________
Hoje, volto a deixar-vos uma história em verso, de raízes antigas e tradicionais, vinda do tempo dos trovadores, que poderia servir a uma análise bastante profunda, quem sabe até, a um estudo de comportamento, no aspecto moderno da emancipação da mulher.
O FIDALGO E A CAMPONESA
(Fidalgo)
Gentil pastora, ouve um estranho,
deixa o rebanho, vem me escutar
pois que perdido há mais de uma hora
vago pastora neste lugar.
(Pastora)
Senhor bons dias, bem-vindo seja
tranquilo esteja que a vila é perto.
Siga essa estrada bem direitinho
não há caminho mais curto e certo.
Extensas léguas hei caminhado,
estou prostrado não tenho ar.
Vê se me indicas qualquer um pouso
onde o repouso possa encontrar.
estou prostrado não tenho ar.
Vê se me indicas qualquer um pouso
onde o repouso possa encontrar.
Senhor bem vejo que vós sois nobre
meu lar é pobre vede-o acolá.
Se aos vossos brios não há perigo
meu triste abrigo não longe está.
Muito obrigado gentil morena
mas, ó que pena, não posso ir.
Tu meiga e bela, de encantos cheia,
cá desta aldeia deves fugir.
Ah! Não que eu tenho vida folgada
sou muito amada de coração.
Meu nome adeja aos sons cadentes
dos versos quentes de uma canção.
Isto que vale, bela serrana,
se uma choupana só tens por lar?
Deixa este sítio na soledade
vem à cidade viver, gozar.
Ai, morreria lá na cidade
só de saudade da gente nossa.
A viver rica mas esquecida
prefiro a vida na minha choça.
Mas se eu te trair nada tu sofres,
dou-te os meus cofres, juro por Deus.
Habite eu pobre numa choupana,
tu, soberana nos Paços meus.
Ah, não aceito que é vil desdouro
guarde o tesouro meu bom senhor.
Para tornar-se rica princesa
a camponesa não vende amor
És muito pobre pra amor tamanho
segue o rebanho mulher grosseira
Ah, como és tola, como eu te iludo
não passa tudo de brincadeira.
Se em vossas pompas, a vós senhores,
vendem amores as cortesãs,
essa fraqueza das damas nobres
não mancha as pobres das aldeãs!
-------------
Quem terá escrito tão bela história em versos rimada que tão linda é? Pois o autor só poderia ter sido: Almeida Garrett! 😊
❤❤❤ 🌼 ❤❤❤
Agora temos outra Camponesa, mas quem sabe desta é:
Rui Veloso.
_____________________________________________
Umas minha melodias favoritas do Rui Veloso.
ResponderEliminarBeijinhos
Sim, Pedro, a música, num instrumental fabuloso, é do Rui, mas o poema ou letra, é da autoria de Carlos Té e não menos fabulosa!
EliminarBeijinhos
Simplesmente brilhante.
ResponderEliminarCumprimentos poéticos
Penso o mesmo, caro Rycardo.
EliminarCumprimentos poeticamente belos e rurais.
Bons versos do Garrett e boa música do Rui Veloso! Que mais precisaremos para fazer deste um bom dia?
ResponderEliminarAh, precisamos de pouco mais, é verdade. A não ser daquele bem maior que é a Saúde. Sem ela nada feito.
EliminarA minha não anda lá grande coisa mas vai-se aguentando...
Bom dia
ResponderEliminarDuas gerações bem diferentes mas que expressam bem a riqueza da nossa qualidade de autores .
JR
Frase sábia, caro Joaquim!
EliminarGarrett e Carlos Té, dois enormes talentos poéticos, duas gerações bem distantes uma da outra, versando um tema delicioso.
Obrigada!
Bom dia. Gostei.
ResponderEliminarBoa tarde, José.
EliminarTenho a certeza que sim.
Conheço-o, minimamente, para saber que gostou.
Não me canso de ler Garrett mas desconhecia por completo a canção do Rui Veloso que muito admiro e adorei!
ResponderEliminarBeijos e um bom dia
Esta foi logo uma das primeiras canções do Rui Veloso e da sua parceria com o Carlos Té, embora posterior ao "Chico Fininho" e ao "Perfume Patchouly". :))
EliminarBeijos e dias tranquilos.
Um dos meus cantores preferidos.
ResponderEliminarGosto muito de todas as canções dele.
Beijinhos Janita
Gostei muito dele no princípios da sua carreira, agora nem tanto,
EliminarMas, das canções, continuo a gostar. :)
Beijinhos, Manu
ResponderEliminarAlentejanitamiga
Primeiro andamento: não gosto de João Baptista da Silva Leitão de Almeida Garrett, Um paradigma do romantismo, época e estilos correspondentes que não me calham absolutamente nada:
Segundo andamento: toda a regra tem excepção - e é o caso destas quadras simples mas, ao mesmo tempo complicadas. Como exemplo do que penso - e escrevo - transcrevo a final:
«Se em vossas pompas, a vós senhores,
vendem amores as cortesãs,
essa fraqueza das damas nobres
não mancha as pobres das aldeãs!»
Entre cortesãs e aldeãs vai um mundo que ao poeta parece ter sido fácil de preencher - mas não é.
Terceiro andamento: aqui a coisa fia mais fino; sou um fã empedernido do Rui Veloso e por isso admiro - e de que maneira! - o que ele fez, aliás e como já foi dito (e muito bem) de parceria com o Carlos Té.
Beijos & queijos de Brotas
Henrique
Pois é, HenriquAmigo,
EliminarEntre cortesãs e aldeãs ia um um mundo de diferenças e deve ter sido justamente porque Almeida Garrett o sabia que pôs na boca da camponesa estas palavras:
"«Se em vossas pompas, a vós senhores,
vendem amores as cortesãs,
essa fraqueza das damas nobres
não mancha as pobres das aldeãs!»
Isto só prova que ela, a camponesa, também tinha noção dessas distâncias e se congratulava com a diferença.
Capisci.
Sabes que por detrás, - embora eu prefira estar ao lado - de um grande homem, seja no canto ou na composição, existe sempre um outro grande - seja homem ou mulher -
Tu, por exemplo, tiveste sempre a teu lado a tua Raquel... 😊
Com o Rui Veloso e o Carlos Té passou-se o mesmo.
Beijos e abraços.
Porque será
ResponderEliminarque quem melhor fala da mulher
é (quase) sempre um homem?
(assim se vê
a veia de Carlos Tê)
Volto
EliminarFaltava o beijinho
Talvez porque as mulheres sofram de um mal que se chama invejosite aguda e têm propensão para se denegrir umas às outras. Será?
EliminarBeijinho nunca esquecido! :))
O Rui e o Carlos juntos fizeram do melhor que a música Portuguesa já viu :) E quanto ao Almeida... Palavras para quê?
ResponderEliminarAchas mesmo, Claúdio Gil?
Eliminar..." do melhor que a música Portuguesa já viu." - Então e a tua?
Outro género musical, eu sei, e nem de longe o meu preferido - mas isso tu já sabias - mas para ti?
Obrigada, caro Gil.
Um abraço.
Que se passa?
ResponderEliminarSe se refere à minha curta ausência do blog, passa, que estive para fora... :)
EliminarObrigada por notar isso.