sábado, 11 de janeiro de 2020

AS NOVAS FORMAS DE SOLIDÃO.




À força de estarmos conectados, numa disponibilidade indistinta e sem horário, acabamos por nos desconectar das pessoas a quem mais queremos. O resultado é este: ficamos mais próximos dos desconhecidos e mais desconhecidos dos que nos são próximos. São muitas as atitudes que podemos tomar para diminuir saudavelmente o nosso grau de hiperconexão à Net, reconquistando espaços de qualidade, de reflexão, de governo de si, de partilha com os outros ou de necessário repouso.


A primeira atitude, porém, é afirmar o direito a desconectar-se. Só isso fará recuar a síndrome da «hiperconectividade» que nos condiciona a todos, indiferentemente de idades e contextos: mensagem chama mensagem, e com uma urgência que se sobrepõe a tudo; os pais atendem mais vezes o telemóvel do que aos filhos pequenos que vivem com eles; os amigos não conseguem dizer uns aos outros «gosto muito de ti, mas não vou responder a todos os teus whatsapp»; os namorados não sabem amar-se sem a mediação das redes sociais; gasta-se um tempo precioso a responder, replicar, retorquir tontices por monossílabos, alimentando a ilusão de que diante de um ecrã nunca se está sozinho. Mas aí estamos solitários mais vezes do que supomos.


José Tolentino Mendonça,  - in “O Pequeno Caminho das Grandes Perguntas”.


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35 comentários:

  1. É bem verdade.
    Por isso frequento a Universidade Sénior, e as tertúlias poéticas e culturais.
    Para não passar a vida em frente do teclado.
    Abraço e bom domingo

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    1. Elvira.

      Até me sinto na nuvens por poder voltar a responder-vos e a aceder aos vossos espaços, sem problemas nem condicionamentos. Foi-se o 'sufoco' blogosférico!

      Quanto às suas actividades, fio contente que se não tenha acomodado. Mesmo assim imagino que, com tantos blogues, ainda passe alguma horas frente ao teclado .

      Um abraço

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  2. Bom dia
    Tanto o telefone como o PC são para mim duas ferramentas de trabalho atualmente indispensáveis no entanto não dispenso uma Boa conversa com um ou mais amigos.
    Bom domingo

    JAFR

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    1. É isso mesmo, Joaquim, quer queiramos ou não as novas tecnologias vieram para ficar. Em muitas situações; ainda bem!

      Boa noite

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  3. Esta hiperconectividade, designadamente o uso e abuso descontrolado do stupidphone, numa dependência doentia e alienada é, quanto a mim, a maior praga da Humanidade, a seguir à Peste Negra na Idade Média e à Vida nos anos 80! Abaixo o stupidphone, long live the smartlife!!!

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    1. :) Os stupidphone, estão sempre nas mãos de stupidpeople, Roadrunner! Eu tenho um smartphone, porém sou tão «stupid» que só o uso para receber/fazer chamadas e tirar fotos. :))

      Abraço! :)

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  4. Onde se lê "Vida" é obviamente "Sida". Cá está o corrector ortográfico a tentar controlar a nossa vida!��

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    1. Não tenho nenhum stupidphone, felizmente :)

      Poderia argumentar que por falta de dinheiro para o adquirir, mas não seria essa a razão, muito embora seja verdade. Não o tenho porque esta caixinha preta que me serve para pedir socorro ou dar dois dedos de conversa a um amigo, em nada me afasta da escrita, da leitura e de uma boa conversa, caso encontre alguém capaz de ainda a manter, claro.

      Dantes, conversava muito através da escrita. Agora tenho uma acuidade visual tão reduzida que me começo a sentir mais condicionada do que o cão de Pavlov - ler e escrever= frustração + dor de cabeça intensa.

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  5. Gosto muito da solidão e preciso dela para escrever - ou precisava, quando ainda tinha olhos e coração para o fazer... -, mas não dispenso as minhas duas horinhas diárias de convívio humano, no cafézinho da esquina :)

    Precisam da solidão, os poetas que ainda podem poetar. Reconheço, no entanto, que a qualidade da comunicação entre humanos está a degradar-se muitíssimo.

    Beijinho, Janita :)

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    1. Maria João.

