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Ontem, ao ver na RTP1, um episódio da série "Três Mulheres" que retrata a fase algo conturbada do pós Revolução e dos seus efeitos na vida de Natália Correia, Snu Abecassis e Maria Armanda (Vera Lagoa), lembrei-me de trazer um poema sobre a Paz, escrito pelo furacão feito de fogo e de lava, que foi esta Poetisa. Mulher desempoeirada e sem papas na língua. Falo de Natália Correia, obviamente!
Natália Correia |
Ode À Paz
Pela verdade,
pelo riso, pela luz, pela beleza,
Pelas aves que voam no olhar de uma criança
Pela limpeza do vento, pelos actos de pureza,
Pela alegria, pelo vinho, pela música, pela dança,
Pela branda melodia do rumor dos regatos,
Pelo fulgor do estio, pelo azul do claro dia,
Pelas flores que esmaltam os campos,
pelo sossego dos pastos,
Pela exactidão das rosas, pela Sabedoria,
Pelas pérolas que gotejam dos olhos dos amantes,
Pelos prodígios que são verdadeiros nos sonhos,
Pelo amor, pela liberdade, pelas coisas radiantes,
Pelos aromas maduros de suaves outonos,
Pela futura manhã dos grandes transparentes,
Pelas entranhas maternas e fecundas da terra,
Pelas lágrimas das mães a quem nuvens sangrentas
Arrebatam os filhos para a torpeza da guerra,
Eu te conjuro ó paz, eu te invoco ó benigna,
Ó Santa, ó talismã contra a indústria feroz,
Com tuas mãos que abatem as bandeiras da ira,
Com o teu esconjuro da bomba e do algoz,
Abre as portas da História,
deixa
passar a Vida!
Natália Correia foi uma mulher sem tempo daí a sua poesia estar sempre actualizada.
ResponderEliminarTambém vi e relembrei aqueles tempos quentes!
Abraço
Como vejo diariamente o concurso de cultura geral, Joker, apresentado pelo Vasco Palmeirim, que só ele faz a festa, uma vezes com graça genuína, outras com palermices que me fazem rir, sigo os programas que o antecedem e são todos muito interessantes. Às 2ªs é a Fátima Campos Ferreira no "Primeira Pessoa". Esta 2º nâo vi, mas na anterior foi com o Júlio Isidro. Também costumas ver?
EliminarForam, sim senhora, tempos quentes e muito conturbados.
Foram tantos os Governos provisórios que estava a ver que nunca mais ia ter o prazer de votar...ir às urnas, como se dizia na altura. :)
Abraços!
Natália Correia não tinha papas na língua. Gostava de fazer sentir a sua opinião.
ResponderEliminarJá agora ... Maria Armanda era Falcão.
Beijinhos, Janita.
Fazer sentir a sua opinião e o seu vernáculo nas suas poesias eróticas e satíricas.
EliminarÉ mesmo... Já me tinha esquecido! O apelido da Directora do Jornal "O Diabo", era Falcão. Nome que lhe assentava como uma luva. Tinha cá um olho para descobrir escândalos...!! :))
Beijinhos, António.
Quanto bem faz um arroz doce preparado por mãos habilidosas. Mãos que sabem dosar as medidas. Ou foi a poesia de Natália Correia, este vulcão tal qual o foi Glauber Rocha? As duas se fundem, Natália e Glauber, quando atravessam a minha retina. Pincei um trecho grande de uma entrevista de Natália sobre a poesia, que calha perfeitamente, a meu ver, com a tua partilha. Eis o que ela nos diz, salvo engano, em 1963, com uma propriedade que vale por uma aula sobre o fazer poético:
ResponderEliminar“Aquilo que dentro da minha produção poética pode eventualmente definir-me, entre os poetas da minha geração, é o resultado do esforço para conquistar um espaço independente, ou seja, a minha forma particular de universalizar. Pertenço ao número dos que atribuem à poesia uma enorme responsabilidade: a de transformar o mundo. A poetização das coisas não é senão o aperfeiçoamento delas. É para isto que se faz poesia e não para com ela se fazer literatura. Os transes de ironia e de revolta que muitas vezes tecem os meus poemas, são o regurgitar de um incontinente entusiasmo por um sonegado destino de amor e liberdade que o poeta escuta ao estimular a superação das coisas e dos seres e que não vê cumprida. A luta contra o tempo gerando o sublime engendra-lhe o reverso que é a abjecção de se viver condicionalmente. Aquilo que Jaspers chama o incondicional e que emana de uma liberdade que não pode ser de outra maneira, que não é causa de leis naturais, mas o seu fundamento transcendente e que é o sublime de cada um, resulta na maior traição, porque não é dado ao homem como sua existência, mas deslumbrado num estado de superação. A luta pelo incondicional em choque com a minha condicionalidade, eis o que me parece caracterizar melhor a minha poesia”.
