terça-feira, 21 de março de 2023

POR DETRÁS DO HORIZONTE

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Por mim, e por vós, e por mais aquilo

que está onde as outras coisas nunca estão,

deixo o mar bravo e o céu tranquilo:

quero solidão.


Meu caminho é sem marcos nem paisagens.

E como o conheces? - me perguntarão.

- Por não ter palavras, por não ter imagens.

Nenhum inimigo e nenhum irmão.


Que procuras? - Tudo. Que desejas? - Nada.

Viajo sozinha com o meu coração.

Não ando perdida, mas desencontrada.

Levo o meu rumo na minha mão.


A memória voou da minha fronte.

Voou meu amor, minha imaginação...

Talvez eu morra antes do horizonte.

Memória, amor e o resto onde estão?


Deixo aqui meu corpo, entre o sol e a terra.

(Beijo-te, corpo meu, todo desilusão!

Estandarte triste de uma estranha guerra...)


Quero solidão.


 "Despedida" de Cecília Meireles

[ Não minha, por enquanto.]


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28 comentários:

  1. Bom dia
    São estes momentos que cada vez mais nos faz gostar do que é mais belo no mundo.

    JR

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    1. E o mais belo do mundo é...Viver!
      Boa noite amigo JR!

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  2. Linda escolha,Janita! beijos, de volta, chica

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    1. Bom regresso, querida Chica e um Outono cheio de luz e amor.
      Beijinhos

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  3. Deslumbrante de ler
    .
    Saudações poéticas.
    .

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    1. Uma grande poetisa a Cecília Meireles, sim.
      Saudações cordiais

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  4. Fiquei enlevada ao ler este poema.
    Nunca estamos sós, quando se tem um blog que mostra o que de melhor se tem, neste caso os belos versos da Cecília.
    Beijinhos Janita

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    1. Foi esse Céu fantástico que me levou à escolha deste poema, amiga Manu. No Dia em é celebrada a Poesia não poderia ser eu a escrever os versos.
      Grata, querida amiga pela tua companhia, também.
      Um beijinho.

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  5. Excelente, Cecília!
    Beijinhos, Janita.

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  6. Quando todos falam da primavera, tempo de renascimento, de esperança, tu lembras-te deste poema triste desta poetisa...
    Um grande abraço

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    1. Para aquela imagem de céu arroxeado e o isolamento que se pressente nela, só poderia ser este poema, Catarina. Fosse em que Estação do Ano fosse...
      Forte abraço

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    2. Esqueci-me de dizer que gosto muito da foto de cabeçalho! Um espanto de foto!! : ))

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    3. Olá, Catarina.
      Esta foto foi captada pelo meu filho e é uma das primeiras que ele me enviou ainda nem o Noah era nascido e moravam eles em Bussum. Quando ambos, livres de preocupações, faziam grandes passeatas de bicicleta.
      Parece-me um castelo medieval, hei-de perguntar-lhe. :)
      Grande abraço!

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  7. Tristeza não tem fim...
    Vamos lá procurar a felicidade na memória!

    Abraço

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    1. ...Felicidade sim!

      A felicidade é como a gota
      De orvalho numa pétala de flor.
      Brilha tranquila
      Depois de leve oscila
      E cai como uma lágrima de amor...

      Esta é a minha memória: Vinícius de Moraes. :)

      Abraço.

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  8. É sempre um privilégio ler Cecília Meireles.
    Bom lembrá-la neste dia de poesia.
    Abraço e saúde

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    1. Sim, mas um privilégio ao alcance de qualquer pessoa que goste de boa Poesia e disponha de Internet... :)
      Abraço e muita saúde.

