sexta-feira, 1 de novembro de 2019

Porque Hoje É Sexta-Feira. # 76


         



Havia uma velhinha que sabia andar bem de lambreta. Todo o santo dia ela passava pela fronteira montada na sua lambreta, com um bruto saco atrás. O pessoal da Alfândega ­ tudo gente com trinta anos de praia, ou seja, bem experiente, ­ começou a desconfiar da velhinha. Um dia, quando ela vinha na lambreta com o saco atrás, o fiscal da Alfândega mandou-a parar. A velhinha parou e então o fiscal perguntou-lhe:


Escute aqui, avozinha, a senhora passa por aqui todo dia, com esse saco aí atrás. Que diabo a senhora leva no saco?

A velhinha sorriu com os poucos dentes que lhe restavam e respondeu:

É areia!

Quem sorriu foi o fiscal. Achou que não era areia nenhuma e mandou a velhinha saltar da lambreta para examinar o saco.
A velhinha saltou, o fiscal esvaziou o saco e dentro só tinha areia. Muito embatucado, pediu à velhinha que fosse em frente.
Ela montou na lambreta e foi embora, com o saco de areia atrás.

Mas o fiscal, desconfiado, como todos os fiscais, pensou; talvez a velhinha passasse um dia com areia e no outro com droga – ou sabe-se lá o quê.
No dia seguinte, quando ela passou na lambreta com o saco atrás, o fiscal mandou-a parar novamente. Perguntou o que é que ela levava no saco e ela respondeu que era areia, ora essa!

O fiscal examinou e era mesmo. Durante um mês seguido o fiscal interceptou a velhinha e, todas as vezes, o que ela levava no saco era areia.
Diz que foi aí que o fiscal se aborreceu:

Olhe, avozinha, eu sou fiscal de alfândega há mais de 40 anos. Topo essa coisa de contrabando a léguas, ninguém me tira da cabeça que a senhora é contrabandista.

Mas... no saco só tem areia! ­- Insistiu a velhinha. E já ia montar a lambreta, quando o fiscal propôs:

Eu prometo à senhora que a deixo passar. Não dou parte, não apreendo, não conto nada a ninguém, mas a senhora vai  dizer-me: qual é o contrabando que está passando por aqui todos os dias?

O senhor promete que não “espalha”? - ­ Quis saber a velhinha.
Juro,­ - respondeu o fiscal.
É a lambreta, - responde ela com toda a naturalidade de quem diz a verdade.

* * * * * 

Moral da história: Às vezes, a verdade está bem debaixo do nosso nariz, mas nós, imbuídos do nosso convencimento de que somos os senhores da verdade absoluta, que sabemos tudo, focados numa ideia preconcebida, nem a vemos…

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33 comentários:

  1. rsrsrsssssssssss, muito boa essa, eu também estava louca pra saber o que a velinha levava no saco...
    beijinho, to rindo, amiga!

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    1. :) O saco era só para desviar as atenções do veículo de duas rodas, que transitava de um país para o outro, sem pagar direitos aduaneiros. Artes de contrabandista experiente, Tais!

      Beijinhos, bom fim-de-semana, Amiga! :)

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  2. Essa é tão velha,
    tão velha, tão velha
    Que essa avozinha
    era... a minha

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    1. Sendo eu uma jovem,
      tão jovem, tão jovem,
      só agora a conheci.
      Descobri-a no diário
      do meu tetravô
      quando ontem,
      de madrugada, o li.

      :)

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  3. Mesmo na língua de Camões gostei desta história‼ Embora eu nunca teria dito ao fiscal a verdade‼

    Continuação de bom fim-de-semana com ou sem lambreta 🏍

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    1. A verdade, pode ser uma faca de dois gumes, querida Teresa!!

      Nunca hei-de esquecer a lambreta de uma amiga da minha irmã e do sucesso que ela fez, na então Vila alentejana. O meu primeiro grande sonho - era eu uma criança - foi possuir uma igual, quando crescesse.

      Bom fim-de-semana.
      Sem lambreta, claro!

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    2. Em Londres o meu namorado tinha uma lambreta e eu adorava viajar assim, sem capacete!

      💚 Saudações de um Düsseeldorf frio, chuvoso e triste como o dia de hoje!!!

