domingo, 4 de outubro de 2020

LENGALENGA.

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Trago cansada

a memória...

Se guardo, 

não sei onde ponho.

Se ponho, guardo. 

 E depois

ando à procura 

das coisas,

 que nesta 

minha loucura,

guardo, ponho 

e não disponho.


Um lugar para

cada coisa

cada coisa em seu lugar

 - me dizia minha mãe -

E foi coisa que

 sempre fiz,

quando esta minha cabeça

lembrava onde as coisas

punha e sabia onde

as  guardava, sem

diz-que-diz, 

nem desdiz.


Os óculos são

prá cabeça

as meias para

os pés são,

as luvas, quando 

está frio, calço uma

em cada mão.

Isso quando minha 

memória, era esperta 

e atilada, 

agora anda

cansada, 

já não memorizo

 nada.


Se um dia eu

não aparecer

dois ou três dias seguidos

já sabem, perdi o rumo

esqueci onde pus o mapa

onde guardava o roteiro

deste Cantinho

Faz-Tudo...*


Fonte  desta bela Imagem, 

que não tem nada a ver com a palavra final do texto, 

embora faça parte da mesma Arte Circense. 

* Faz-Tudo = Sinónimo de Palhaço-Pobre, usado no Alentejo.

  [ Com todo o respeito e admiração que me merecem os artistas circenses. Especialmente, os palhaços, no desempenho da difícil Arte de fazer rir crianças e adultos. ]


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24 comentários:

  1. Espera aí
    tal não acontece só a ti
    Hoje ia a pôr
    a manteiga no armário
    o livro
    no frigorífico
    os óculos no lixo
    e o lixo
    coloquei-o à porta
    só que me esqueci de o levar
    e ficou por lá a levedar
    três dias e três noites
    e era um pivete tremendo
    a invadir o prédio inteiro

    Quando cheguei
    a vizinhança acolheu-me com um sorriso
    que acho que foi imerecido

    (verdade!)

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    1. :) Distrações que acontecem a todos, Rogério.
      No meu caso, creio que é por estar a fazer algo com a ideia noutra coisa qualquer.

      Agora,
      a respeito
      dessa sua vizinhança,
      melhor do que o
      sorriso que o deixou
      comprometido,
      teria sido elas
      desfazerem-se
      do seu lixo
      livrando o prédio
      do pivete
      que o vizinho,
      distraído,
      deixou ficar
      por ser por natureza
      «esquecido»....

      ;)



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  2. Uma saudação à autora pela sua lengalenga.
    Boa Noite.

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    1. A autora agradece com um sorriso a saudação. :-)
      Bem como a presença sempre esperada e simpática.

      E ainda retribui os votos de Boa Noite,
      com um Bom Dia e um abraço!

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  3. A memória é uma coisa lixada Janita. É capaz de nos recordar, a primeira vez que olhámos para um rapaz de forma diferente, e já lá vão 50/60 anos, o primeiro beijo trocado tantas vezes às escondidas, e nos faz esquecer aquilo que guardamos ou fizemos uma hora atrás.
    Abraço saúde e bom feriado

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    1. A quem o diz, amiga Elvira!
      Tenho presente na memória, acontecimentos da infância, já tão distante. Umas boas e outras más, como a morte do meu avô materno, que recordo cada minuto daquele dia fatídico.

      Entretanto, esqueço algo que ia buscar à despensa e, por muito que olha para as prateleiras, não me lembro de nada. Descobri que, se voltar à cozinha, a memória faz o clique.
      Um mistério, esta nossa massa cinzenta...

      Beijinho e boa semana.

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  4. E, depois de sair do carro, voltar atrás para verificar - duas vezes, pelo menos - se as portas estão fechadas. Ou deslocar-me da sala para a casa de banho e a meio esquecer-me do ia fazer. Nenhuma das situações foram vividas, mas...
    Beijinhos e bom um dia chuvoso e fresco.

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    1. Aconteceu-me isso mesmo no sábado passado, José!
      Estava na superfície comercial, já com as compras quase todas no carrinho e a senha da peixaria na mão, quando me assaltou a dúvida se tinha fechado o carro ou não.
      Voltei ao parque de estacionamento e, veja só a minha sorte, o carro estava fechado, mas com os faróis acesos. Às vezes, acho que tenho mesmo aquele tal sexto sentido, mascarado de falta de memória. :-)
      Isso de ir à casa de banho e a meio do corredor me esquecer do que ia fazer, é nunca me aconteceu...se não acontecia-me como a outra...ehehehehe

      Bom dia e um beijinho.

