domingo, 22 de janeiro de 2023

CHOVE EM BARCELONA.

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Roberto Bolaño
(Santiago do Chile, 28 de Abril de 1953 — Barcelona, 15 de Julho de 2003) 


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Roberto Bolaño fixou-se em Espanha no final da década de 70, depois de percorrer o México, África e vários países europeus. 
O motivo das viagens foram os oito dias preso por militar na resistência ao governo de Pinochet. 
Mas foi Barcelona que acolheu Bolaño até o ano da sua morte, em 2003. O início foi difícil: solidão, ilegalidade, falta de dinheiro. Trabalhou como lavador de pratos, camareiro, vigilante nocturno, estivador. Até que a literatura lhe proporcionou algum rendimento.
Foi em território espanhol que Bolaño se desenvolveu como escritor, produzindo desenfreadamente contos e romances. Sem abandonar a poesia. Aliás, Bolaño considerava-se, acima de tudo, um poeta.

[Créditos: Gustavo Petter]

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Ahora paseas solitario por los muelles
de Barcelona.
Fumas un cigarillo negro por
un momento crees que sería bueno
que lloviese.
Dinero no te conceden los dioses
pero sí caprichos extraños.

Mira hacia arriba:
está lloviendo.

Barcelona, vista aérea.
Ao centro a Catedral da Sagrada Família.
Foto que me foi enviada por uma pessoa de família, mas não de sua autoria

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Agora passeias pelas docas
de Barcelona.
Fumas um cigarro negro e por
um momento crês que seria bom
que chovesse.
Dinheiro não te concedem os deuses
mas sim caprichos estranhos.

Olha para cima:
está chovendo.

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22 comentários:

  1. Grata pela partilha deste escritor de quem nunca tinha ouvido falar. Vou pesquisar a sua obra.
    Abraço, saúde e bom domingo

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    1. Nada a agradecer, amiga Elvira.
      É acerca dos poetas/escritores, menos conhecidos, que eu dou preferência nas minhas publicações. Os muito conhecidos mundialmente, não necessitam que demos a conhecer a sua obra. Apesar de alguns - bastantes- já terem partido nunca é demais falar deles.
      Abraços com votos de muita saúde.

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  2. Não conhecia este escritor/poeta e obrigao pela partilha.
    Beijos e um bom domingo

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  3. Bom dia
    O título enganou-me , mas foi um engano que valeu a pena .
    O poema é muito bom mas a foto surpreendeu-me . Espetacular .

    JR

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    1. Fico feliz por ter valido a pena vir ao engano, Joaquim Rosário.
      Não fora esta espectacular imagem, talvez eu não vos tivesse apresentado este Poeta. Afinal, vale muito a pena conhecer Barcelona. A cidade catalã é muito mais hospitaleira do que muita gente pensava, eu, inclusivé.
      Bom domingo!

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  4. Desconhecia este autor!
    Aqui faz sol e estou de novo em casa com os gatos.

    Abraço

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    1. Como o tempo parece que vai 'afinar', ou seja, vem aí sol para nos aquecer o corpo e a alma, aproveita para fazer uns passeiozitos a pé. Pelo caminho fotografa tudo o que te encantar e traz-nos, para nos encantares também. Valeu? :)

      Grande abraço, querida Leo.

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  5. Foto muito bonita. Texto e poema fascinantes de ler
    .
    Feliz domingo. Saudações poéticas
    .
    Pensamentos e Devaneios Poéticos
    .

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    1. A foto é algo simplesmente fantástica, para quem, como eu, desconhecia como foi projectada toda a arquitectura urbanística da capital da Catalunha. Ainda bem que gostou.
      Feliz domingo e obrigada pelos sempre simpáticos cmentários.

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  6. Os cachorros românticos

    (...)
    "Um amor desbocado.
    Um sonho dentro de outro sonho.
    E o pesadelo me dizia: crescerás. (...)"

    E como cresceu este chileno, considerado como o autor latino-americano mais importante da sua geração.

    Autorretrato aos vinte anos
    "Me deixei levar, me lancei e nunca soube
    até onde teria podido chegar. Ia cheio de medo,
    com o estômago fraco e um zumbido na cabeça:
    acho que era o ar frio dos mortos. (...)"
    Uma bela partilha. Como é bom este estímulo para reencontrá-lo.
    Um bom domingo,
    Beijinho e abraço,

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    1. Que bom esta referência do meu Amigo, tão positiva e elogiosa a Roberto Bolaño! Como fiquei feliz e contente por tê-lo trazido...A opinião de um Mestre em Literatura, valoriza muito qualquer publicação. Muito obrigada, querido Professor.
      Provavelmente, o José Carlos conhece bem um contemporâneo de Bolaño a quem este dedicou um Conto na sua colectânea de contos: "Chamadas Telefónicas", e se chama Enrique Vila-Matas.
      Disse ele : "Enrique queria ser poeta e punha nesse empenho toda a força e toda a vontade de que era capaz".
      Mas, lá está, - digo eu - não é poeta quem quer.
      O poeta consegue suportar tudo, mas essa máxima leva-o à ruína, à loucura e, muitas vezes, à morte.... segundo e ainda, Bolaño. Vila-Matas, ainda que septuagenário, ainda resiste e escreve. Nem tudo é mau na vida de um escritor. :)
      Bom domingo.
      Beijinhos e abraços, sempre com muita amizade e apreço.

