real. O segundo também gostei imenso por ser diferente em tudo. Hei-de pesquisar melhor:)
    Por fim algo que adoro "o teu penduricalho" é semelhante a vários que tenho e todos oferecidos ao que na minha terra chamam-se "espanta espíritos". Quando logo de manhã vou ao café e deixo a casa em corrente de ar...eles cantam e como adoro o som:))))

    Saio daqui super bem disposta e feliz. Obrigada amiga.
    Beijocas e um bom dia

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    1. Não tens uma gaveta da «tralha», Faty? Não sabes quanto perdes!
      Quem guarda e esquece, quando reencontra, conhece tesouros inestimáveis. :))
      Este grande espanta-espíritos foi-me oferecido num Natal. Ficou logo ali pendurado e lá ficou. Tilinta quando afasto os cortinados, mas esta é uma varanda com umas portadas pesadonas que pouco uso têm, neste mausoléu...Uma boa ideia isso de deixar a casa em corrente de ar. Tenho de passar a ir tomar café ao...café.
      Beijinhos, bem dispostos, sempre.

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    2. Não, não tenho, embora agora tenha o guarda-fatos e cómoda que era da minha mãe com o que consegui trazer da ex-casa dela com imensa tralha. Antes fiz uma seleção e sei o que guardei não vá ela pedir algo.
      Eu sou muito organizada mas não obsessiva. Papelada? Tudo arquivado em pastas. Felizmente tenho a casa imensamente vazia.
      Quando me levanto há anos que obrigo-me a ir ao café tomar apenas café e deixar tudo em corrente de ar. O pequeno almoço, almoço e café a seguir ao almoço é tudo made in casa:))))
      Beijocas e um bom dia

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  6. Bom dia, Janita

    E o Sol coado da sua janela ilustra bem o poema de
    Paul Valèry. Gostei imenso de encontrá-lo aqui,
    com o interessantíssimo toque que dá sempre
    às suas publicações.

    Devo dizer-lhe que o espampanante
    dióspiro foi uma delícia de leitura e adorei a gostosa ​maçã com
    aquele nome tão incomum descrita pelo desconhecido autor,
    para mim, que tive o cuidado de ir pesquisar.
    O quê? Blismula? onde é isso? perguntei-me :))
    E adorei ficar a saber.

    Tenha uma boa semana e com excelentes postagens,
    como sempre.

    Beijo
    Olinda

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    1. Bom Dia, Olinda!

      Eu sabia que deveria haver alguém que conhecesse este Autor.
      Eu só o descobri agora e através de algo que tenho há imenso tempo, veja só como são as coisas. :)

      Fiquei muito feliz pela Olinda ter feito uma retrospectiva dos meus posts e ter gostado e, sobretudo, ter ficado a saber algo que desconhecia. Cada vez me convenço mais de que a cultura e o saber, advém da curiosidade de querer aprender.

      Muito obrigada pela sua visita que muito me honra e satisfaz.
      Beijinhos.

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  7. Gosto dessas gavetas que têm sempre coisas que nos surpreendem.
    Os versos são lindos!
    Gosto do teu espanta espíritos.

    Beijinhos amiga

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    1. Querida Manu, quando menos esperamos vêm-nos ter às mãos coisas que nos encantam e deslumbram. Ficamos até incrédulos por nunca nos termos apercebido disso. Não há dúvida: ver é uma coisa, olhar com olhos de ver, é outra! :)

      Beijinhos grandes, amiga.
      Tem um bom dia.

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  8. Não me recordo de ter lido o autor, embora saiba que foi membro da Academia Francesa e sobre a sua obra terei lido alguns comentários.
    Quem não tem um "canto" onde arruma coisas - cartas, postais, apontamentos, fotos - esquecidas, e que numa qualquer arrumação aparecem e nos causam espanto - por estrem esquecidas?
    bji.

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    1. estarem e não estrem.

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    2. Sim...quem não tem? Eu tenho duas, uma na cozinha, onde meto tudo o que tenho pena de deitar fora, como um parafuso que encontrei e pode servir para qualquer coisa, sacos de plástico e papel, rolhas de cortiça, molas da roupa para fechar sacos abertos, olhe, uma infinidade de porcarias que um belo dia deito quase tudo fora.
      Este gavetão de papelada, contas já pagas e apontamentos, não.
      Raramente deito fora o que aqui guardo. Manias...sabe? Aquilo de: "quem guarda, acha"? Agora, achei!! :)

      Espero que essa saúde vá bem, José.

