quarta-feira, 9 de março de 2022

Tenórios Há Muitos.

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 (...)

A manhã vinha a romper e, com a luz do dia, a casa movimentou-se. 
Às tantas, a velha começou a afiar a faca no alguidar.
        Quê? Seria possível?! O raio da mulher teria alma de o degolar?
        Mas ele ainda a pôr o caso em teoria, e já ela a deitar-lhe as mãos.
         __ Cá-que-rá-cá!...
O filho, outra vez.  Aquele maldito filho, que a dona não depenara juntamente com os outros irmãos.

*** 

[ E lá foi o Tenório, substituído pelo frango, agora galo e, quiçá, menos vaidoso e respeitador das leis que regem os direitos individuais e colectivos, de todas as capoeiras.]

Fotos minhas

 

Como toda a gente já percebeu este galo da imagem não tem a beleza nem o mesmo brilho das penas do Tenório, o galo convencido, cheio de si, da sua importância, e extremamente vaidoso, do Conto com o mesmo nome, do livro Bichos de Miguel Torga.  Galo esse que acabaria na panela, que é onde, mais cedo ou mais tarde, acabam todos os galos, doidos, vaidosos e prepotentes. 


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31 comentários:

  1. Ora muito bem. Quando existe algum galo na minha capoeira as galinhas estão tramadas. Tadinhas. Quando cantam muito querem ir para o tacho. Mas que há galos lindos, lá isso há!
    Este estava bem era no tacho :))
    ~~
    Beijos e uma excelente noite!

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    1. Este que fotografei, ontem, tem um aspecto algo desleixado...
      Penas desalinhadas, barbela murcha, crista caída...sei não!1 :))
      Acho que já está bastante duro de roer.

      Abraço, boa noite.

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  2. Ups... bem faço eu que não quero ser galo, lol.
    .
    Cumprimentos poéticos
    .
    Pensamentos e Devaneios Poéticos
    .

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    1. Mantenha-se assim. Quem o avisa... :)

      Uma boa noite, sem cantorias.

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  3. Esse já dava um bom arroz. 😛
    Beijinhos

    Boa noite

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    1. o "Tenório" é que deve ter dado um bom arroz de cabidela...este já é demasiado duro. Talvez sirva para canja, ou nem isso. :)

      Abraço e noite tranquila.

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  4. Um galo, ou galinha, a ser dogolado é uma imagem que me impressiona, quando era miúdo ia ao mercado com a minha mãe e assistia a esses momentos.
    Um abraço.

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    1. Impressionante de verdade. Por isso é que não como arroz de cabidela. A minha saudosa Mãe torcia-lhes o pescoço. Outro horror é certo, mas menos sanguinolento.

      Um abraço, boa noite.

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    2. Eu não como galinhas, perús, coelhos, marisco.

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    3. Mas come porcos, vacas, vitelas, leitões, linguados, carapaus, robalos e...por aí fora?

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  5. Mas até chegar à panela dão muitas bicas, os fdp.
    Beijinhos

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  6. Eu inté m'arrepiei ao ver este teu texto e juro-te que entrei aqui a medo. Não que eu seja prepotente, ou vaidoso, ou doido; aparvalhado admito, mas doido não. Mas isto quando toca à degola de galináceos nunca se sabe onde vai passar o cutelo.
    Por outro lado já estou mais como o galo da foto, que se me afigura ser velho e rijo "que nem cornos", e assim já não servirá para um saboroso arroz, e mesmo para uma canjinha duvido que seja bom.
    Bom, vou-me retirar. Já se ouvem barulhos nas cozinhas, que são áreas perigosas para a "bicheza".
    Deixo-te um beijo repenicado com um sorriso (+ou-) amarelado.

    §-gosto de cabidela

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    1. Oh, amigo Kok...eu é que nem m'alimbrei que tinha um amigo galo. Eheheheh- Não, sossega, tu és pacífico e no teu galinheiro impera a paz e o respeito pelos outros galaróides que por lá aparecem. A não ser...que te façam chegar a mostarda ao nariz. Coisa que raramente acontece, diga-se em abono da verdade. O avanço da idade também amolece o coração, né?! :))

      Beijos repenicados nessas tuas faces barbadas.
      (Ou serão barbeadas?) Eheheheh

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  7. Ao contrário de muitos adoro ver e ouvir os galos! Tínhamos um quintal com uma capoeira enorme e era sempre o meu despertador. Recordo um que era bem tramado e bastava eu dizer uma asneira em Kimbundo que o tipo punha-se num desatino à minha roda como a defender-me. Este nunca foi para a panela e morreu de velho tal como o da tua foto.
    Mudando a agulha do mundo animal para o dos humanos e actual , faço minhas as tuas palavras e que assim seja:

    "Galo esse que acabaria na panela, que é onde, mais cedo ou mais tarde, acabam todos os galos, doidos, vaidosos e prepotentes."
    Beijos e um bom dia

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    1. Adoras o canto dos galos, mas não a desoras certamente. Verdade? Tenho pra mim que esse desatino do galo, quando dizias palavrões, fosse em Kimbundo ou Kimbada, era para te dar uma bicada e não o contrário. :))

      Gostei de te ver subscrevero o que penso dos GALOS DOIDOS.

      Abraços sorridentes.

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    2. Sabes Janita eu acho que o relógio biológico dos galos que cantam nas "desoras" tem muito a ver com a mudança da hora uma parvoeira que há muito deveria ter acabado Sou dos muitos seres que me afecta muito.:)

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    3. Já somos duas, Fatyly.
      Estou mortinha para que chegue a hora de Verão. Assim deveria ficar para sempre. Antigamente não havia esta mudança da hora e os nossos relógios interiores não se ressentiam. Funcionava tudo bem. Dias pequenos de Inverno e grandes no Estio.