Muito agradecido por lembrar-me em tão boa hora a inquieta poesia de Natália Correia.
Beijinhos, minha amiga Janita!
Meu querido Amigo, não contava ter a honra e o privilégio de beneficiar, tão cedo, da sua presença.
EliminarSei que tal honra a devo à Poetisa que hoje publiquei, mas é o mesmo, qualquer que seja o tema, ler os seus comentários são sempre de uma riqueza cultural imensa.
Na verdade, a inquietação permanente que vivia em Natália Correia, fez dela uma Poetisa inigualável. Não sei se conseguiu o seu propósito de mudar o mundo através da sua poesia, mas lá que tentou, sem dúvida que sim. Pelo menos, por cá, o mundo estremeceu... :)
Todos os livres pensadores, consideram abjectas quaisquer formas de uma vida condicionada, a algo ou a alguém. No entanto, e apesar disso, Natália Correia frisa a 'sua condicionalidade'. Há um lado imponderável em todo o ser humano!
Não tenho palavras para lhe agradecer a sua vinda, meu querido Amigo.
Leve consigo a minha total consideração e grande estima.
Também, um grande e carinhoso abraço de Amizade, José Carlos.
Beijinhos.
Fazem falta na politica portuguesa actual mulheres como Natália Correia.
ResponderEliminarGostei do Ode à Paz.
Um abraço e continuação de uma boa semana.
Andarilhar
Dedais de Francisco e Idalisa
O prazer dos livros
È verdade, Francisco. As suas intervenções no Parlamento deram muito que falar. Quem não se lembra do seu poema "Truca-Truca"? Agora, anda tudo tudo muito morno.
EliminarUm abraço e obrigada.
Grande poema, bem escolhido.
ResponderEliminarUm abraço.
Fico feliz pela aprovação, Senhor das Nuvens, das aguarelas e dos belos poemas. Muito obrigada.
EliminarUm abraço
Boa tarde
ResponderEliminarÀs vezes a nossa RTP brindanos com bons programas e a Janita brindanos com bons poemas.
JR
Esta série das "Três Mulheres" passa às 4ªs feiras, se puder veja. Eu gosto. Vale a pena ver. O tal concurso JOKER também é bom.
EliminarBoa noite, JR! :)
Bom dia
EliminarSou um fiel assistente do Joker e também das ultimas séries que passaram na RTP ás quartas feiras .
Talvez um dia veja a amiga no Joker .
JR
Bom dia, JR!
EliminarParticipando em concursos televisivos é lugar onde nunca me irá ver. Tenho a certeza que, se tivesse suficiente sangue-frio, até seria capaz de me não sair mal, mas o pior é que os nervos me atraiçoariam. Mal o foco de luz dos projectores me focassem bloqueava totalmente. :) Pareço muito desinibida, mas não...sou extremamente tímida. Se estiver em grupo ainda me solto, sozinha não. Obrigada.
Inscreva-se o Joaquim. :))
Agradeço a partilha da Natália Correia e deste seu poema. Foi, sem dúvida alguma, uma mulher além do seu tempo.
ResponderEliminarTambém estou vendo essa série, de certo modo o seguimento do anteriormente publicado e que também vi. Para quem viveu esses tempos (sobretudo em Lisboa) é um reviver dos mesmos. E as 3 actrizes em cena estão excepcionais, qualquer delas. Eu tenho uma simpatia especial pela Vitória Guerra, todavia reconheço que todas têm um desempenho fortíssimo.
Beijokas e sorrisos. ê_ê
Querido amigo, sendo tu um homem atento a tudo o que se passa neste nosso rectângulo à beira-mar plantado e com uma sensibilidade apurada para a poesia, não esperava outra coisa de ti. Podes parecer alheado e indiferente, mas não és! :)
EliminarSim, os desempenhos das três actrizes fazem jus à sua fama.
