terça-feira, 19 de janeiro de 2021

Um Soneto Por Semana. # 12


 "PRÓ PUDOR"


Todas as noites ela me cingia

Nos braços, com brandura gasalhosa

Todas as noites eu adormecia,

Sentindo-a desleixada e langorosa.


Todas as noites uma fantasia

Lhe emanava da fronte imaginosa

Todas as noites tinha uma mania,

Aquela concepção vertiginosa.


Agora, há quase um mês, modernamente,

Ela tinha um furor dos mais soturnos,

Furor original, impertinente...


Todas as noites ela, ah! sordidez!

Descalçava-me as botas, os coturnos,

E fazia-me cócegas nos pés...


Cesário Verde.

1855 - 1886

 


😊  😉  😂

=================================

44 comentários:

  1. rssssssss...Que furor estranho esse,rs..Adorei a poesia! Lindo dia pra ti! bjs, chica

    ResponderEliminar
    Respostas
    1. Se fosse agora, em que tudo tem uma denominação, dir-se-ia tratar-se de um fetiche, Chica. 😊

      Por aqui o tempo já mudou de feição. Prevê-se temporal para o resto da semana.

      Beijinhos e desfruta do teu verão tropical, amiga.

      Eliminar
  2. AMO a poesia de CESÁRIO VERDE desde a adolescência, recitando de cor quase toda a sua obra, aliás bem pequena.

    ResponderEliminar
    Respostas
    1. Teresa.

      Se não foi editado mais nenhum livro do Poeta, penso não errar se disser que este exemplar que possuo, "O Livro de Cesário Verde", editado a título póstumo, com o riquíssimo Prefácio do seu amigo Silva Pinto, a partir de várias obras dispersas é o único que foi comercializado. Esta minha edição é bastante antiga, basta dizer que é uma edição de bolso das Edições Europa-América.
      Na sua nota introdutória, entre muitas outras coisas, reza isto:

      (...)
      Apesar de não ter vivido o tempo suficiente para nos deixar um espólio literário considerável, Cesário permanece, talvez até por isso, como um caso ímpar na geração de realistas e parnasianos, sem antecedentes, nem continuadores.


      A bem da verdade, devo acrescentar que este poema que hoje publico, não se encontra neste meu exemplar, pelo que não me admiraria nada se desde 1901, altura em que foi feita a colectânea, tivesse aparecido mais algum poema de Cesário Verde e, posteriormente, inserido em outras edições.

      Para mim, "O SENTIMENTO D'UM OCIDENTAL" que o Poeta dedicou a Guerra Junqueiro é a sua coroa de glória. Numa vida de apenas trinta e um anos, couberam valiosíssimas pérolas poéticas.

      Um abraço.

      Eliminar
  3. Gostei deste poema, é sempre um prazer ler Cesário Verde.
    Os pezinhos a mexer são para aquecer?
    Está um frio de rachar aqui para os meus lados.
    Beijinhos Janita

    ResponderEliminar
    Respostas
    1. Eheheheh...Os pezinhos a mexer foi a imagem que encontrei e mais se pareceu com a ideia das cócegas citadas pelo poeta, Manu. Repara que eu - sádica, pá - até coloquei em baixo, uma pena para cada um dos visitantes se entreter a torturar o poeta!! 😂
      Como hoje vesti um camisolão grosso, ainda não senti muito frio. O vento já assobia...

      Beijinhos, Manu!

      Eliminar
    2. Só depois de fazer o comentário me lembrei da pena a fazer cócegas nos pés. Tu és danadinha🤣

      Eliminar
  4. Já aqui alguém falou de 'fetiche'. Já D. Afonso Henriques tinha essa preferência bem acentuada. Dizem, que eu cá não sou de intrigas.
    Beijinho, Janita

    ResponderEliminar
    Respostas
    1. Tu nem me digas uma coisa dessas, António!
      Então, o homem para além de enganar o primo ainda era dado a fetiches? Pronto, deixa lá, ninguém ouviu e eu não conto nada.

      Beijinhos e uma boa noite, amigo Repórter.

      Eliminar
  5. Lol, maravilhoso poema!! :))
    *
    Já não escuto...
    *
    Beijo, e uma excelente tarde. :)

    ResponderEliminar
    Respostas
    1. Sabe, Cidália? Os poetas do século XIX eram muito dados a certas excentricidades amorosas. Viviam para amar e sonhar...Coisa que os de agora pouco fazem! :))

      Beijinhos.

      Eliminar
  6. Não conhecia (o que é normal) o poema.
    bjis.

    ResponderEliminar
    Respostas
    1. Amigo José, já voltei à Zorra e estive a ouvir a Nara e a Elis.
      Muito bom. Gostei de recordar.

      Um beijinho.

      Eliminar
  7. Janita, amiga, como soubeste que eu estava a precisar de rir (;

    É sempre um prazer ler a poesia de Cesário Verde.
    Agora, cócegas nos pés pode ser um prazer ou uma tortura, depende de quem os faz e obviamente de quem as recebe (:

    beijinhos

    ResponderEliminar
    Respostas
    1. Ah, Fê...Precisamos todos de um pouco mais de alegria nas nossas vidas. Se não não aguentamos este cativeiro e ainda entramos todos em depressão.

      Um beijinho para ti e vê lá se te animas.

