O que dormia escondido no canavial, o mais próximo possível da
margem, ficando à mercê dos predadores. Aquele que era sempre o último a
levantar voo, esforçando-se para seguir a formação e o último a pousar numa
rasante desequilibrada em que era difícil perceber se voava baixo ou se
procurava desesperadamente não mergulhar na água fria e escura.
Não seria tarefa fácil. O bando era assustadiço e ao primeiro sinal
de que alguma coisa perturbava o frágil equilíbrio, desapareceria em gritos de
alerta para não mais voltar.
Ele sabia que fotografar não era só carregar no botão no momento
certo. Era preciso estar concentrado e ver, não somente com os olhos.
“Ver” o frio que lhe arrefecia o rosto e gelava as mãos. “Ver” a
variação da brisa que lhe diria o momento em que o bando se agitaria e
acordaria. “Ver” a intensidade do cheiro a penas húmidas e saber se estaria
perto o suficiente para fotografar com nitidez e longe o suficiente para não
alertar o grupo. “Ver” o leve chapinar da água e os sussurros dos líderes. E
ver também, mas de forma menos fiável a degradação da escala dos cinzentos da
madrugada para o colorido da manhã.
Nesse momento ele era quase invisível, fazia parte da natureza
circundante, uma mancha silenciosa, um pouco mais escura na margem. Sentia o
bater do seu coração acelerado e a respiração rápida na contagem decrescente.
Faltava pouco, tão pouco.
A água agitou-se, as sombras moveram-se e quando deu por si, já o
bando tinha levantado voo descendo o rio. Piscou os olhos tentando focar o
olhar através da lente ampliadora e disparou várias vezes procurando o último
dos últimos, o seu Amigo!
Quando mais tarde revelou as fotos, viu o desapontamento no rosto
dos que o acompanharam na tarefa, viu o embaraço e ouviu o “sinto muito”. Olhou
o resultado do seu esforço e não entendeu o desconforto dos outros.
As duas fotos:
Um rasto mais escuro no céu cinza claro da alvorada.
Uma asa prateada no canto superior da fotografia, fugindo da prisão
do papel.
Sorriu e sentiu o sol da manhã.
Texto escrito pelo meu querido Amigo Ricardo. Publicado na blogosfera, no dia 30 de Outubro de 2013. Guardei-o religiosamente. Sabia que um dia sentiria necessidade de o surpreender. Esse dia chegou.
Meu querido, tal como esperaste que o bando levantasse voo para que pudesses fotografar o teu Amigo, também eu espero, ansiosamente o teu regresso, aqui no Cantinho, para que juntos possamos sentir o sol da alegria e sorrir! :)
Nota: na impossibilidade de obter fotografias que ilustrassem este magnífico texto, retirei esta imagem daqui.
Para obedecer, minimamente, ao sentido da penúltima frase, tomei a liberdade de a recortar. Acto, pelo qual assumo inteira responsabilidade. Se o autor se sentir lesado, é favor avisar-me e retirá-la-ei.
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Bonito texto.
ResponderEliminarBom resto de dia.
Beijinho
Agradeço em nome do meu Amigo, Mena.
EliminarBeijinho, boa semana
Querida Janitamiga
ResponderEliminarParabéns para ti - por o teres publicado; parabéns também ao Ricardo por ter feito este poema que na verdade é excelente!!!!
Bjs da Raquel e qjs do teu amigo
Henrique, o Leãozão
HenriqueAmigo,
EliminarO mérito é todo do escritor do texto, um grande Amigo que escreve como poucos. Sensibilidade e bom senso, também fazem parte da beleza da escrita, aliás, eu diria que são condições essenciais a um bom escritor.
Um beijinho para a Raquel Amiga e um abraço para ti, ó Leão...zão :)
Boa noite. Fabuloso texto. Digno de um aplauso.
ResponderEliminarHoje: "Abraço a noite, namorando com as estrelas, em palavras de silêncio." Do Gil
Bjos
Noite feliz
Muito grata, Larissa.
EliminarBeijinhos e boa semana
Um e outro (Janita e Ricardo) estão de parabéns.
ResponderEliminarGrato pela partilha.
Muitíssimo grata, António.
EliminarO meu Amigo nem sabe que me atrevi a postar um texto seu. Quando ele voltar, vou ouvir um ralhete.:)
Beijinho, boa semana.