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  9. Este poema de Cecília Meirelles nos possibilita um interessante estudo sobre linguagem, sobre enunciação a partir do enunciado Despedida. Neste caso, a palavra despedida traz implicitamente a ideia de um acontecimento, de uma cena, por assim vamos associando ou evocando o que se diz e o que se constrói ao dizer.. Não faltarão memória e associação... Mas deixemos de teorização, pois o melhor é trazer um poema do mesmo naipe que dialoga com o de Cecília:
    Despedida
    Eu deixarei o mundo com fúria.
    Não importa o que aparentemente aconteça,
    se docemente me retiro.
    De fato
    nesse momento
    estarão de mim se arrebatando
    raízes tão fundas
    quanto estes céus brasileiros
    Num alarido de gente e ventania
    olhos que amei
    rostos amigos tardes e verões vividos
    estarão gritando a meus ouvidos
    para que eu fique
    para que eu fique
    Não chorarei.
    Não há soluço maior que despedir-se da vida., pode ou é associada a morte
    GULLAR, Ferreira. Toda poesia. 13. ed. Rio de Janeiro: José Olympio, 2004. p.348.

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    1. Um verdadeiro privilégio é receber estes elucidativos e didácticos comentários do amigo José Carlos!! Uma honra que recebo deliciada e grata.
      Como não tenho, nas minhas prateleiras, nenhum livro do Poeta Ferreira Gullar, recorri à maior biblioteca do mundo, na procura de um que mais se identificásse comigo para lhe retribuir a gentileza. Aqui está ele:

      "Uma parte de mim
      é todo mundo:
      outra parte é ninguém:
      fundo sem fundo.

      Uma parte de mim
      é multidão:
      outra parte estranheza
      e solidão.

      Uma parte de mim
      pesa, pondera:
      outra parte delira.

      Uma parte de mim
      almoça e janta:
      outra parte
      se espanta.

      Uma parte de mim
      é permanente:
      outra parte
      se sabe de repente.

      Uma parte de mim
      é só vertigem:
      outra parte,
      linguagem.

      Traduzir uma parte
      na outra parte
      – que é uma questão
      de vida ou morte –
      será arte?"


      Beijinhos com Amizade.

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    2. https://www.youtube.com/watch?v=rG5VG_6ZtnA
      ouça se não consegue. Traduzir-se
      Aqui vão beijinhos que não deixei antes.

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    3. Amigo JCarlos, quando lhe quis retribuir a generosidade, fiquei tão eufórica com o poema de FG, que esqueci de escrever o título: Traduzir-se.
      Adorei ouvi-lo agora, cantado na bonita voz da Adriana Calcanhotto.
      Novamente, e seguindo a linha de que Amor com Amor se paga, pois com mais nada se pode pagar, trago-lhe AQUI - é só clicar - o próprio poeta Ferreira Gullar a contar-nos como nasceu este poema, ou seja, o espanto de saber como o espanto gera Poesia... :)

      Beijinhos, também.

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  10. Vim até aqui e saio em silêncio para não perturbar os poetas!

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    1. Os Poetas que são, e sabem ser, Poetas, não se deixam perturbar por gente que se acerca sem maldade no coração.
      Esteja à sua vontade. Será sempre benvindo! :)

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  11. Solidão só por alguns momentos.
    Também é preciso.
    Mas pouco.
    Beijinhos

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    1. Claro, Pedro! Isolarmo-nos, de quando em vez, para reflectir na vida e na melhor forma de estar em paz connosco e com os outros é fundamental. Viver qual eremita, isso não. Nem eu aguentaria. Creio que a maneira como convivo por aqui já lhe deve ter dado uma ideia de que «não sei viver apenas por mim e para mim». :)
      Beijinhos.

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  12. Viajar com Cecília é sempre uma busca do incompreendido, um dissecar da solidão enraizada. Cecília é um prato cheio para os poetas.
    O Dia Mundial da poesia com Cecília.
    Gostei amiga.
    Beijo e paz

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    1. O Brasil é um país rico de bons Poetas. Um manancial para os apreciadores de boa Poesia, se bem que Portugal tenha sido o berço do maior de todos: Luís Vaz de Camões. :)
      Grata por ter vindo, Poeta Toninho!

      Um forte abraço.

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