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  7. Nunca ouvi falar de Roberto Bolaño.
    Há sempre um tempo para tudo.
    Beijinho, Janita.

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    1. Nunca duvides disso, amigo António.
      Por isso, devemos sempre estar receptivos à aprendizagem de tudo.
      Beijinho e bom domingo.

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  8. Qual nāo foi a minha surpresa quando vi, há poucos segundos, que a rede de bibliotecas tem uma sêrie de ebooks deste autor que eu não conhecia nem os teus outros leitores. A maravilha destas "novas" tecnologias é que mesmo estando agora noutro país posso requisitar um livro!!
    Thanks!!!!!! :))

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    1. Que alegria ver que, mesmo fora do teu quotidiano e a viver dias de felicidade, podes continuar as tuas leituras, querida Catarina.:)
      Se puderes aceder ao livro de Contos que já referi atrás: "Chamadas Telefónicas" deste autor, não deixes de o fazer.
      Eu é que te fico imensamente grata. E como gostei de te ver por aqui... :))
      Que continues a viver dias muito prazeirosos e felizes, Catá!
      Beijinho. :)

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  9. Não conheço a sua poesia.
    Mas a partir desta amostra, dá para perceber que vale a pena ser lido.
    Obrigado pela partilha.
    Boa semana, amiga Janita.
    Um beijo.

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    1. Caro amigo Jaime, pelo menos um poema ficou agora a conhecer. A partir daqui é consigo a decisão de conhecer melhor este Poeta chileno a quem Barcelona acolheu até ao final dos seus dias. O primeiro passo foi meu, a seguir será ao gosto de quem só agora o conheceu.
      Um beijo amigo.

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  10. De poesia não falo, pois não sinto nada. Quanto à cidade de Barcelona, pela foto parece ter sido construida com régua e esquadro. Será assim tão regular como a foto mostra? Nunca lá fui nem tenho planos para ir.

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    1. Digo-lhe que fiquei bastante surpreendida quando recebi esta foto. Não fazia a mínima ideia que a sua construção tivesse sido tão bem projectada de modo a que os edifícos tenham a configuração de letras. (Pelo menos e o que a mim parece)
      Se as letras formam palavras, é algo que não consegui ainda apurar. Ainda hei-de perguntar a Mr. Google. Se entretanto algum dos visitantes deste espaço souber elucidar-me, agradeço muito a informação.
      Também não tenciono lá a ir, a curto prazo mas, um dia, quem sabe?! :)

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  11. Queridíssima Janitamiga
    As voltas que o Mundo dá! Foi nas Ramblas que um bom amigo chileno Paco Rosales exilado em Barcelona me levou a comer umas “butifarras amb mongetes” – traduzindo: butifarra é um enchido típico catalão de carnes mais ou menos brancas e mongeles são os feijões brancos com os quais se faz a nossa feijoada com dobrada – e na nossa mesa viera sentar-se um outro chileno de seu nome Roberto Bolaño.
    Conversámos longamente, Bolaño andava às voltas com um editor que “coño, el cabrón cuando yo intento sacarle el mio nunca está y yo ahora estoy seco!” Decidimos ir almoçar no día seguinte, poise u voltava à tarde para Lisboa.
    Era um homem angustiado mas habituado aos revezes da vida que não tinham sido poucos. No entanto, disse-me ele, com um meio sorriso, “tengo que seguir adelante, pués mira muchacho pararse es morrir”.
    Esta escolha foi uma vez mais extremamente oportuna e ajudou-me a recordar e descobrir que a cachola vai funcionando.
    Beijos & queijos
    Henrique

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    1. É mesmo, Henriquamigo, as voltas que o mundo dá!!
      É certo que não fico assim tão de queixo caído, pelo facto de já teres comido uns petiscos com este chileno audacioso, num bar catalão, justamente numa altura em que ambos estavam no auge da juventude, suponho. Pois se tu : Henrique Antues Ferreira, conheces 3/4 dos mais brilhantes e sonantes nomes do Mundo literário, jornalístico e artístico, nada mais natural que já tenhas privado com Roberto Bolaño. Mas sabes? Fiquei muito, muito contente.

      A tua cachimónia, meu Amigo, funciona melhor do que a de dois com metade da tua idade, juntos.
      Grata pelas tuas vindas a este modesto estaminé, Henrique.

      Mando um beijinho para ti e outro para a Raquel.

      PS- Aproveito a boleia e vou até à tua casa ver se há novidades.

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