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    3. Suponho que por essa altura o uso do capacete não fosse obrigatório, como agora.

      Também por aqui o dia está chuvoso e triste, mas nada frio.

      Beijinhos.

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    1. Um posto cada vez menos respeitado, caro Pedro! :(

      Beijinhos e bom fim-de-semana

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  5. Desconfiemos de quem parece “inocente”.
    : ))

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    1. Inocência em demasia não é virtude, é defeito.
      Há que desconfiar das santinhas,
      sejam jovens ou velhinhas...:))

      Beijinhos, Catarina.
      Bom fim-de-semana.

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  6. Bom dia
    Pensei que eram pneus .
    Uma sexta um pouco diferente , mas o humor continua .

    JAFR

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    1. Ehehehe
      Também poderia ser, Joaquim.
      Desmontada a coisa, e vendidas as peças, se calhar rendia mais.

      Hoje foi uma sexta diferente, para não enjoar. :)

      Bom FDS.

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  7. Nunca lá chegava! :)
    Pensei em tudo menos lambretas. :)

    Bom feriado!

    Beijinhos Janita

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    1. Não pensaste porque a tua mente estava virada para o material escondido no saco. ehehehe

      Beijinhos e bom fim de semana, Manu.

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  8. Boa tarde de Novembro, querida Janita!
    Muito boa! Desviar focos e seguir trapaceando os outros são típicos dos 'sábios' experientes... rs...
    Inteligente sua postagem para nos mostrar verdades cruciais.
    Tenha dias felizes!
    Bjm carinhosp e fraterno de paz e bem

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    1. Este Novembro começa tristonho e cinzento, amiga Roselia.
      O frio é que ainda não veio, ainda bem!

      Muito obrigada pela simpatia que sempre dedica aos amigos virtuais de aquém e além-mar.

      Um beijinho grato

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  9. Conhecia-a, mas de bicicleta, não de lambreta. Mas sempre tive uma dúvida: era sempre a mesma lambreta ou era uma na ida e outra na volta? Onde estava o contrabando?
    1 bji.

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    1. Para a senhora, que já não ia para nova, ficava difícil pedalar, lambreta é mais cómodo.
      Pois...eu tenho uma ideia, mas não direi. Cada qual que tire as suas conclusões, ou então, temos de contratar os serviços da
      Agência do Ó para investigar o caso das lambretas contrabandeadas...Que diz?

      2 Bjis

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    1. Obrigada, Cidália.

      Tenho de lá ir ver, ao seu espaço, o que a impede de expor o seu corpo e porquê envergonhado. Ainda não tive vagar, mas vou agora.

      Beijos, bom FDS.

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  11. É verdade, na grande maioria dás vezes, nem queremos saber se estamos com razão, ou não, decidimos que estamos certos, e fim de papo... kkkkk

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    1. Olá, seja bem-vindo, Manuscritos...:)

      E, quando nos assenhoreamos da razão, fica difícil vemos as coisas sob um prisma diferente, não é? :) Depois, ficamos de cara à banda quando a coisa não é como pensávamos. É assim com tudo e com todos.

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  12. ahahahahah rebolei :-)

    Boa tarde, Janita

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    1. Agora fizeste-me rir. :))
      Quer-se dizer; rebolaste em duas rodas...ehehehehe

      Boa noite, Non!
      Beijinhos


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  13. Kkkk coitada da lambreta :))

    Bjos
    Votos de uma óptima noite

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  14. É isso mesmo. Às vezes pensamos que sabemos tudo e não sabemos é nada.
    Abraço e feliz Novembro.

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    1. Nem mais, Elvira!
      Por isso se diz que: nascemos sem saber, vivemos a aprender e morremos sem nada entender. Se não for assim, é parecido.

      Um abraço e bom Domingo.
      ( não gosto nada do mês de Novembro.)

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  15. Um beijinho e um grande, grande sorriso, Janita :)

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    1. Um sorriso :)
      e um grande, grande beijinho, querida Maria João.

      Obrigada! :)

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  16. Cuidado com as velhotas que atravessam as fronteiras... A idade dá-lhes sabedoria e "manhas" nem sempre fáceis de detectar conforma se prova nesta história. Muito boa "avózinha"!
    Beijokas e muitos sorrisos

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