quinta-feira, 3 de março de 2022

POETAR COM IRONIA NÃO É PARA QUALQUER BICHO-CARETO

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Poetar com humor e ironia

Não é para qualquer bicho-careto

É preciso na intenção ser isento

Não usar a ideologia

- a torto e a direito -

Sem pejo nem qualquer acerto.

*

[ Mas o senhor, Millôr Fernandes, nesse particular, foi, é e será, o Maior.]

Imagem, Wikipédia.

                                                                  

LUTA DE CLASSES


Estava o rei lavando os pratos

Depois de enxugar os garfos.

A rainha dava tratos aos móveis

Vasculhava a sala, a copa e o salão

Deixando aos principezinhos a tarefa

De encerar o chão

Enquanto a criada na varanda

Deitada numa rede de fina contextura

Lia um livro de aventura

Quando entrou um rei vizinho

De um reinado bem maior

E bem baixinho, bem baixinho

Ofereceu à criada

Um emprego melhor.


MILLÔR FERNANDES
01/01/1949


Foto minha.
(Amanhecer em Munique)

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23 comentários:

  1. Bom dia
    Estive a pesquisar pois não conhecia este artista com múltiplas funções.
    Um poeta que se preze não tem problemas em fazer com ironia.
    Gostei desta frase: "A verdadeira amizade é aquela que nos permite falar, ao amigo, de todos os seus defeitos e de todas as nossas qualidades."

    JR

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    1. Millôr Fernandes foi um multifacetado homem das Letras, JR.
      Se clicar nas minhas Etiquetas no seu nome, poderá ver e ler outras publicações que fiz sobre MF.

      Boa noite e obrigada.

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  2. Como sempre, encantador, maravilhoso :))

    Beijos e uma boa tarde!

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    1. Um poema cheio de saudável ironia sobre as classes sociais.
      Até o termo "criada" nos diz que estavamos no século passado.

      Um abraço e uma boa noite.

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  3. Encantador de ler. Adorei!
    Beijinhos

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  4. MUDANÇAS IMUTÁVEIS
    À MANEIRA DOS CHINESES
    “Se você não consegue fugir, você é muito corajoso”

    Olin-Pin, abastado negociante de óleos e arroz, vivia numa imponente mansão em KIn-Tipê. Sua posição social e sua mansão só não eram perfeitas porque, à direita e à esquerda da propriedade, havia dois ferreiros que ferravam initerruptamente, tinindo e retinindo malhos, bigornas e ferraduras. Olin-Pin, muitas vezes sem dormir, dado o tim-pin-tin, pan-tan-pan a noite inteira resolveu chamar os dois ferreiros e ofereceu a eles 1000 ienes de compensação, para que ambos se mudassem com suas ferrarias. Os dois ferreiros acharam tentadora a proposta (um iene, na época valia mil dólares) e prometeram pensar no assunto com todo empenho. E pensaram. E com tanto empenho que, apenas dois dias depois, prevenidamente acompanhados de advogado, compareceram juntos diante de Olin-Pin. E assinaram contrato, cada um prometendo se mudar para outro lugar dentro de 24 horas. Olin-Pin pagou imediatament5e os 1000 ienes prometidos a cada e foi dormir feliz, envolvido em lençóis de seda e adorável silêncio, Mas no dia seguinte acordou sobressaltado, os ouvidos estourando com o mesmo barulho de sempre. E quando ia reclamar indignadamente pela quebra de contrato, verificou que não tinha o que reclamar. Os dois ferreiros tinham cumprido fielmente o que haviam prometido. Ambos tinham se mudado. O ferreiro da direita tinha se mudado pra esquerda, e o da esquerda tinha se mudado pra direita.

    MORAL: CUIDADO QUANDO A ESQUERDA E A DIREITA ESTÃO DE ACORDO

    Fui à minha estante e pincei o livro 100 fábulas fabulosas. Como são fabulosas, transcrevi a primeira.
    FERNANDES, Millor. 100 FÁBULAS FABULOSAS. 5.ed. Rio de Janeiro, Record, 2009.
    Abraços, minha amiga!

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    1. Realmente... Estou estupefacta com este final de génio, amigo José Carlos. Quem diria que o capitalista chinês iria ser ludibriado pelos operários da indústria de ferraria?
      (esta é a minha ilação que não tem propriamente nada a ver com esquerda e direita... volver. 😄 )
      Grande Millôr Fernandes!

      Abraços grandes, meu Amigo.

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  5. Lembro-me que no Diário Popular Millôr Fernandes tinha uma página inteira onde escrevia e desenhava, simplesmente genial.
    Um abraço.

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    1. Sim, efectivamente, o escritor colaborou em vários jornais e revistas, tanto nossos como no seu país, com as suas célebres "tirinhas" de desenhos humorísticos, quase sempre satirizando o momento político-social. Um génio, mesmo.
      Obrigada.
      Um abraço.

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  6. Conheço bem a poesia de Millôr Fernandes.
    Escolheste bem o poema, porque a luta de classes continua

    Beijinhos amiga Janita

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    1. Só que esta é uma luta sui generis, Manu. :))

      Beijinhos, Amiga.

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  7. Oi amiga
    Passando para deixar um abraço , ainda familiarizando com os contrários que não são poucos .Lá é dia , aqui noite e calor forte por lá e metida em casacos por aqui. Mas, estou feliz com a família europeia rs
    Aqui nesse nosso meio lembro bem da frase de Millor Fernandes_ 'Quão admiráveis são as pessoas que não conhecemos bem' _Que assim seja Janita , e quem sabe um dia nos admiremos de perto rsrs
    _ (já com saudade, pincelando umas manhãs de Genebra.)
    Um abraço e beijinhos

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    1. Olá, querida Lis!!
      Mitigando um pouco essa já enorme saudade, amiga?
      Fazes bem em não te afastares por demasiado tempo. Nós também já tinhamos saudades tuas.
      Millôr, sempre oportuno! Quem não conhecemos bem parecem-nos como aquele admirável mundo novo, né? Perfeitas e sem mácula.:))

      Grata pela visita, e vê se aproveitas bem a estadia aí pela Suiça porque o resto do mundo está em polvorosa.

      Beijinhos, amiga Lis.

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  8. Millôr para sempre Janita.
    Uma partilha bonita para a apresentação dele aos que não conhecem. Figura fundamental para a criação do PASQUIM (1968), que tanto trabalho deu para a Dita militar no Brasil e relendo Pasquim parece que nada mudou.
    Gostei de vê-lo aqui reverenciado com uma pérola de sua criação.
    Carinhoso abraço amiga.
    Um bom fim de semana.

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    1. De sempre e para sempre, Millôr Fernandes será o Maior, sem dúvida, amigo Toninho.
      Há coisas que são imutáveis. Umas, felizmente, outras para desdita da Humanidade.

      Muito grata por suas enriquecedoras visitas, querido amigo.
      Feliz fim-de-semana e um grande abraço meu.

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  9. Humor fino, requintado, verrinoso.
    Beijinhos, bfds

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    1. Único no seu género, Pedro.
      Grande, de pensamento e de coração.

      Beijinhos, bom fim-de-semana.

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  10. Já li muito deste grande Sir e o que mostras é prova cabal da sua poesia com imensa ironia que de facto não é para todos. Adorei!
    Não conheço Munique mas a foto está magnífica.
    Beijocas e um bom dia

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