      Tudo é bom quando usado com conta peso e medida.

      Haja bom senso e tudo correrá às mil maravilhas.:)

      Beijinho. :)

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  6. Gosto da tua trança MORENA que exibes com alguma vaidade (dedução minha e sem compromisso).
    É verdade que muitas vezes nos "afastamos" de quem é mais perto de nós, mas dessas vezes algumas vezes é porque nos mais próximos os sentimos mais afastados.
    Porque nem em todos os que nos rodeiam nos sentimos à vontade para nos mostrarmos como somos, o que queremos e o que desejamos. Somente aos amigos (que podem ser familiares ou não) concedemos essa oportunidade.
    Beijos sempre sorridentes

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    1. A minha trança veio aqui parar - sem vaidade :) - para exemplificar aquele virar de costas aos que nos estão próximos, ó Kok!! :)

      Mas, tem carradas de razão, quando dizes que a nossa aproximação aos que estão de nós distantes, muitas vezes é por encontrarmos neles a proximidade que não temos com os que nos são próximos. Essa é que é essa!

      Beijos, risonhos! :)

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  7. Olá,Janita.

    O que começou como apelo irresistível para uns poucos rapidamente se transformou em alargada “dependência”. E hoje, mesmo aqueles que acham que este viver em modo de comunicação permanente com o mundo lá fora pouco ou nada terá de saudável, também eles pouco ou nada parecem fazer para mudar o rumo das coisas: porque não podem, ou simplesmente não querem...De modo que esta forma de estar na vida, independentemente do que cada um de nós dela pense, é coisa que veio para ficar - fruto destes novos tempos...

    Muito a propósito este tema que aqui trouxeste.

    Beijinhos amigos
    Vitor

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    1. Olá, Vitor.

      Se tudo estagnasse no tempo, ainda estaríamos na Idade da Pedra, o mal não está na evolução quando as descobertas são usadas para nos favorecer e não para que nos percamos nelas.

      Finalmente, posso voltar a interagir convosco, nesta minha pequena janela aberta para o mundo. :)

      Beijinhos com Amizade.

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  8. A dependência quanto se trata de novas tecnologias como estas é uma realidade. Nunca os jovens (e os adultos) tiveram uma plataforma tão abrangente como esta em que podem obter e fornecer informações em segundos e “conviver” com pessoas de todos os cantos do mundo.
    Chego a ter conversas por texto. E não me preocupo com isso. Tenho a capacidade (ainda) de diversificar os meus meios de comunicação/convívio.
    O convívio social é extremamente importante para afastar a solidão e a depressão. Por isso os jovens (embora tenha lido estudos que indicam que na realidade ainda há poucas pessoas verdadeiramente viciadas) correm muitos riscos associados a esta dependência, o que é uma situação muito assustadora. Impedir que eles passem tanto tempo com o seu smartphone ou computador é como que remar contra a maré. Enquanto são pequenos, a coisa pode-se mais ou menos controlar... Há, indiscutivelmente, muitas vantagens... mas as desvantagens são igualmente importantes e merecem ser consideradas. Qual a solução para a população em geral? Não sei.

    Uma trança muito bem feita, sim senhor!
    : ))

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    1. Na minha modesta opinião toda a dependência, seja do que for é negativa, Catarina. Há que saber aproveitar e usar comedidamente o mundo cibernético, como o fazemos na vida. Temos que saber optar pelo que nos engrandece e passar ao lago das coisas que nos derrotam. :)

      Como deves calcular a trança foi feita por uma profissional. :))

      Beijos.

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  9. "os pais atendem mais vezes o telemóvel do que aos filhos pequenos que vivem com eles"
    e a retaliação nem se faz esperar
    "os filhos atendem mais vezes o telemóvel do que aos pais idosos que vivem com eles"

    No sábado passado houve uma demonstração de que não há inevitabilidades... como poderás daqui a assistir a um testemunho disso tudo!

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    1. Lá diz o ditado, Rogério:
      "Filho és, pai serás, assim como fizeres assim receberá"

      Assisti, gostei e botei palavra. :)

      Um abraço.