Das três: Maria João Bastos, Soraia Chaves e a que mencionas, a menos conhecida - para mim - é a Victória Guerra.
Beijinhos e muita saúde, Zé!
Grande Homenagem!
ResponderEliminarUm poema que soa tão bem sendo recitado em voz alta! Obrigada
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Detalhes de uma vida de solidão...
Beijos, e uma boa noite
Olhe, Cidália, aí está uma boa ideia. Não experimentei recitar o poema, mas deve dar-lhe muito mais força, sim!
EliminarObrigada, um abraço.
A ansiada liberdade aqui exaltada pela Natália Correia.
ResponderEliminarBeijinhos, bfds
Liberdade essa, que nunca é total, Pedro...para ninguém!
EliminarUma vez mais lá fui 'pescar' o seu comentário ao spam.
Este Blogger estará a ficar caquético?!
Beijinhos, bom fim de semana
Uma grande mulher!
ResponderEliminarPoetiza e ativista ,sempre em defesa dos direitos humanos ,em particular das mulheres _ gosto dos seus poemas e esse Ode deixando a 'vida passar' é divino!
Meu abraço, Janita
... Oi ,amiga ,ainda não consegui conciliar o fuso-horário de 5 horas (dormindo e acordando cedo demais). Mais uma semana e pretendo entrar em órbita rs
EliminarOlá, querida Lis.
EliminarPara além de todos os seus predicados como Mulher, política e poetisa, enquanto Deputada, também deu que falar pelas suas polémicas intervenções na AR.
Pois é amiga, tal como os almoços, viajar nunca é de graça!!! Eheheheh... Essas diferenças de fusos horários são o preço a pagar. Logo, logo, terás as contas saldadas e tudo voltará ao normal.
Beijinhos, amiga.
( dorme quando tiveres sono e come quando tiveres fome.) :))
... sim , dormirei profundamente e também comerei do teu arroz doce (deixei lá meu parecer ://
Eliminar👍 beijinhos, Lis!🌺
EliminarA paz de hoje é tão diferente da paz de antes
ResponderEliminarPaz, nem sempre significa sossego, não é Miguel?
EliminarObrigada, um abraço.
Via muitas vezes esta grande mulher quando eu trabalhava nos Restauradores. Tinha uma garra tremenda como Deputada à Assembleia da República. Li muita coisa que escreveu, mas desconhecia este magnífico poema. Faltam mulheres como ela e desbravava caminhos que nunca muitos o fizeram. Já agora digo-te que foi autora do hino dos Açores e deixo-te o link para leres caso queiras:
ResponderEliminarhttps://portal.azores.gov.pt/web/comunicacao/hino
Beijos e um bom dia
Grande informação me dás, Fatyly!
EliminarIrei de seguida ouvir o Hino escrito pela famosa açoriana.
Também saber quem foi o autor da música. Obrigada.
Um grande beijinho.
Olha, Fatyly...adorei!
EliminarFiquei tão comovida e emocionada como quando ouço o nosso Hino Nacional. Sobretudo, quando o ouço aquando a nossa Selecção entra em campo ou quando um nosso atleta é premiado em jogos Internacionais.
Gostei tanto que não resisti a trazê-lo AQUI
Obrigada, uma vez mais! :)
Grande mulher e lutadora.
ResponderEliminarO poema é lindo e nos tempos conturbados que vivemos, faz todo o sentido. Boa escolha amiga.
Beijinhos Janita
Tudo o que dizes é bem verdade, querida Manu.
EliminarInfelizmente, as Mulheres portuguesas que se destacam no actual panorama político-artístico, parece que perderam, ou nunca tiveram, a tal garra! :(
Beijinhos, amiga.
Querida Janita, dei conta dos teus dois comentários, sim. Não sei porque um deles desapareceu, mas chegaram ambos ao meu mail. Estou viva mas nada blogueira. :). Tenho usado o meu escasso tempo livre para outras ocupações.
ResponderEliminarDeixo um beijinho.
Querida Luísa.
EliminarFiquei feliz por ter notícias tuas e saber que estás bem.
As vindas ao blog e à blogosfera, ficarão para quando a vontade de vir falar mais alto.
Um beijinho feliz por ti e muito grata pela tua atenção. :)
Lindo poema.
ResponderEliminarBeijinhos