      Eliminar
  8. É, não tem cheiro ruim, não.
    Um beijão e boa tarde. (risos)

    ResponderEliminar
    Respostas
    1. Ah, não, aqui não entram maus cheiros, amigo SilvioAfonso. Nem pensar! Vou colocá-lo ali ma minha lista para o visitar também.
      Obrigada pelas visitas.

      Um abraço e uma boa noite.

      Eliminar
  9. Sensual, glamoroso, lindíssimo de ler.
    .
    Pensamentos e Devaneios Poéticos
    .
    Saudações poéticas

    ResponderEliminar
    Respostas
    1. Sensualidade e glamour nunca são demais, Caro Rycardo. :)

      Saudações e o meu agradecimento.

      Eliminar
  10. Hehehe... Um poema surpreendente, para nos animar nestes tempos de desgraça.

    ResponderEliminar
    Respostas
    1. O final é tão surpreendente que resolvi alinhar e seguir com a surpresa, Luísa! :)

      Beijinhos.

      Eliminar
  11. E é pelos pés que começa sempre qualquer história
    😂

    ResponderEliminar
    Respostas
    1. Pode crer, Miguel.
      Outras há, que acabam levando com os pés. 😉

      Grata por ter vindo ler e rir comigo. 😂
      😂

      Eliminar
  12. E assim descobriu-se pelos pés a arte de amar.
    Uma bela partilha Janita um soneto por semana
    numa bela escolha.
    Semana que flui bela e leve para você.
    Bjo amiga

    ResponderEliminar
    Respostas
    1. Uma arte tão especial que tem tanto que se lhe diga, Toninho...

      Que a sua semana seja serena e harmoniosa.

      Um abraço amigo.

      Eliminar
  13. Não gosto de ver imagens de pés. Geralmente são horríveis!
    Quanto ao Cesário, já todos disseram tudo e eu concordo!

    ResponderEliminar
    Respostas
    1. UmaMaria.
      Às vezes és tão esquisita que me fazes lembrar a minha amiga Mena, que me dizia sempre não gostar de nada, mas aquilo era só para me contrariar. Uma marota de quem tenho muitas saudades.
      Se a vires por aí, dá-lhe um abraço meu.

      Eliminar
    2. Ó Janita, isto não é para contrariar ninguém. É aquilo que eu penso! E aposto que há mais pessoas como eu....só não querem é contrariar a opinião dos outros. E querem agradar....
      Beijinhos

      Eliminar
  14. Eu ando a sentir cócegas no sistema nervoso.
    Beijinhos

    ResponderEliminar
    Respostas
    1. Ah, Pedro...para acabar com esse tipo de cócegas, só numa consulta de neurologia.

      Beijinhos.

      Eliminar
  15. Com um poema assim, um par de pés descalços e uma pena de ave, tu nem imaginas por onde a minha mente divagou: a pena começou pelos pés e seguio caminho percorrendo tudo o que é possível percorrer com uma pena, numa sucessão de risos, ais e gemidos e demais manifestações de prazeres e contentamentos.
    Agradeço-te por teres partilhado este poema de Cesário Verde e a minha imaginaçõn fica imensamente reconhecida por teres incluído uns pés nus e uma pena de pássaro.
    Beijinhos ;))

    ResponderEliminar
    Respostas
    1. Risos, ais e gemidos, uma pena de pássaro, e aí vais tu, louco,
      imaginando sei lá o quê. Imagina à vontade... valha-nos a imaginação nestes dias de prisão. 🤩

      Não há nada para agradecer, eu é que te agradeço os sorrisos que me vais pondo no rosto.😊 😊



      Beijinhos e abraços.

      Eliminar
  16. :))
    Aplaudo, sem restrições. :)
    Ah, grande Cesário!

    Um beijinho, Janita :)

    ResponderEliminar
    Respostas
    1. AC, ainda que vieste. É que não estou a conseguir comentar em blogues que não permitam anónimos, uma vez que não me foi possível comentar com a minha conta no teu blogue. E olha, que tentei por várias vezes. Gostei muito da 'lengalemga' que dedicaste ao teu neto Miguel. Fiquei com imensa pena de não ter participado.

      Um beijinho para ti e para ele.
      Ah, e obrigada por teres vindo. :))

      Eliminar
  17. A Fê incentivou-me ao soneto
    Agora é Cesário Verde a fazê-lo
    Amanhã tento
    Hoje já não terei tempo

    (que pena não ter vindo mais cedo!)

    ResponderEliminar
    Respostas
    1. Pois é, Rogério.
      Valores mais altos se têm levantado, né?
      Eu compreendo.
      «Nunca chega atrasado quem sempre chega». :)

      Um abraço.

      Eliminar
  18. Um poema no estilo bem clássico. Muito bonito.

    ResponderEliminar
    Respostas
    1. Olá,
      ainda bem que gostou deste estilo. Eu adoro, só tenho pena de ter desistido, mas um dia volto a tentar.
      Obrigada, Menino Beija-Flor.

      Eliminar
  19. Já publiquei também o poeta Cesário Verde. E faz um tempinho que não leio .Obrigada por me fazer lembrar dele com esse poema cheio de sentimento.
    Ahh e queria lembrar de te dizer que gostei de ler que cantas umas musiquinhas brasileiras, e com sotaque rsrs ou mesmo quando cita alguma. Fico contente por gostares e sempre com bom gosto.
    beijinho, Janita

    ResponderEliminar