      Um beijinho

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  9. Também nunca tinha ouvido falar desse poeta. Gostei do poema que é assertivo, muito verdadeiro.
    .
    Saudações poéticas
    .
    Pensamentos e Devaneios Poéticos
    .

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    1. Mais do que assertivo, caro Rycardo. Este poema é uma relíquia.
      Obrigada.
      Saudações, poéticas e não só.

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  10. Eu não conhecia, gostei dos poemas e agradeço a partilha.
    Também agradeço aquela joia que me deixou no comentário. Muito obrigada.
    Abraço e saúde

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    1. Ah, amiga Elvira, que bom vir dizer-me que não ficou aborrecida.
      É que me senti algo intrometida, como se estivesse a meter a minha foice em seara alheia.
      Não fosse sentir-me tão ligada a esse poema, não o teria feito.
      Sabe quem me o 'ofereceu'? Foi a Laura do blog "Laços e Rendas de Nós", não sei se conheceu. Mas, antes deste blog teve outro.

      Tive a felicidade de o ouvir pela 1ª vez AQUI, em 2013.

      Quatro anos mais tarde, em 2017, voltei a publicá-lo AQUI.

      Quando vi que a Elvira tinha publicado esta relíquia poética, não resisti.
      Muito obrigada, Amiga Elvira.
      Um grande abraço e muita saúde.

      PS- Se tiver um pouco de tempo disponível, não deixe de ver o último link, por favor, vai gostar.

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  11. Conheço Paul Valéry. É claro que não conheço toda a sua obra...bonito o poema que publicas, aqui no blog. Espreita também Mallarmé...
    Eu tinha gavetas de tralha mas, durante o 2° confinamento, tive de destralhar a minha casa para a remodelar totalmente e, aproveitei e deitei muita, mas muita coisa fora. E ainda bem!A casa ficou mais leve 😊

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    1. Olá, Manela!
      Não te sabia tão chegada à poesia, rima e é verdade. :)
      Se os poemas de Valéry não encontram eco em todas as compreensões, imagina Mallarmé. São ambos da mesma linha, ambos escreveram sonetos muito interessantes, mas nem um nem outro me encantam por aí além. De vez em quando, está bem, assim como um tira-gosto das minhas simplicidades poéticas.

      Então, estás mais contente? O que disse o senhor doutor?
      Estás fina, claro!😊

      Beijinhos.

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    2. Estou a recuperar bem, felizmente. E já arranjei uns óculos para ver ao perto. Agora tenho olho de lince para o longe mas o perto precisa de ajuda. É assim mesmo! Para a semana já vou trabalhar 😥

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    3. E pões-te a chorar por já estares boa e puderes ir trabalhar?
      É por isso, por essa pouca vontade de dar o corpo ao manifesto, que isto está como está... :(
      E agora chora mais um bocadinho... 😅

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    4. Tou velha! Preciso é de sopas e descanso...

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  12. Desconhecia totalmente. Os melhores tesouros estão engavetados!:))

    Beijos e um excelente dia!

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    1. E e não é que agora a Cidália saiu-se com uma frase digna de ficar para a posteridade? Gostei!😊

      Obrigada, amiga, para si também.

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  13. Fiz uma pausa na discussão parlamentar sobre o OE para vir espreitar o seu cantinho, pois ali já não há surpresas.
    A sua gaveta de tralha ou de surpresas, parece a célebre arca de Pessoa, donde se extraem poemas e livros sem fim...
    Quanto ao poema, não consigo imaginar-me sob o sol no meu leito e simultaneamente sob a janela. Só se for numa casa com terraço ou rooftop como agora se chama e com janelas, ou uma casa que tenha sido bombardeada a que tenha caído o telhado e mantido as janelas; mas pronto o problema deve ser meu.
    É um problema antigo que eu tenho com a poesia Janita.

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    1. A aprovação do OE está a deixar a parturiente ( leia-se geringonça) doente...já vai de cadeira de rodas!

      Mas vamos ao que interessa, aqui e agora.
      Eu a pensar que o Joaquim Ramos fosse um apaixonado - algo boémio e instável, porém, apaixonado - por poesia e diz-me uma coisas dessas? Onde leu que era para estar em simultâneo sob o sol, na cama, e sob a janela?
      Há, mas disso de rooftop já percebe, até parece o CR ex-7.