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  5. Sorte a sua, Janita! Eu desde muito jovem me lembro de ter essa estranha tendência para pousar no hall de entrada o saco do lixo e guardar a malinha de mão no frigorífico, ou sair para o café com o saco do lixo ao ombro, depois de ter atirado com a maleta para o contentor... agora, até estou bem menos distraída do que quando era jovem, quanto mais não seja porque há muito deixei de poder ir deitar o lixo no contentor pelos meus próprios meios.

    Beijinho :)

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    1. Fartei-me de rir com a ideia de ver a Maria João ir para o café, com o saco do lixo ao ombro!! Ehehehehe

      Enfim, partidas que a nossa memória nos prega.

      Beijinho, Mª João.

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  6. E que serviram de inspiração para a minha ária favorita - ridi pagliatio cantava Pavarotti como ninguém.
    Beijinhos, boa semana

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    1. Lembrei-me disso, Pedro, mas não quis adiantar mais nada ao texto. Na verdade, quantas vezes o palhaço ri com vontade de chorar. A sua função é fazer rir, aconteça o que acontecer na sua vida pessoal.

      Beijinhos e boa semana.

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  7. Lenga-lenga poética que muito gostei de ler. O meu elogio e aplaudo.
    .
    Início de semana feliz
    Cumprimentos

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    1. Ah, poesia escreve o Ricardo.
      Isto foi apenas uma ideia que me passou pela cabeça, porque de facto me acontecem algumas situações de esquecimento. Coisa pouca!

      Boa semana e obrigada.

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  8. Bom dia
    diz um velhinho conhecido que prefere a doença de parkinson ao alzeimer , pois prefere beber só meio copo de vinho que esquecer onde está a garrafa.

    JR

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    1. Ah, se soubesse o que isso me trouxe agora ao pensamento.
      Uma das intervenientes neste caso rocambolesco, que vou tentar contar-lhe, até já partiu e era dez anos mais jovem do que eu.

      Bem, dá-se o caso de eu e minha irmã nos encontrarmos no Alentejo a passar umas semanas, devido à doença da nossa Mãe e ao facto dela não querer sair de lá.
      Na terra, toda a gente se conhece e muitas eram as visitas constantes para ver a doente. Tanto assim era, que a porta da rua estava sempre encostada durante o dia.
      Numa dessas visitas, essa tal nossa amiga, tinha ido fazer compras e deixou-as ficar no hall de entrada. Resumindo, a minha mana despassarada, pegou nas compras pensamento que eram sacos de lixo que eu tivesse ali deixado e levou tudo para o contendor que havia ao fundo da rua. A cena que se seguiu foi hilariante com as duas, de rabo para o ar, debruçadas no contentor e eu a rir desalmadamente à porta.

      Mas o melhor foi quando o sogro dessa moça soube da cena, e se saiu com a anedota dos alentejanos que foram a Lisboa e vindo da noite já tocados viram uma cena igual, e, virando-se um para o outro disseram:

      "Aqui em Lisboa são todos uns estragadões. Dois cuzinhos em tão bom estado e já no caixote do lixo.

      Isto é a mais pura verdade e penso ser escusado dizer que esse amigo, felizmente, ainda vivo, criava uma anedota para todas as situações.

      Bom dia, JR! :)

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  9. Não sendo fã de lengalengas, gostei desta.
    Boa semana, Janita, beijinho.

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    1. Olha que há lengalengas populares muito engraçadas, António.
      Com muito mais humor do que esta minha. :)
      Beijinho e boa semana, amigo! :)

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  10. Revivi-me nesta tua lengalenga.
    Volto atrás vezes sem conta, procuro o que arrumei, perco-me em estradas que já percorri, certifico-me mais que uma vez se fechei a porta de casa, procuro o óculos que afinal estão na cabeça.
    Prometo todos os dias deixar tudo arrumadinho e guardar as coisas num lugar certo, mas depois a memória trai-me e o que era certo fica incerto.
    Que mal será este amiga?
    Espero não me esquecer do caminho para este cantinho. :)

    Beijinhos Janita

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    1. Sera a «porra da idade», vulgo PDI, Manu? Ehehehehe

      Ah, não...se esqueceres do caminho deste cantinho, e eu ainda me lembrar dos teus, vou lá onde Existe Um Olhar e sento-me no Sentaqui à espera que se te refresque a memória. :))

      Beijinhos e boa semana, Manu.

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  11. A vida, bem vivida, dói e cansa.
    Mas é a arte mais compensadora e tranquilizante da nossa existência
    😊
    Gostei

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    1. Sim, porém, a parte da nossa vida menos bem vivida doeu mais, mas vamos dá-la por esquecida. Assim, a tranquilidade é mais certa e segura, digo eu. :-)

      Obrigada.

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