Um texto maravilhoso.
ResponderEliminarObrigada pela partilha.
Um abraço e uma boa semana
E é mesmo, Elvira.
EliminarO meu Amigo é maravilhoso em tudo.
Obrigada, um abraço e votos de excelente semana
Gostei da descrição dessa espera para fotografar a ave. :)
ResponderEliminarUma descrição fantástica, e tu, Luísa, és uma pessoa que sabe avaliar bem a qualidade de um texto. :)
EliminarBeijinho, boa semana
Bonito texto e linda foto.
ResponderEliminarGostei muito.
Bjs
Grata, Papoila, em nome do meu Amigo, pela apreciação do texto...A imagem tem lá a hiperligação.:)
EliminarBeijinhos, boa semana
Gostei muito do texto, uma excelente forma de descrever o acontecimento.
ResponderEliminarParabéns ao Ricardo e a ti por o partilhares.
Boa semana querida.
Um beijinho imenso.
Muito obrigada pelas tuas palavras amigas, Adélia.
EliminarBoa semana, querida Amiga.
Um beijinho grande.
Apreciei o texto e as fotos.
ResponderEliminarbji.
Grata pela parte que ao texto respeita, José.
EliminarE. claro, falo em nome do meu Amigo.
Um beijinho, bom resto de dia.
Entre aquilo que um fotógrafo olha
ResponderEliminaraquilo que ele vê
e ainda aquilo que a lente sente
há milhentas diferenças
entre a realidade e a imagem
acontece que a imagem mais presente
é a que perdura na nossa mente
(o texto é muito belo)
Eu diria que o que perdura são as sensações dos instantes que antecedem o acontecimento, e as palavras que registam, para a posteridade, aquilo que o fotógrafo 'Vê' com o coração, quer a fotografia fique perfeita ou imperfeita, tecnicamente.
EliminarUm abraço amigo, caro Rogério. :)
Uma perfeita maravilha.
ResponderEliminarBeijinhos, boa semana
Penso o mesmo, Pedro.
EliminarCaso contrário, nunca teria publicado o texto.
Beijinhos e votos de excelente semana.
também gostei :)
ResponderEliminarEu sei! :)
EliminarBeijinho, Laura.
Revi-me nas palavras do teu amigo Ricardo quando ele escreve "Ele sabia que fotografar não era só carregar no botão no momento certo. Era preciso estar concentrado e ver, não somente com os olhos."
ResponderEliminarQuantas e quantas vezes estamos à espera do momento certo e ele nos escapa.
Parabéns ao Ricardo e a ti por partilhares estas emoções.
Beijinhos Janita
Obrigada por este comentário tão lindo, Manu.
EliminarO Ricardo, quando vier e vir as palavras de apreço que aqui tem recebido, vai ficar sem jeito, mas no fundo, contente.
Um beijinho muito amigo e grato, Manu.
Moral da história, este é um post em que praticamente nada é da Janita. E agora como ficamos?
ResponderEliminarAgradecemos ao tal Ricardo, que nem um linquezinho teve direito?
Agradecemos ao suposto autor russo da fotografia?
Agradecemos à casamenteira Janita, por ter casado o Ricardo com o russo? Será que foi um casamento por amor?
Na dúvida, acho que é melhor agradecemos a todos. Por todos fazerem parte deste mundo da Janita!
E "prontos"! Está dito!
:-P
Remusinho...
EliminarEu não quero cá saber de moralidades.
Ficamos bem, como sempre, ora essa!!
Quando o Ricardo escrevia para um blog, usava um nick, certo? Deixou de o fazer, não tem mais blog, nem dele nem de parceria com amigos, ora diga-me lá que linquezinho é que queria ver aqui? :)
" Na dúvida, acho que é melhor agradecemos a todos. Por todos fazerem parte deste mundo da Janita!"
Não fora esta frase que me encheu a alma e adoçou o coração e a nossa amizade acabava já aqui! :)
Arre, que hoje o Remus está de candeias às avessas! Que mau feitio! Cruzes! Coitada de quem o atura...LOl
;)
Lindíssima partilha querida amiga,cá estou de volta depois de uns dias atarefados com o nascimento da minha sobrinha e afilhada Matilde ,muitos beijinhos no coração felicidades
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