domingo, 19 de novembro de 2017

"A FOTOGRAFIA".

Tinha uma missão: Fotografar o seu “Amigo de Inverno”.

O que dormia escondido no canavial, o mais próximo possível da margem, ficando à mercê dos predadores. Aquele que era sempre o último a levantar voo, esforçando-se para seguir a formação e o último a pousar numa rasante desequilibrada em que era difícil perceber se voava baixo ou se procurava desesperadamente não mergulhar na água fria e escura.


Não seria tarefa fácil. O bando era assustadiço e ao primeiro sinal de que alguma coisa perturbava o frágil equilíbrio, desapareceria em gritos de alerta para não mais voltar. 

Ele sabia que fotografar não era só carregar no botão no momento certo. Era preciso estar concentrado e ver, não somente com os olhos.

“Ver” o frio que lhe arrefecia o rosto e gelava as mãos. “Ver” a variação da brisa que lhe diria o momento em que o bando se agitaria e acordaria. “Ver” a intensidade do cheiro a penas húmidas e saber se estaria perto o suficiente para fotografar com nitidez e longe o suficiente para não alertar o grupo. “Ver” o leve chapinar da água e os sussurros dos líderes. E ver também, mas de forma menos fiável a degradação da escala dos cinzentos da madrugada para o colorido da manhã.

Nesse momento ele era quase invisível, fazia parte da natureza circundante, uma mancha silenciosa, um pouco mais escura na margem. Sentia o bater do seu coração acelerado e a respiração rápida na contagem decrescente. Faltava pouco, tão pouco.

A água agitou-se, as sombras moveram-se e quando deu por si, já o bando tinha levantado voo descendo o rio. Piscou os olhos tentando focar o olhar através da lente ampliadora e disparou várias vezes procurando o último dos últimos, o seu Amigo!

Quando mais tarde revelou as fotos, viu o desapontamento no rosto dos que o acompanharam na tarefa, viu o embaraço e ouviu o “sinto muito”. Olhou o resultado do seu esforço e não entendeu o desconforto dos outros.

As duas fotos: 

Um rasto mais escuro no céu cinza claro da alvorada. 

Uma asa prateada no canto superior da fotografia, fugindo da prisão do papel.


Sorriu e sentiu o sol da manhã. 


Texto escrito pelo meu querido Amigo Ricardo. Publicado na blogosfera, no dia 30 de Outubro de 2013. Guardei-o religiosamente. Sabia que um dia sentiria necessidade de o surpreender. Esse dia chegou. 

Meu querido, tal como esperaste que o bando levantasse voo para que pudesses fotografar o teu Amigo, também eu espero, ansiosamente o teu regresso, aqui no Cantinho, para que juntos possamos sentir o sol da alegria e sorrir! :)


Nota: na impossibilidade de obter fotografias que ilustrassem este magnífico texto, retirei esta imagem daqui
Para obedecer, minimamente, ao sentido da penúltima frase, tomei a liberdade de a recortar. Acto, pelo qual assumo inteira responsabilidade. Se o autor se sentir lesado, é favor avisar-me e retirá-la-ei.


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29 comentários:

  1. Bonito texto.
    Bom resto de dia.
    Beijinho

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    1. Agradeço em nome do meu Amigo, Mena.

      Beijinho, boa semana

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  2. Querida Janitamiga

    Parabéns para ti - por o teres publicado; parabéns também ao Ricardo por ter feito este poema que na verdade é excelente!!!!

    Bjs da Raquel e qjs do teu amigo
    Henrique, o Leãozão

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    1. HenriqueAmigo,

      O mérito é todo do escritor do texto, um grande Amigo que escreve como poucos. Sensibilidade e bom senso, também fazem parte da beleza da escrita, aliás, eu diria que são condições essenciais a um bom escritor.

      Um beijinho para a Raquel Amiga e um abraço para ti, ó Leão...zão :)

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  3. Boa noite. Fabuloso texto. Digno de um aplauso.

    Hoje: "Abraço a noite, namorando com as estrelas, em palavras de silêncio." Do Gil

    Bjos
    Noite feliz

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  4. Um e outro (Janita e Ricardo) estão de parabéns.
    Grato pela partilha.