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  10. Eu também uso e abuso das redes sociais e do tlm para tudo, sei que há pessoas que "desligam" completamente das pessoas à sua volta. Mas sabes Nita, há que saber viver com tudo, não deixo o telemóvel em casa, jamais ando sem ele, mas não desligo das pessoas, isso nunca. Não tenho filhos para dar atenção, tenho uma Mãe, que nunca me esqueço dela e tenho o mais que tudo que também não o esqueço. Os amigos quando estou com eles se mexo no tlm? mexo claro!! mas quem não o faz? Depois há o que as pessoas esquecem, os tlms tiram o convívio, talvez, mas e alguém seria capaz de andar sem ele? como escreverias aqui no teu blog? como falarias com a família? como saberias se estão bem ou não? tu/ nós, não estamos viciados, é um bem essencial, tem é de se saber usar.
    Beijoca Nita, boa semana.

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    1. Exactamente, querida Mena...se soubermos gerir o nosso tempo racionalmente, teremos espaço para tudo, sem dependências nem exageros.
      Quando a falar com os nossos familiares distantes, por via destas 'modernices', nem sabes o bem que me faz receber quase diariamente fotos do meu netinho caçula. :)

      Beijinhos, Nina. Tudo de bom.

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  11. A tecnologia é necessária, essencial mesmo.
    Mas não nos pode escravizar.
    Beijinhos, boa semana

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    1. Sem dúvida, Pedro.

      Devemos ser 'senhores' e não escravos, das evoluções que se vão operando ao longos dos tempos..

      Beijinhos

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  12. Tudo está nas nossas mãos.
    Quem quer faz assim, quem não quer não faz!

    Abraço

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    1. Tal e qual! É como acontece na vida. Sabemos que há um submundo cheio de perigos, por isso, quem não se quer enredar no lodo não se mete nele.

      Abraço!

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  13. Já tive muitos momentos de solidão acabando por ser dependente da net. Actualmente já me abstraio mais porque os filhos regressaram para Portugal e então ocupo--me com eles. Mas há solidão que gosto!
    Gostei de ler...Obrigada!
    -
    A solidão da distância ...
    Beijo e uma excelente semana!

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    1. Estar só sabe-me bem, outras vezes, não!

      Com os filhos por perto sempre há convívio directo e isso é bom, Cidália.

      Beijinhos

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  14. As novas tecnologias facilitam-nos a vida, é certo, mas não devemos deixar-nos subjugar por elas. Tudo com conta, peso e medida.
    Vaidosa, na sua trança, bem bonita.
    bji.
    ("Isto" continua de uma lentidão desesperante)

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    1. Penso que a partir de agora já não terá problemas em entrar aqui, José. Experimente e depois diga-me, Ok?

      Beijinho.

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  15. Tenho que dizer-te em primeiro lugar que gostei da tua foto de perfil :)
    Sobre o texto, acho que há muita boa gente só que depende da net, outros usam e abusam.
    Eu gosto desta conectividade que me serve para estar perto dos que estão longe.
    Hoje, perto de ti deixo-te um beijinhos amigo

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    1. Perfil de costas, né Manu?!

      Como não exagero, e não frequento as ditas redes sociais, também gosto de me conectar com os amigos virtuais e não só. Pelos menos, por esta via. :)

      Beijinhos, Manu.

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  16. A "doença" do Século !!!
    https://www.youtube.com/watch?v=-eImEnIYBNY

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    1. Uma doença fatal, a solidão, Ricardo.
      Obrigada pelo mimo. Soube-me bem ouvir a bela voz de Ella num tema que veio muito a propósito.

      Um abraço.

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  17. Temos de comer de tudo e variado, para não morrermos estupidos.
    Sem encher o estômago como dizia o professor Bernardo.
    Eu como (apenas) quando quero e posso.
    O Tolentino tem razão e escreveu-o. Muitos são os que sabem, não escrevem e muito menos fazem. O Cardeal terá alguma semelhança com Frei Tomaz...?
    Beijo.

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    1. Nem mais amigo Agostinho.
      A muita sede com que se vai à fonte é que pode engasgar os mais ávidos.

      O Cardeal Tolentino às tantas cumpre a táctica clerical:
      "Faz o que eu digo, enquanto eu faço o que tu fazes" :))

      Beijinho.

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