      PS- Amanhã, a partir das 21:00 passe por cá, se puder, para ver se vai perceber ( e gostar) de uma publicação muito interessante que trago em mente.

      Boa noite, Joaquim.

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  14. Que poema lindo, Janita!
    E que gaveta poderosa essa! Bora mexer na gaveta e tirar lindas poesias. Eu já conhecia esse poeta, já li algumas poesias dele e gostei.
    -
    Blog da Marli
    -
    Bjs, Marli

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    1. Olá, Marli.
      Fico bem feliz por a saber fã de gavetas de tralha. Quem não tem, não acha? É aquela que não é disto nem daquilo, e é de tudo.
      Muito grata por mais esta visita, tenho que arranjar tempo para visitar e retribuir, a amabilidade dos meus seguidores.
      Um beijinho grato.

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    2. Olá, Janita!
      Obrigada por responder meu comentário. Tenho visto você em vários blogues e gosto muito de seus comentários, sempre oportunos e adequados, por isso arranjo tempo para vir aqui ler seus posts. É que detesto aqueles comentários tipo spam, que a pessoa nem lê e diz sempre a mesma coisa. Sou muito observadora, não sei se é bom ou ruim, mas, sou dessas, rsrsssss.
      Bjs

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  15. Eu n tenho gavetas
    Tenho uma divisão inteira com muita tralha
    😂

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    1. 😂😂...isso é que foi acumular tralha, Miguel.
      Parece as "buracas" do meu sótão.
      (Dei o nome de buracas às partes laterais onde só se anda de cócoras)

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  16. Oi Janita
    Eu tento acabar com as 'tralhas,'mas ainda não consegui_ tiro uma e reponho outras tantas_ que bom saber que temos muito em comum.
    Paul Valéry já li muito dele e penso que também já publiquei.
    Interessante estar assim 'sob o sol' gostei também.
    Beijinho, amiga e tenho vindo sempre a noite por aqui, vou tentar antecipar para te pegar acordada rs
    meu abraço e carinho

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    1. Olá, Lis!

      Mas olha que eu também não. Aqui falo de uma ou duas gavetas, porém, entre o sótão e o andar inferior, há tralha que nunca mais acaba. Quando digo 'tralha' não quero dizer 'trastes' coisas sem valor, não. Há toda uma série de coisas que se foram adquirindo pensando no futuro. Não só próprio como das gerações vindouras, afinal, os filhos foram adquirindo as suas próprias tralhas e ainda vieram depositar algumas por aqui. Por isso, um dia eles que se desfaçam de tudo, cá por mim já vou oferecendo muita coisa minha...tudo, calçado, bibelots, roupas...menos livros. Esses, são amigos sagrados!!

      Beijinhos, querida Lis, vem quando te der jeito, nunca ficarás sem resposta. :)

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  17. Ia a dizer
    Não restar nada a dizer
    Cheguei tarde
    Está tudo dito
    Mas caem-me os olhos
    No namoro sol-lua
    Que bonito

    (cheguei a confundir o Paul Valéry com o Paul Verlaine,que recomendo)

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    1. Como também vou aonde me recomendam para ir, lá irei ver o outro Paul, sim senhor! Obrigada.

      O sol e a lua, eternos enamorados
      podem não encontrar-se na rua,
      mas, encontrar-se-ão sempre
      atrás dos meus cortinados.

      :)

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  18. Conheço bem o poeta mas não conhecia o poema.
    Sempre a aprender!

    Abraço

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    1. É francês...está tudo dito! :)
      Não será muito fácil que se aprenda muito neste espaço, mas sou curiosa, isso é algo que vai pesando a meu favor. Penso eu!

      Um abraço também.

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  19. Obrigado pelas inbformações.
    Não posso dizer que conheça bem a obra deste senhor
    :-)

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    1. Não tem de quê, Miguel.
      Não que eu saiba muito, mas gosto de partilhar ideias, opiniões saudáveis, e as belezas poéticas e outras, do que vou tendo conhecimento. :-)
      Um abraço!

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  20. O que aqui se aprende, impressiona.
    Beijinho, Janita.

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    1. É Vida... Com tudo e com todos aprendemos, meu Amigo.
      Até nos sites mais improváveis, vê lá tu o paradoxo!

      Beijinhos, António.

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  21. Olá, seu artigo foi muito bom. Cuide-se :)

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    1. Olá, muito grata pela sua visita e cuidados. :)

      Cuide-se também.

      Saudações.

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