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    1. Muitíssimo grata, António.
      O meu Amigo nem sabe que me atrevi a postar um texto seu. Quando ele voltar, vou ouvir um ralhete.:)

      Beijinho, boa semana.

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  5. Um texto maravilhoso.
    Obrigada pela partilha.
    Um abraço e uma boa semana

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    1. E é mesmo, Elvira.
      O meu Amigo é maravilhoso em tudo.

      Obrigada, um abraço e votos de excelente semana

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  6. Gostei da descrição dessa espera para fotografar a ave. :)

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    1. Uma descrição fantástica, e tu, Luísa, és uma pessoa que sabe avaliar bem a qualidade de um texto. :)

      Beijinho, boa semana

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  7. Bonito texto e linda foto.
    Gostei muito.
    Bjs

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    1. Grata, Papoila, em nome do meu Amigo, pela apreciação do texto...A imagem tem lá a hiperligação.:)

      Beijinhos, boa semana

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  8. Gostei muito do texto, uma excelente forma de descrever o acontecimento.
    Parabéns ao Ricardo e a ti por o partilhares.

    Boa semana querida.

    Um beijinho imenso.

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    1. Muito obrigada pelas tuas palavras amigas, Adélia.

      Boa semana, querida Amiga.

      Um beijinho grande.

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  9. Apreciei o texto e as fotos.
    bji.

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    1. Grata pela parte que ao texto respeita, José.
      E. claro, falo em nome do meu Amigo.

      Um beijinho, bom resto de dia.

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  10. Entre aquilo que um fotógrafo olha
    aquilo que ele vê
    e ainda aquilo que a lente sente
    há milhentas diferenças
    entre a realidade e a imagem

    acontece que a imagem mais presente
    é a que perdura na nossa mente

    (o texto é muito belo)

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    1. Eu diria que o que perdura são as sensações dos instantes que antecedem o acontecimento, e as palavras que registam, para a posteridade, aquilo que o fotógrafo 'Vê' com o coração, quer a fotografia fique perfeita ou imperfeita, tecnicamente.
      Um abraço amigo, caro Rogério. :)

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  11. Uma perfeita maravilha.
    Beijinhos, boa semana

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    1. Penso o mesmo, Pedro.
      Caso contrário, nunca teria publicado o texto.

      Beijinhos e votos de excelente semana.

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  12. Revi-me nas palavras do teu amigo Ricardo quando ele escreve "Ele sabia que fotografar não era só carregar no botão no momento certo. Era preciso estar concentrado e ver, não somente com os olhos."
    Quantas e quantas vezes estamos à espera do momento certo e ele nos escapa.
    Parabéns ao Ricardo e a ti por partilhares estas emoções.

    Beijinhos Janita

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    1. Obrigada por este comentário tão lindo, Manu.
      O Ricardo, quando vier e vir as palavras de apreço que aqui tem recebido, vai ficar sem jeito, mas no fundo, contente.

      Um beijinho muito amigo e grato, Manu.

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  13. Moral da história, este é um post em que praticamente nada é da Janita. E agora como ficamos?
    Agradecemos ao tal Ricardo, que nem um linquezinho teve direito?
    Agradecemos ao suposto autor russo da fotografia?
    Agradecemos à casamenteira Janita, por ter casado o Ricardo com o russo? Será que foi um casamento por amor?
    Na dúvida, acho que é melhor agradecemos a todos. Por todos fazerem parte deste mundo da Janita!
    E "prontos"! Está dito!
    :-P

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    1. Remusinho...
      Eu não quero cá saber de moralidades.
      Ficamos bem, como sempre, ora essa!!

      Quando o Ricardo escrevia para um blog, usava um nick, certo? Deixou de o fazer, não tem mais blog, nem dele nem de parceria com amigos, ora diga-me lá que linquezinho é que queria ver aqui? :)

      " Na dúvida, acho que é melhor agradecemos a todos. Por todos fazerem parte deste mundo da Janita!"

      Não fora esta frase que me encheu a alma e adoçou o coração e a nossa amizade acabava já aqui! :)

      Arre, que hoje o Remus está de candeias às avessas! Que mau feitio! Cruzes! Coitada de quem o atura...LOl

      ;)

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  14. Lindíssima partilha querida amiga,cá estou de volta depois de uns dias atarefados com o nascimento da minha sobrinha e afilhada Matilde ,muitos beijinhos no coração felicidades

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