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  8. Nota: do texto sobre o teu livro fiquei com a impressão que te induzi em erro com a frase com que iniciei o meu comentário.
    O que escrevi não foi no sentido sarcástico mas sim imaginando o teu pensamento carinhoso em presença do livro feito.
    Pronto, é isto. Beijinhos

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    1. Meu querido, fizeste bem em colocar o preto no branco, embora já me tenha passado a neura, gostei de te ver empenhado em esclarecer esse ponto. Sabes como é...mãe, perdoa tudo, menos que gozem com os seus sentimentos mais puros, ou seja, o Amor Maternal.
      Tudo fica bem quando acaba bem. :)
      Beijinhos

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  9. Gosto de os ouvir cantar, alegram a capoeira e os nossos dias.
    Fiquei a salivar, já que me lembrei duma saborosa cabibidela.

    Há certos galos vaidosos e prepotentes que deviam acabar num caldeirão.
    Beijinhos Amiga

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    1. Eu já tive «criação», como se diz no Alentejo, referindo-se a criação de galináceos. O mandante da capoeira, um belo galo, caiu na asneira de acasalar com a galinha poedeira, na minha frente. Ora eu, desconhecedora dos rituais de acasalamento dessa espécie de gadagem, fiquei escandalizada e revoltada quando o bicho agarrou a galinha à força, fincando-lhe o fico no pescoço sem lhe dar campo de escapatória. Logo ali assinou a sua sentença de morte. Não às minhas mãos, mas às mãos da senhora que me ajudava com a bicheza e o jardim, pessoa experimentada nessas matanças. Nunca mais quis galos nem nada que descenda dessas famílias.
      Sabes? Desde o cozido do Carnaval que ando enjoada de carnes.
      Hoje comi amêijoas à Bolhao Pato. Fresquinhas e vivinhas da silva.

      Beijinhos e abraços, Manu.

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  10. Fui à fonte, minha amiga Janita, devidamente calçado. Vou reler Os Bichos, especialmente, o conto Tenório. A minha edição é a 17a, encontrei-a conservada ao lado dos Contos da Montanha e dos Novos Contos da Montanha. Trouxe-o para a cabeceira e reli o prefácio e pincei essa pérola:

    "És, pois, dono como eu deste livro, e, ao cumprimentar-te à entrada dele, nem pretendo sugerir-te que o leias com a luz da imaginação acesa, nem atrair o teu olhar para a penumbra da sua simbologia. Isso não é comigo, porque nenhuma árvore explica os seus frutos, embora goste que lhos comam". [Miguel Torga. Bichos]

    Abraços, minha amiga Janita!

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    1. Que maravilha saber que o meu Amigo foi à fonte, não buscar àgua fresca, mas reler a frescura dos Contos de Miguel Torga.
      Fiquei encantada! A minha edição é a 12ª e o Prefácio creio que será o mesmo da edição do livro do José Carlos.
      O meu começa assim:

      "Querido leitor:
      São horas de te receber no portaló da minha Arca de Noé."

      (provavelmente, numa referência ao conto sobre o corvo negro de seu nome Vicente)
      Posteriormente a essa pérola que o meu amigo refere, há ainda este parágrafo, com o qual termina:
      "Saudo-te apenas nesta alegria natural, contente por ter construído uma barcaça onde a nossa condição se encontrou, e onde poderemos um dia, se quiseres, atravessar juntos o Letes, que é, como sabes, um dos cinco rios do inferno, cujas águas bebem as sombras, fazendo-as esquecer o passado.
      Teu
      Miguel Torga


      Se acaso o José carlos quiser recordar o conto do Vicente, pode relê-lo AQUI<.
      Mas sabe qual é o Bicho cujo conto mais me emocionou e comoveu?
      O touro Miúra, que também publiquei, creio que em 2010.
      A edição dos meus "Contos da Montanha" é a 11ª.

      Um grande abraço com muita Amizade.

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  11. Boa tarde
    Apesar de tudo, há garnizés que metem o galo em casa.

    JR

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    1. Claro, amigo JR...nas grandes capoeiras há galos, garnizés, galaróides e mais bicheza sem penas e rastejantes.

      Neste momento há um, ainda que mal comparado, belo e valente garnizé que mete a serpente no buraco dourado, de onde nunca deveria ter-se soltado.

      Boa tarde.

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  12. oh, mas não cada vez mais raros os galos de capoeira - pintos de aviário!(quase tudo) - apenas chiadeira!...

    (e cabidela apenas a caseira me convence)

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    1. Pode ser, caro Manuel Veiga, pode ser, mas nunca fiando.

      (também há cabidela de galináceos criados em casa?)

      Eu prefiro os de campo, caseiros são animais de estimação...

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  13. Estes contos são uma delícia!
    Vamos a ver o que acontece a esses Tenórios...

    Abraço

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    1. Eu não me canso de os reler, amiga Rosa dos Ventos.
      Qualquer conto de Torga traz o selo de garantia de qualidade. :)
      Veremos, nada começa que não tenha fim.
      Abraços.

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  14. Não conhecia o texto e me interessei em ler.
    Um galo vaidoso e atrapalhado e ou provocador.
    Em minha região nas Minas Gerais quando um galo cantava à meia noite, diziam que uma moça estava sendo roubada,rsrs.
    Sempre achei romântico o canto deles para anunciar um novo dia, isto lá no meu interior, onde eles fazem parte um prato famoso de nome Galopé, que é galo com pé de porco. Aí preciso moderação amiga.
    Uma bela partilha e apresentação da arte Toga,
    Grato.
    Beijinho e paz.

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